15/06/2011

Zagor, 50 anos

Há exactamente 50 anos, era publicado em Itália o primeiro número de Zagor, uma criação de Guido Nolitta, aliás Sergio Bonelli, que adoptou aquele pseudónimo para se distinguir do seu pai Giovanni Luigi Bonelli, o “inventor” dos quadradinhos populares italianos.
Ao seu lado, no desenho, estava Gallieno Ferri que escolheu o actor Robert Taylor como modelo, definiu o grafismo da série e foi também responsável pelas capas da revista durante vários anos, para além de ter desenhado mais de 200 histórias da personagem. Depois deles, como é normal na Sergio Bonelli Editore, Zagor já passou pelas mãos de diversos outros criadores entre os quais Giovanni Luigi Bonelli, Mauro Boselli, Alfredo Castelli, Decio Canzio, Tiziani Sclavi, Marcello Tonitelli, Ade Capone ou Moreno Burattini (nos argumentos) e Franco Donatelli, Francesco Gamba, Franco Bignotti, Pini Segna ou Marco Torricelli.
Zagor – que esteve para se chamar Ajax, não fosse esse já o nome de um detergente! - era mais um western que se vinha juntar ao catálogo da editora Bonelli, embora de características diversas de Tex a sua série de referência. O protagonista é Za-gor-te-nay (o que em dialecto algonquino significa “o espírito da machadinha”, nome que recebeu por utilizar como principal arma um pequeno machado. Branco, jovem, ágil e com extraordinário reflexos, bem sucedido junto do belo sexo, vive na zona pantanosa de Darkwood, situada na região dos Grandes Lagos no nordeste dos Estados Unidos e é considerado imortal e invencível pelos índios. Zagor luta pela justiça e pela verdade sempre ao lado dos mais fracos, em aventuras movimentadas recheadas de acção e com um toque de humor dado pelo seu companheiro habitual, o mexicano Chico, gordo, desajeitado e trapalhão, embora pontualmente, a ficção-científica, o mistério e o horror também marquem presença.
Entre os seus principais inimigos contam-se Hellingen, Kandrax ou Mortimer.
Originalmente publicado em Itália no formato conhecido como “livro de cheques”, com apenas uma tira por página, rapidamente passou ao formato padrão (160x210 mm, a preto e branco e com preço acessível) da Bonelli, tendo, na sua época áurea, os anos 1970, vendido mais de 220 mil exemplares mensalmente. Actualmente as suas vendas rondam os 40 000 exemplares.
Em Itália, este primeiro meio século de vida fica assinalado por diversas edições especiais: o primeiro Zagor gigante (Zagorone), de Moreno Burattini e Marco Torricelli, em Maio último, a publicação a cores do Zagor #551 e de um livro-entrevista com Sergio Bonelli, assinado por Moreno Burattini e Graziano Romani, publicado pela Coniglio Editore, ambos este mês de Junho, e "Os Muros de Jericó" (Cartoon Club), um volume sobre o trajecto de Zagor, da autoria de Moreno Burattini, a ser lançado em Julho, mês em que no título regular se inicia uma longa saga que durará cerca de dois anos e meio e que levará Zagor até à América do Sul.
Estão igualmente previstas diversas exposições comemorativas da efeméride em Godega (3 a 5 Junho), Parma (11 e 12 Junho), Zagabria (16 a 18 Junho), Raiano (9 e 10 Julho), Rimini Comix, (22 a 24 Julho) e Città di Castello (24 Setembro).
No Brasil, Zagor estreou-se em 1978 com o selo da Vecchi,no formato que ainda hoje a Mythos utiliza. Depois italiano e sempre com histórias completas, tendo depois passado pela Rio Gráfica, a Globo e a Record,nesta última no formato italiano e com histórias completas, antes de o título ser assumido pela Mythos Editora, que anunciou para Agosto o lançamento do Zagor gigante #1 e tem agendada para 2012 a publicação do Zagor colorido e da saga com a viagem à América do Sul.
No nosso país, Zagor estreou-se em 1978 numa edição da Portugal Press não autorizada pela casa mãe Bonelli, que duraria apenas 16 números.


