08/09/2010

Libérale Attitude

Pluttark (argumento e desenho)
Fluide Glacial (França, Agosto de 2010)
225 x 288 mm, 48 p., cor, cartonado


Resumo

Se é uma (triste) verdade que a economia só é divertida para os bancos, alguns gestores e outros tantos políticos, e que temas tão áridos e mal sonantes como crise económica, inflação, impostos ou juros geralmente causam arrepios ao comum dos mortais, este álbum prova que, apesar de tudo, eles até têm um lado divertido e que a crise (afinal) tem solução.

Desenvolvimento
Ou melhor, várias soluções, ou vários caminhos (complementares) para chegar à solução final (por muito mal que esta expressão soe…).
E são esses caminhos, a sua sugestão pelo menos, que Pluttark nos apresenta ao longo de quase cinco dezenas de páginas, ocupadas por gags de vinheta única, tiras subordinadas ao tema « 100 ideias para vencer a crise » ou bandas desenhadas curtas, que transpiram criatividade e imaginação. Talvez – de certeza ! – de uma forma (muito) cínica e politicamente incorrecta, é verdade, mas, parafraseando alguém, « grandes problemas implicam grandes soluções »… Por isso, conceitos como produtividade, liberalismo, consumismo, desumanização ou mão-de-obra, são levados ao extremo, empurrados até ao absurdo, esticados até aos limites, embora o ponto de partida seja um simples debate de ideias.
E que ideias ! Porque em « Libérale attitude » podemos encontrar um (pobre) gestor em greve pelo direito à isenção de impostos e a um iate livre de encargos ; descobrir as vantagens da mão de obra barata (quase escrava…), que culminam na possibilidade de utilização dos cadáveres dos empregados como fertilizantes orgânicos « 100% biológicos » ; analisar a sugestão do aumento dos dias da semana para incrementar a produtividade ; encarar a hipótese da redução substancial da idade legal para trabalhar (para algo como os 4 anos de idade… ou menos se as criancinhas forem grandes e fortes) para fazer concorrência aos países pobres.
Concursos televisivos, marketing ou protecção de espécies protegidas são outros temas analisados à (fraca) luz da (fraca) realidade económica, descobrindo o autor, em cada um deles, com humor negro e sarcasmo, novas soluções para sairmos do buraco em que nos meteram.
Servido por cores lisas, o traço base é simples e ligeiro, quase só veículo acessório para dar corpo às ideias peregrinas (serão ?) que Pluttark sugere mas que por vezes resultam bem assustadoras pela colagem à realidade que revelam.

