19/04/2024

Une nuit à Rome - Ciclo I

Loucas promessas de juventude

Até onde teríamos de ir se decidíssemos nos cumprir todas as promessas loucas feitas na adolescência/juventude?
Une nuit à Rome(-nos um)a resposta.

Rafael não sabe se foge da sua vida presente, da relação estável com Sophie que lhe custa o abandono das loucuras adolescentes prolongadas nos anos seguintes ou se na verdade procura alguma coisa nas recordações de tempos conturbados mas felizes - ou assim recordados nas armadilhas em que a memória é fértil.

Na bagagem - como quase todos nós - a par de um enorme sentimento de culpa, traz também todas as dúvidas do mundo, tendo apesar de tudo a esperança de encontrar a felicidade... seja lá isso o que for.

Na juventude, Marie foi uma paixão arrebatadora e descontrolada, daquelas que só aparecem uma vez na vida - em algumas vidas... - construída de zangas e reconciliações ardentes, uma paixão que durou um par de anos e que estava, não esquecida, mas guardada nas memórias de Rafael... Aque dois dias antes de completar 40 anos, recebeu uma cassete VHS (literalmente...) com uma promessa gravada duas décadas atrás: encontrar-se com Marie, na noite dos seus 40 anos, num hotel em Roma.

Rafael fica perdido, sem saber se cumprirá aquela decisão, louca e apaixonada, ou se vai manter a sua vida equilibrada e responsável, ao lado de Sofia.

Inevitavelmente - ou não haveria história - a decisão vai ser voar para Roma à última da hora e reencontrar Marie. Depois de acalmada a fome dos respectivos corpos, o resto, o peso da idade, as decisões tomadas, o que foi deixado para trás, o que (lhes) aconteceu ao longo daqueles 20 anos, os pedaços de vidas que tiveram lugar, o que ambos mudaram, crescendo ou não, os rumos que buscaram ou a vida lhes impôs, vem ao de cima e obriga a repensar tudo.

Com uma ideia base desafiadora, é da gestão das emoções à flor da pele, do sabor dos lábios e da boca de um e de outro, que Jim - presença recorrente aqui no blog e um dos autores que me obrigo a seguir - vai fazendo a gestão da sua história, demonstrando, mais uma vez, ser um excelente contador de histórias e, acima de tudo, um soberbo leitor da alma, do coração e da mente humanos, trabalhando lembranças, recordações, paixões, desejos, culpas e remorsos, de uma forma tocante, terna também, realista e afinal incómoda, porque a certa altura do relato sentimo-nos a torcer pelo que noutras situações poderia ser ética ou moralmente errado.

Tudo isto servido por um belíssimo traço realista, sensual e provocador e por cores quentes, do autor com Delphine, que aumentam o desejo do leitor... prosseguir com uma leitura, cativante e arrebatadora, que dificilmente se abandona antes do final.

Em suma - e como eu gosto pouco de resumir assim o que só pode ser fruído pela leitura integral - esta é uma história humana sobre escolhas e decisões e de como elas afetam a nossa vida, mostrando que se podemos ser senhores do nosso destino, raramente temos consciência disso e conseguimos agir em conformidade.


Nota final

Se realmente este díptico corresponde a uma história fechada e por isso está identificado acima como ciclo I, a verdade é que Jim já regressou a Rafael e Maria, em novo díptico que já está na (imensa) pilha de leituras que tenho por fazer...


Une nuit à Rome - Livre 1 e 2
Jim
Bamboo/selo Grand Angle
França, 2012/2013
217 x 300 mm, 104+112 p., cor, capa dura
19,90€ (cada)

(imagens disponibilizadas pela Bamboo; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)

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