Depois, em meados da década de 1980, Zagor tornou-se presença regular nas bancas e quiosques através das edições que mensalmente chegam do Brasil. Actualmente a Mythos disponibiliza três títulos com as suas aventuras: Zagor, Zagor Extra e Zagor Especial.
A título de curiosidade refira-se que para além de Itália e do Brasil, Zagor é também publicado na Turquia (por duas editoras diferentes!), Macedónia, Eslovénia, Sérvia, Croácia e Bósnia-Herzegovina.


(Este texto, escrito com a preciosa e inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, responsável pelo Tex Willer Blog, é uma versão revista e aumentada da versão publicada no Jornal de Notícias de 15 de Junho de 2011)

14/06/2011

John Carter: A Princess of Mars

A nova mini-série de Filipe Andrade para a Marvel
O português Filipe Andrade assinou contrato com a Marvel, para desenhar uma nova mini-série, desta vez uma adaptação das aventuras de John Carter de Marte, um herói criado há um século por Edgar Rice Burroughs (1875-1950), também criador de Tarzan.
Intitulada “John Carter: A Princesse of Mars” terá cinco números, o primeiro dos quais está previsto para o próximo mês de Setembro. A adaptação do romance de Burroughs está a cargo de Roger Langridge, sendo as capas da autoria de Skottie Young. Filipe Andrade, para além do desenho fará também capas variantes.
Recorde-se que depois de alguns trabalhos soltos, Andrade foi o primeiro português a desenhar uma mini-série para a Marvel, no caso “Onslaught Unleashed”, protagonizado, entre outros, pelo Capitão América, e cujo quarto e último número acaba de chegar às livrarias especializadas nacionais.
Um trabalho cujo número de vendas parece ser bom uma vez que até vai sair compilado em capa dura já em Julho” revelou o autor ao Jornal de Notícias. E acrescenta “Quando estive em Miami (na Wizard Comiccon) e em Londres (Kapow) o feedback foi muito bom, houve muito boas reacções”. No entanto, leu “também que havia muita gente a não gostar do meu estilo mais angular e até tive uma critica em formato video no Youtube. As reacções negativas sinceramente não me surpreenderam porque o meu desenho não se enquadrava nas formas dos anteriores Onslaughts. De qualquer forma fiquei espantado com o numero de vendas e criticas positivas”.
Relativamente a esta nova mini-série, implica a saída do género de super-heróis, algo que Andrade não procurou mas que reconhece que “veio em boa hora. Fazer o Onslaught foi um processo muito desgastante a todos os níveis. Eu e o Ricardo Tércio, o colorista, andávamos sempre a mil e o facto de não ser o meu género de ambientes mais cansativo se tornou. Esta história tem um universo completamente diferente e ainda mais desafiante, onde acho que posso evoluir muito como artista”.
John Carter de Marte nasceu em 1911 no romance “A Princess of Mars” e protagonizaria onze aventuras, sendo uma personagem que Andrade desconhecia: “Do E. R. Burroughs só conhecia o Tarzan, mas assim que fiz uma pesquisa rápida percebi no que me estava a meter. Facto comprovado também em conversa com os meus amigos. A história ainda não está finalizada e só li o primeiro rascunho, portanto ainda não posso adiantar mais nada”. Graficamente, o desenhador teve que fazer “designs que tiveram de ser aprovados. O ambiente extraterrestre é algo que nunca explorei ainda para mais tendo em conta que foi criado no inicio do século XX onde estes eram super exagerados. Mas acho que saiu bem pois foi tudo aprovado, pela Disney, pela ERB Foundation e pela Marvel”.
Ex-soldado da Guerra Civil norte-americana, John Carter, ao fugir de um grupo de índios, entra numa caverna onde desmaia, acordando mais tarde no planeta Marte, onde descobre que a baixa gravidade lhe proporciona uma enorme agilidade e força. Aí encontra estranhos habitantes, como os tharks, gigantes verdes com dois pares de braços, ou a bela princesa Dejah Thoris com quem acabará por casar.
As aventuras de John Carter foram por diversas vezes adaptadas em BD desde 1939, sendo que uma versão de 1972, da autoria de Murphy Anderson, foi publicada em português, primeiro no “Mundo de Aventuras” e, mais tarde, em álbum, pela Agência Portuguesa de Revistas.
Esta nova versão, de alguma forma vem preparar caminho para o filme realizado por Andrew Stanton que a Disney/Pixar tem anunciado para 2012, protagonizado por Taylor Kitsch, Bryan Cranston, Williem Dafoe e Lynn Collins. Apesar disso, Filipe Andrade afirma ter “total liberdade criativa em termos de visual e isso é um bónus a juntar a todo este projecto já de si maravilhoso”.