07/09/2010

Beetle Bailey: 60 anos de inépcia militar

Há 60 anos, Beetle Bailey, eterno recruta, estreava-se numa dúzia de jornais mas o seu criador estava longe de imaginar o seu sucesso e de como este dependeria da sua estreita relação com o exército norte-americano.
Símbolo por excelência da preguiça – “não faças amanhã, o que podes deixar para depois de amanhã”, poderia ser o seu lema tal como “se sentires vontade de trabalhar, deita-te e espera que passe” – e de uma contestação suave e desarmante ao autoritarismo da instituição militar, Bailey (em Portugal mais conhecido como Recruta Zero) sobrevive até hoje, sendo publicado diariamente em centenas de jornais por todo o mundo.
Para o seu progenitor, Mort Walker, nascido a 3 de Setembro de 1923, em El Dorado, no Kansas, desenhar cartoons sempre foi algo tão natural como comer ou beber. Por isso publicou o primeiro desenho no jornal escolar aos 10 anos, vendeu o primeiro cartoon aos 11, criou a primeira série regular – “Limejuicers” – aos 13, tornou-se cartoonista profissional aos 15, dirigiu a primeira revista aos 18 (e criou durante a sua carreira outras séries famosas, como “Hi & Lois”, “Boner’s Ark” ou “Betty Boop and Felix”). Em 1948, após cumprir o serviço militar na II Guerra Mundial (“quatro anos de pesquisa”, dizia ele) e terminar a sua formação universitária, mudou-se para Nova Iorque, onde viu recusados cerca de 200 cartoons, antes de conseguir emprego como editor de quatro títulos na Dell Publishing Company.
Em 1950, cansado do excesso de trabalho e do baixo salário decidiu reciclar Spider, um jovem desengonçado e desleixado, com olhos pequenos e que fumava cachimbo, que era personagem recorrente dos seus gags, tornando-o protagonista de uma tira diária, em meio universitário, entre colegas, miúdas e professores. A King Features aprovou o projecto, embora mudando o título para Beetle Bailey.
A estreia da tira diária foi modesta, apenas numa dúzia de jornais, que tinham aumentado para o dobro ao fim de seis meses, número insuficiente para justificar a sua manutenção, ao fim de um ano de existência, não tivesse a realidade influenciado a ficção. É que a 25 de Junho desse ano, tinha-se iniciado a Guerra da Coreia, o que veio a introduzir um ponto de viragem na vida de Bailey que a 13 de Março de 1951 se alistou para servir no exército norte-americano, vivendo nos quadradinhos da tira de jornal o que experimentavam os seus pares do mundo real.
Destacado para o Camp Swampy (pantanoso), o novo recruta, de quem os quadradinhos nunca mostraram os olhos, sempre sob um chapéu ou boné, viu recrudescer a sua preguiça e demonstrou a maior inépcia para a vida militar, originando as maiores confusões e tornando-se no alvo preferencial do colérico (mas sentimental) Sargento Orville Snorkel. Da sua vida anterior, levou apenas a namorada, destacando-se na nova galeria persona-gens como “Killer” Diller, um mulhe-rengo, Otto, o cão antropo-mórfico de Snorkell, ou o General Amos Halftrack, caquéctico, alcoólico mais interessado no golfe e na (bela) secretária do que nas suas atribuições.
Com eles, demonstrando um enorme sentido de humor, especial predilecção por gags puramente visuais e uma invulgar capacidade de (re)inventar situações, pondo constantemente em causa a autoridade militar, Walker transformou Beetle Bailey num grande sucesso, difundido por centenas de jornais, entre os quais o próprio “Star & Strips”, órgão oficial do exército.
Com o final da guerra, uma tentativa de regresso à vida civil do recruta foi imediatamente rejeitada, provocando inclusive centenas de cartas de protesto por parte dos leitores e condenando Bailey, que também já protagonizava uma prancha dominical colorida desde 14 de Setembro de 1952, a uma eterna vida militar, se é que assim se pode designar o seu desempenho, para gáudio dos seus leitores, que se foram renovando ao longo dos anos.
Com a vida no exército como tema, Beetle Bailey foi sempre uma fonte de polémica. A primeira, significativa, surgiu no final da guerra da Coreia, quando o novo responsável do “Star & Strips”decidiu suspender a sua publicação, considerando-a atentatória da moral (?!) e má para a disciplina do exército, o que incendiou a imprensa em defesa da série.
Quase 20 anos depois, em 1970, a situação repetiu-se quando Walker, apesar da oposição da distribuidora, introduziu um oficial negro, o tenente Flap, sendo acusado pelos negros de os estereotipar e pelos brancos de proselitismo, numa época em que o racismo era uma realidade nos EUA.
Em 1997, as atenções constantes do general Halftrack em relação à sua sedutora secretária, a bela Miss Sheila Buxley, criada em 1982, levaram os movimentos feministas a acusar o autor de promover o assédio sexual.
Em todos estes momentos, após pousar a poeira das críticas, a série saiu sempre reforçada junto do público e incrementou a sua difusão nos jornais.
E a verdade é que o próprio Exército dos EUA, apesar de tudo, se mostrou grato pela sua criação, atribuindo a Mort Walker no ano 2000 a mais alta condecoração com que é possível distinguir um civil.
O sucesso da tira (que em Portugal passou pelo jornal A Capital nos anos 70, bem como por diversas revistas, para além das versões brasileiras que chegavam aos nossos quiosques) originou duas adaptações animadas na televisão, em 1963 e em 1994, inúmeras publicações em revistas e livros, uma homenagem em forma de selo pelos correios norte-americanos, já este ano (o que foi referenciado na própria tira), e rendeu inúmeros prémios a Mort Walker, que desde os anos 80 foi assistido pelo seu filho Greg, actualmente responsável pela série.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Setembro de 2010)

06/09/2010

Futuro dos quadradinhos passa pelo digital?