(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Junho de 2011)

13/06/2011

As Águias de Roma #1

Marini (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Maio de 2011)
240 x 320 mm, 60 p., cor, cartonado
16,50 €

Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê. Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
Possivelmente, porque neles o editor apostou, insistiu, até ter resultados. O que devia, merecia, se justificava, acontecer com todos. Pelo menos com bastantes mais. Porque, se assim fosse, possivelmente não haveria nos catálogos dos editores portugueses de BD tantas séries deixadas incompletas…

Vou recomeçar.

Há autores de banda desenhada que caíram no goto dos leitores portugueses. Vá lá saber-se porquê.
Apesar da sua indiscutível qualidade ou de outros predicados que lhes são reconhecidos.
É o caso de Bourgeon, Bilal, Prado, Jodorowsky, Manara… E, mais recentemente, de Marini.
Neste caso, há razões evidentes. Que saltam à vista. Gráficas.
O seu traço é agradável, interessante, uma boa súmula do semi-realismo franco-belga – rigoroso na anatomia e nos cenários, convincente, credível – e da banda desenhada asiática – no dinamismo, nas sucessivas mudanças de enquadramento, na transmissão da ideia de movimento… Ao que alia um óptimo trabalho ao nível da aplicação da cor.
E isto é evidente num western como “A Estrela do Deserto”, na aventura histórica medieval de “O Escorpião” ou nos futuros mais ou menos próximos de “Rapaces”, “Gipsy” e (no menos interessante) “Os Dossiers de Oliver Varese”.
Ou, agora, no passado mais distante de “As Águias de Roma”, na transição entre o antes e o depois de Cristo, a época áurea do império romano, hoje na moda, e que a BD já tratou muito bem, do classicismo do “Alix”, de Jacques Martin, à magnífica ficção histórica de “Murena”, de Dufaux e Delaby.
No caso de “As Águias de Roma”, o contexto histórico surge leve e diáfano, apenas para situar a acção, dividida entre Roma e a Germânia bárbara…
É nelas que Marini, agora também argumentista, depois de já ter trabalhado com nomes como Desberg, Dufaux e Smolderen, situa a sua história, onde se destaca o dinamismo das cenas de acção, as belas mulheres, a facilidade de distinção das personagens, o à-vontade tanto nas cenas exteriores como nas interiores, no tratamento da figura humana ou animal, nos cenários urbanos como nos campestres ou selvagens.
É a história de Ermanamer, um jovem príncipe bárbaro (germânico), levado como refém/garantia para Roma onde rapidamente desenvolve uma inimizade/rivalidade com o filho do seu tutor, Marco.
Ambos avessos à autoridade, senhores do seu nariz, verão com o tempo esse sentimento transformar-se em amizade sólida, alicerçada no facto de Marco salvar a vida a Ermanamer durante uma caçada, tornando-se os dois inseparáveis. Juntos vão crescer, fortalecer o corpo e o espírito, descobrir o amor, o prazer e a volúpia, viver intensas aventuras.
Pelo meio há ainda tempo para a paixão entre o bárbaro e a irmã de Marco, prometida a um velho romano, e o ódio daquela à sua mãe adoptiva (dois aspectos que, refira-se acabam por não ter o desenvolvimento que possivelmente justificavam – bem como a relação de Marco (e de Ermanamer) com o pai - a não ser que venham a ser explorados – tardiamente…? - em tomos futuros).
Futuro no qual, não custa adivinhar mesmo sem ter lido o volume 2, os dois jovens se virão a defrontar no campo de batalha – e talvez não só…
Porque, se a história está bem narrada, bem planificada e bem desenhada e tem bases para ser interessante, assenta num estereótipo muitas vezes explorado, o que a torna previsível e lhe retira encanto. Porque Marini, sem dúvida melhor desenhador do que argumentista, até agora ainda não conseguiu dar-lhe o toque que faça a diferença, que a torne diferente e capaz de surpreender o leitor.
Apesar disso, e se no final da (re)leitura deste álbum, essa previsibilidade provoca uma ligeira amargura, ela não é suficiente para deixar de ler o segundo tomo, que a ASA deve fazer chegar às livrarias durante este mês de Junho.

12/06/2011

Selos & Quadradinhos (51)

Stamps & Comics / Timbres & BD (51)
Tema/subject/sujet: Fête du Timbre - Tintin
País/country/pays: França / France
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2000

11/06/2011

Selos & Quadradinhos (50)

Stamps & Comics / Timbres & BD (50)
Tema/subject/sujet: Journée du Timbre - Astérix
País/country/pays: França / France
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1999

10/06/2011

VII Festival de BD de Beja (IV)

Fim e balanço
Foto de Jorge Machado Dias
Para descanso (bem merecido) de Paulo Monteiro e da sua equipa, mais uma vez francamente de parabéns, termina no próximo domingo o VII Festival de BD de Beja.
Para quem (ainda) não foi lá, há motivos mais que suficientes para justificar a deslocação, como pode ser visto nas reportagens fotográficas do Tex Willer Blog, do Kuentro (em dose dupla), do Leituras de BD ou do Notas Bedéfilas, já que a minha máquina fotográfica ficou em casa…
Da programação paralela para este fim-de-semana, para além da visita às 17 exposições de originais patentes – que se aconselha vivamente –, constam concertos hoje e amanhã, às 23h30 na Galeria do Desassossego, e a Festa de Encerramento, no domingo, às 19h30, onde será lançado o fanzine Café e Cigarros #2.
E, chegados ao fim, já a salivar pelo Festival de 2012, aqui ficam alguns apontamentos em jeito de balanço.
Fotos de Jorge Machado Dias

A reter
- A hospitalidade do Paulo Monteiro em particular e do festival em geral. Porque Beja, hoje, antes de ser um festival, é uma enorme tertúlia, um indispensável convívio com autores, críticos, divulgadores e simples leitores de BD, que facilmente se perdem em conversas apaixonadas ou interessadas, acabando por passar ao lado de alguns com quem até se queria falar. Por isso, àqueles que defendem um crescimento do evento, eu digo não, para não se perder este aspecto tão único. Aliás, já repararam como Beja também se está a transformar num festival familiar (e por mim falo…), com a presença crescente de maridos, esposas e filhos dos “protagonistas”?
Foto de Jorge Machado Dias
- O bom gosto evidente na progra-mação, que permite confirmar ou descobrir talentos.
- A qualidade e sobriedade das exposições.
- A presença de autores como Loustal e Milazzo.
- A justificada aposta no “quarteto fantástico” português da Marvel, de quem muito há a esperar… fora dela!
- A (re)descoberta de Relvas.
- O grande número de lançamentos que lá tiveram lugar.
- A oferta variada que o mercado do livro proporciona, este ano a obriga à montagem de uma tenda para albergar todas as bancas, embora alguns teimem em manter-se à margem dos locais onde a BD se vende, vá lá entender-se porquê…
- A programação paralela, aliciante e diversificada.

Foto de Jorge Machado Dias
Menos conseguido
- Apesar de tudo, o layout das exposições, que talvez merecesse ser repensado. Sei que o principal são as pranchas – e elas eram muitas e muito boas mais uma vez… - mas a arquitectura era sensivelmente a mesma de todos os anos…
- Falo só pelo sábado de abertura, sem ideia do que aconteceu depois, mas não tenho dúvida que o festival, nesse dia, merecia mais visitantes.
- A distância de Beja a Gaia. Vou lançar um abaixo-assinado para puxar a cidade mais para cima ou, em alternativa, façam o favor de abrir o aeroporto ao tráfego aéreo civil, pelo menos no fim-de-semana de abertura do festival!

09/06/2011

Leituras de Banca

Junho de 2011
Revistas periódicas de banda desenhada este mês disponíveis nas bancas portuguesas.
Deixo desde já alguns destaques: pela positiva, o regresso de J. Kendall, Mágico Vento e das Tiras Clássicas da Turma da Mônica, e, pela negativa, a ausência dos habituais títulos da Marvel, que no entanto regressarão em Julho.