Nascida há pouco mais de um século, com o advento da imprensa, a banda desenhada dá agora os primeiros passos nos novos suportes digitais, que alguns anunciam como o seu futuro.
“Oficiosamente”, a banda desenhada nasceu a 25 de Outubro de 1896. A data assinalava o primeiro balão de texto do The Yellow Kid, de Richard F. Outcault, e também a sua massificação pela imprensa. Para a escolha dessa data, por um grupo de especialistas, entre os quais Vasco Granja, reunidos em Lucca, em 1989, pesou também a proximidade dos seus primeiros 100 anos. E, pode dizer-se, nasceu para ser lida em papel, primeiro nos jornais, depois em revistas, mais recentemente em álbuns e livros.
Mas, com o advento das novas tecnologias, a BD também as tem experimentado, a diversos níveis. Através da leitura directa em ecrãs (área em que se têm multiplicado os scanners piratas que as editoras combatem cada vez mais ferozmente) ou tendo a internet já como suporte original, como forma de combater as dificuldades relacionadas com a edição, o lançamento de novos autores e a distribuição dos livros. O que, por exemplo, popularizou o formato geralmente designado como “italiano” (horizontal), mais próximo das medidas dos ecrãs tradicionais.
Isto, segundo alguns (saudosistas?), retira aos quadradinhos características fundamentais: a textura do papel, o cheiro da tinta, o peso físico do objecto livro, a facilidade de avançar e recuar voltando as páginas, a possibilidade de apreciar uma página inteira ou mesmo páginas duplas… Ou, indo mais longe, tornando impossível as edições de luxo e as tiragens limitadas, tão ao gosto dos coleccionadores. Do outro lado da barricada, apontam-se como vantagens a diminuição radical do espaço de arrumação dos livros impressos, a diminuição do papel gasto e a consequente preservação das florestas ou a facilidade de transporte das obras.
Com o crescendo da aposta das editoras neste formato, as ferramentas informáticas têm sido utilizadas para aproximar os quadradinhos digitais do formato original (“virar” das páginas) ou acrescentar-lhes algo no novo suporte (ampliação de vinhetas ou animações limitadas, os designados “motion comics”).
Por isso, cada vez mais, é possível aceder online a excertos de obras novas, a títulos esgotadas ou difíceis de encontrar e mesmo a novas edições. Gratuitamente, alugando por períodos mais ou menos limitados, por assinatura ou pagando o título desejado. Mas sempre num nível (ainda com muito de) experimental e de teste a um mercado que para já é apenas potencial. E que ainda possui muitas limitações: o aluguer não garante propriedade, uma falha de sistema pode significar a perda da “biblioteca”, o fecho ou mudança do site vendedor também…
Actualmente, a facilidade de acesso a leitores como o iPad, Kindle, iPod, iPhone, Courier (e às suas muitas potencialidades) abre novas portas. Ou não, como o confirma o facto de em Junho último um dos mais importantes operadores franceses de comics digitais ter vendido apenas cinco títulos…
Mas os sinais de que o novo suporte veio para ficar (quanto mais não seja para servir a geração vindoura já “nascida” a ler digitalmente…) multiplicam-se, tal como as aplicações que os suportam: ComiXology, iVerse, BD Touch. Recentemente, a Marvel lançou pela primeira vez em simultâneo um comic – do Homem de Ferro - em versão papel e digital. A DC Comics anunciou em grandes parangonas a entrada no mundo virtual; outras editoras, como as igualmente norte-americanas IDW, Dark Horse ou Aspen, dão também passos firmes nesse sentido. Na Europa, o panorama não é muito diferente: a Soleil e os Humanoides Associèes têm já on-line o seu catálogo na DigiBidi, enquanto que a Casterman, a Dupuis, a Dargaud, a Lombard e a Fluide Glacial criaram a Izneo onde têm distribuído (também) desta forma alguns dos seus títulos mais chamativos. Questões como o preço da versão digital relativamente à de papel ou os pagamentos aos autores, são outros pontos – não pacíficos – que aguardam resolução.
Por isso, sendo tantas as questões e dúvidas e ainda tão poucas as respostas e esclarecimentos, para terminar parece ajustado um modelo que foi recorrente no tempo das revistas (em papel) de histórias aos quadradinhos: (continua).
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Agosto de 2010)

03/09/2010

Cathy, o fim aos 34 anos


Cathy, a neurótica protagonista da tira diária de imprensa com o seu nome, viverá os seus últimos quadradinhos no próximo dia 3 de Outubro, após 34 anos de publicação ininterrupta.
Estreada em Novembro de 1976, esta banda desenhada que chegou a ser publicada diariamente em 1400 jornais e conquistou um Prémio Reuben em 1992, atribuído pela National Cartoonists Society, destacou-se desde logo por ser escrita e desenhada por uma mulher – Cathy Guisewite – e por ter como base algumas das questões que preocupam (especialmente) o belo sexo – aspecto, dietas, relações, trabalho - abordadas de um ponto de vista especificamente feminino.
Ao longo das suas tiras e pranchas dominicais, Cathy, uma mulher solteira, trintona, anafada, independente, neurótica, explorada no trabalho, insegura quanto ao sexo oposto, dividida entre a vontade de comer e a necessidade de dietas que não consegue cumprir, com dificuldades em aceitar o proteccionismo dos pais e as semelhanças com a mãe, divertiu gerações de leitoras, com quem partilhou diariamente as suas desventuras com Irving (namorado, ex-namorado, outra vez namorado e, finalmente, marido), os pais, os colegas de trabalho, o chefe prepotente ou a sua cadela.
Agora, mais de três décadas depois, a autora, nascida no Ohio, a 5 de Setembro de 1950, decidiu pôr fim a esta aventura gráfica, para se dedicar à família. Às fãs de Cathy - e aos fãs também – resta-lhes reler as muitas colectâneas, cronológicas ou temáticas, existentes, das quais mais de duas dezenas foram editadas em português pela Gradiva, com títulos sugestivos como “Pernas elegantes nem daqui a 30 anos”, “Os homens deviam vir com manual de instruções” ou “Melhor que chocolate só mesmo um par de sapatos novos”.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Agosto de 2010)

02/09/2010

Leituras ASA de Setembro

Lista dos títulos previstos pelas Edições ASA para o mês de Setembro:

Happy Sex
Zep (argumento e desenho)

Com um humor cúmplice e irónico, este álbum evoca o nosso tempo, com pranchas muito divertidas, especialmente aquelas que dizem respeito às situações do dia-a-dia que, sem caírem na vulgaridade, abordam temas como as imperfeições do corpo, as obsessões e a gestão da vida sexual… sem nos esconder absolutamente nada!
O grafismo de Zep juntamente com as cores pastel que utilizou, permitem mostrar o corpo humano com humor, pondo a nu as excentricidades e os comportamentos sexuais mais hilariantes!

Adèle Blanc-sec , vol. 1
(inclui os álbuns “Adèle e o Monstro” e “O Demónio da Torre Eiffel”
Jacques Tardi (argumento e desenho)
Esta série decorre nos inícios do séc. XX. Uma época de grandes feitos tecnológicos e avanços científicos, onde tudo é possível. Uma época na qual ciência e misticismo andam de mãos dadas, em busca de um futuro melhor para a humanidade…
É neste contexto que têm lugar as extraordinárias aventuras de Adèle Blanc-sec; no primeiro volume, assistimos à eclosão de um ovo de pterodáctilo que levará à revelação de seitas diabólicas que ameaçam Paris…

Spirou e Fantásio #51 – A invasão dos Zorcons
Vehlmann (argumento)
Yoann (desenho)

Edição com capa exclusiva para a FNAC disponível a partir de 3 de Setembro
O célebre sábio Pacómio passa tranquilamente os dias no seu Castelo… Enquanto se dedica às suas experiências, o nosso amigo micólogo recebe a intrigante visita de um Zorglub que se apresenta mais altivo do que nunca… Mas o que pensar do comportamento do Conde que confunde o seu famoso rival com um simples canalizador? Será que Zorglub preparou minuciosamente todas as catástrofes que estão prestes a ocorrer?
Com a edição deste álbum, assistimos ao regresso de um mítico duo da banda desenhada humorística a uma selva insólita, infestada de criaturas inquietantes…


Blacksad - O inferno, o silêncio
Dias Canales (argumento)
Juan Guarnido (desenho)


(álbum a lançar dia 17, em simultâneo com a edição original francesa)



As Aventuras de Tintin
Hergé (argumento e desenho)
(nova tradução e novo formato: 160 x 220 mm)
PVP: € 8,90


Tintin no país dos sovietes
Tintin vai à Rússia fazer uma reportagem para o jornal, mas vários homens tentam impedi-lo para que não revele a verdadeira realidade russa.
Originalmente publicado num suplemento juvenil, esta história foi retirada de circulação por Hergé a partir dos anos 30 e só em 1973 voltou a ser publicada, tornando-se num “best-seller”. Livro onde o regime comunista e os comunistas são retratados como vilões, o que gerou controvérsia.
É o único livro de Tintin a preto e branco

Tintin no Congo
Tintin é enviado para o Congo, colónia belga na época. Por uma série de peripécias acaba por entrar em confronto com um bando de gangsters que controlam a produção de diamantes…
Esta história foi publicada inicialmente no suplemento juvenil e depois em álbum a preto e branco.
Em 1946, Hergé redesenhou a história alterando a ideologia colonialista do álbum, deu-lhe cor e alterou os diálogos.

Tintin na América
Tintin parte para a América durante o período da lei seca. Em Chicago é raptado por gangsters, cujo chefe é Al Capone, que o consideram perigoso. Após escapar e ser de novo perseguido, acaba por encontrar os peles-vermelhas…
Este álbum é considerado um dos mais fantasistas e infantis. Hérge quis centralizar a história nos índios da América, que o fascinavam.

Os Charutos do Faraó
Tintin está a fazer um cruzeiro com destino ao Extremo Oriente, quando encontra um egiptólogo extravagante que procura a tumba de um faraó. Ao decidir acompanhá-lo é capturado e após várias peripécias chega à Índia, onde desmonta uma organização de traficantes de ópio…
Álbum inicialmente publicado a preto e branco, foi o último a ser colorido, em 1955. Este álbum surgiu 12 anos após a descoberta do túmulo de Tutankhamon.

O Lótus Azul
Um mensageiro da China, que se iria encontrar com Tintin, é atingido por uma flecha envenenada com o veneno da loucura, dando-lhe apenas tempo para pronunciar o nome Mitsuhirato. Tintin parte em busca deste individuo desconhecido, o que o leva até à Índia e à China…
Publicado em álbum a preto e branco em 1936, só 10 anos depois foi colorido.
Este livro, onde Hergé defende a causa chinesa, nunca foi bem visto pelos japoneses.

A Orelha Quebrada
Tintin investiga o roubo no Museu Etnográfico de um fetiche pertencente a uma tribo – Os Arumbaias. As pistas levam-no até à América do Sul, onde existe uma revolução em curso. Perseguido por todos, refugia-se na tribo dos Arumbaias onde descobre o segredo do fetiche… Álbum editado em 1937, foi reeditado a cores em 1943.
Mais uma vez são feitas alusões à actualidade mundial - a guerra do Chaco, entre o Paraguai e a Bolívia. No livro Hergé denomina o conflito por “guerra do Chapo”.

(Resumos da responsabilidade da editora)

01/09/2010

As Melhores Leituras de Agosto


Adèle Blanc-sec #4 - Mumies en folie (Casterman), de JacquesTardi
Cid (Assírio & Alvim + El Corte Inglés), de João Paulo Cotrim

Libérale Attitude (Fluide Glacial), de Pluttark

Tex Edição de Ouro #45 – O Passado de Kit Carson (Mythos Editora), de Boselli (argumento) e Marcello (desenho)

XIII Mystery - La mangouste (Dargaud), de Xavier Dorison (argumento) e Ralph Meyer (desenho)

31/08/2010

Cid

João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2010)
232 x 295 mm, 208 p., cor, cartonado


Se mais méritos não tivesse – e tem, desde logo pela (mediática) chamada de atenção para expressões artísticas (cartoon, caricatura, ilustração) raras vezes suficientemente valorizadas para além da efémera existência nas páginas de jornais e revistas – o Prémio Stuart instituído pelo El Corte Inglés, “por herança do seu fundador, num contributo à sociedade em que se insere” numa demonstração de “consciência social e esforço de preservação do património”, com o objectivo de “dignificar a obra dos clássicos do desenho de imprensa recuperando-a do esquecimento”, deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Por essa notável galeria do humor gráfico nacional já passaram clássicos - Stuart Carvalhais, Bordallo Pinheiro - ou contemporâneos cuja obra podemos admirar diariamente – João Fazenda, André Carrilho. Ou, ainda, clássicos contemporâneos, se assim se podem definir João Abel Manta ou, agora, Augusto Cid, vencedor em 2009 e tema do mais recente tomo.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes e tem sido um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas. É verdade que a sua escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto – mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Por isso, se Cotrim é o autor, o protagonismo pertence a Augusto Cid, de quem são mostrados cartoons, tiras e bandas desenhadas (todos identificados e datados) de diversas épocas e temáticas: ultramar, processos, Eanes, Soares, touradas, animais, mendigos, sexo, motas, auto-retratos… Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético, e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
Como pode ser (re)descoberto nesta colectânea onde as criações de Cid têm hipótese de uma nova existência, evitando que o tempo as cristalize – há cartoons que continuam actuais, por situações que se repetem ou momentos que ganham nova interpretação à luz da História – para lá do papel – tantas vezes marcante e fundamental – que tiveram nas publicações periódicas que originalmente as acolheram. Colectânea que, também por isso, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.

(Versão revista e aumentada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 23 de Agosto de 2010)

30/08/2010

Celle que je ne suis pas

Vanyda (argumento e desenho)
Dargaud (França, Abril de 2008)
172 x 240, 192 p., cor, brochado com badanas


Com o manga em grande no mercado francófono, este é mais um exemplo de como este género influencia os autores locais, no caso uma belga de quase 30 anos, já com uma biografia respeitável, com um estilo próximo do da BD japonesa – deixo para outros a discussão se só é manga o que é produzido por nipónicos…
Mas onde também se notam outras leituras, no ritmo pausado, lento, do relato, que se demora em pormenores, que aprofunda as pequenas conversas, que transmite no papel tiques e hábitos do quotidiano normal, como o beijo de cumprimento, as banalidades que se trocam, o tempo de um passeio em silêncio ou pormenores de uma refeição ou de uma compra.
Mas passemos à história deste primeiro tomo de uma trilogia, protagonizada por Valentine, uma morena bonita, perdida num mundo, numa sociedade, numa família, numa escola em que não se reconhece, entre as tentativas de se integrar à força e o desejo – quase sempre reprimido - de marcar a sua diferença, de afirmar a sua individualidade, por medo da eventual rejeição subsequente.
Uma história que mostra – principalmente em relação a Valentine mas também relativamente às suas colegas e amigas – os prós e os contras das cedências que é necessário fazer para pertencer a um grupo, aquilo de que é necessário abdicar, as violências que essas escolhas exercem sobre si próprio, os efeitos que têm sobre a sua auto-imagem, numa idade – 14, 15 anos – em que a personalidade se afirma, em que as solicitações são muitas - álcool, droga, sexo, grupos – e as ajudas – em tempo de famílias desagregadas e culto da próprio umbigo - quase sempre poucas. Ou nenhumas.

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)

27/08/2010

Sardine de l'espace 1 – Platine Laser














Emmanuel Guibert (argumento)
Joann Sfar (desenho)
Walter (cores)
Dargaud (França, Junho de 2007)
158 x 212 mm, 128 p, cor, brochada com badanas

25/08/2010

Fathom Digital Comics #1

Vince Hernandez (argumento)
Siya Oum (desenho)
Aspen Comics (EUA, Setembro de 2010)

A editora norte-americana Aspen Comics anunciou para o próximo mês de Setembro uma edição especial de Fathom que terá como tema de fundo a maré negra que teve lugar no Golfo do México, em Abril último e cujos efeitos ainda se fazem sentir.
Escrita pelo vice-director da Aspen, Vince Hernandez, esta banda desenhada ficará disponível apenas em formato digital, em diversas plataformas, assinalando assim também a entrada da editora neste segmento em expansão, que muitos apontam como suporte preferencial dos quadradinhos num futuro próximo.
A protagonista curvílinea de Fathom, Aspen Mathews, já tem os oceanos como seu cenário primordial pelo que, segundo o argumentista, faz todo o sentido envolvê-la com a maior catástrofe ambiental não provocada de todos os tempos, o que levará a heroína a auxiliar os seres vivos afectados pelo derrame. E como o propósito é “não só falar do que aconteceu” mas também “ajudar a combater os seus efeitos”, os lucros desta edição destinam-se ao National Wildlife Federation, um fundo dedicado à preservação da vida selvagem.
O desenho foi entregue à tailandesa Siya Oum, de 30 anos, já com experiência em comics e animação, que tentou manter-se fiel ao estilo da série criada por Michael Turner (1971-2008) em 1998, para a Top Cow.
Esta edição poderá dar um novo alento ao eventual filme baseado em Fathom, a que o nome de James Cameron chegou a estar associado. Recentemente Megan Fox mostrou-se interessada em protagonizá-lo, tendo manifestado a sua aprovação a um argumento que lhe foi submetido. As últimas notícias dão conta que a Twentieth Century Fox procura um realizador para concretizar o projecto.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 2010)

23/08/2010

La Montagne Magique

Jiro Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman (França, Outubro de 2007)
226 x 303 mm, 72 p., cor, cartonado


Primeira experiência em formato franco-belga (álbum cartonado, a cores, de “apenas” 72 páginas) de Jiro Taniguchi, o mais europeu dos mangakas, se desilude um pouco pois não ressalta dela qualquer ganho particular com a mudança, é uma continuação dos temas que mais têm marcado a carreira do autor japonês, que mais uma vez revisita a sua infância. Melhor algumas das suas recordações de infância, dotando-as depois de contornos ecológicos e fantásticos, que as transformam num belo conto, humano e sensível, sobre os medos infantis, a força do amor filial, a persistência, a coragem e o muito que se consegue quando acreditamos em nós próprios em prol dos outros.
Tudo começa em Tottori – terra natal do autor - onde vivem Ken’ichi, de 11 anos, e a sua irmã Sakiko, de 7, órfãos de pai e confrontados com a possibilidade de também perderem a mãe, que necessita de ser submetida a uma operação delicada, sujeita a uma longa e difícil recuperação. A dificuldade surgida aprofunda a relação entre os dois irmãos, que se tornam mais unidos e vão viver uma estranha experiência relacionada com a montanha próxima da localidade, considerada morada de seres míticos e dos guardiães daquele local, quando uma salamandra gigante, há muito prisioneira no museu, contacta telepaticamente Ken’ichi e lhe propõe realizar um desejo se ele a devolver à sua origem…

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)
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