Mythos
TEX 468 - A Sentinela do Passado
TEX COLEÇÃO 260 - Ninho de Serpentes
OS GRANDES CLÁSSICOS DE TEX 26 - Na Trilha de Laredo
TEX EDIÇÃO HISTÓRICA 78 - São Francisco
ZAGOR 117 - Justiceiro Implacável
ZAGOR EXTRA 81 - O Esquadrão de facínoras
ZAGOR ESPECIAL 29 - Uma Tribo em Perigo
MÁGICO VENTO 102
J. KENDALL, AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA 73 - A Teia se Fecha

Panini
Turma da Mónica
Almanaque da Magali #24
Almanaque do Chico Bento #24
Almanaque temático Mônica – Vampiros #16
Cascão #48
Cebolinha #48
Chico Bento #48
Magali #48
Mônica #48
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #48
Tiras Clássicas da Turma da Mônica #6
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #23 – As Panterelas
Turma da Mónica – Saiba mais #39 – Aleijadinho
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #48
Turma da Mônica Jovem #30
Turma da Mônica Jovem Revista Poster #1

DC Comics
Batman #96
Liga da Justiça #95
Superman #96
Universo DC #5

Marvel
Este mês não serão distribuídos os habituais títulos da Marvel.



Manga
Vampire Knight #3

08/06/2011

Theodore Poussin

L’intégrale #1
Dupuis Patrimoine
Frank Le Gall (argumento e desenho)
Yann (argumento)
Dupuis (Bélgica, Junho de 2010)
218x230 mm, 240 p., cor, cartonado, 24 €


Resumo
Primeiro tomo da reedição integral de Theodore Poussin, série estreada por Frank le Gall na revista Spirou, em Outubro de 1984, inclui os álbuns Capitaine Steene, Le Mangeur d’Archipels, Marie Vérité e Secrets, complementados por um pormenorizado dossier inicial que explica e situa cada um deles.


Desenvolvimento
Esta é uma história – ou várias, muitas histórias? - de encontros e desencontros, de mistérios (muitos) e descobertas (bastantes), uma história – ou várias, muitas histórias? – densa e com muitas pontas soltas. Que aos poucos vão sendo atadas.
É uma história – ou várias, muitas histórias? – de um tempo muito diferente daquele a que chamamos hoje, em que todos os sonhos se podiam realizar, todos os mistérios ser desvendados, todas as aventuras podiam ser vividas. No planeta Terra. Neste planeta Terra onde, há menos de 100 anos, ainda havia tanto por descobrir…
Uma história – ou várias, muitas histórias? – na senda das grandes aventuras narradas por grandes romancistas: Verne, Stevenson, London, Conrad…
Mas uma história – ou várias, muitas histórias? – também dourada (?), atenuada (?) pela poesia de Baudellaire.
Porque esta história – estas várias, muitas histórias? - têm com a literatura – com o romance, a aventura, o policial, a poesia… – múltiplos pontos de contacto, feitos de citações, de referências, de piscares de olho, de nomeação, directa e indirecta, de autores e personagens.
O seu protagonista – nunca o seu herói – é Theodore Poussin, alguém “a quem os sarilhos perseguem”, alguém que mais do que motor de acção é só, quase, simples observador, um ponto (ínfimo…) em redor do qual tudo acontece.
Ao seu lado – a sua sombra? – está Novembro, presença misteriosa (indesejada por Poussin), em simultâneo anjo da guarda e demónio tentador. Com eles - em torno deles - por causa deles - apesar deles? – cruzam-se aventureiros e piratas, colonizadores e colonizados, brancos e asiáticos, políticos corruptos e políticos viciados, belas mulheres, mulheres misteriosas… Numa história – ou várias, muitas histórias? – cuja cenário de acção é maioritariamente a Ásia – misteriosa, sedutora, perigosa – da Indochina, de Singapura, da China, os seus mares traiçoeiros, as suas terras recheadas de perigos, o exotismo, a cultura própria, o desconhecido.
Ao longo desta história – destas várias, muitas histórias? – assistimos ao crescimento de Poussin, à sua auto-(re)descoberta, passando de simples empregado de uma empresa de transportes marítimos a viajante, aventureiro, capitão de navios, resgatador de prisioneiros, salvador de mulheres, rebelde…
Com ele Le Gall, com o precioso contributo de Yann a partir do segundo tomo, desenvolveu uma belíssima banda desenhada, densa – já o escrevi, eu sei – complexa, que implica (re)leitura atenta e a capacidade de nos deixarmos cativar, apaixonar por Poussin, Novembro e os outros, reflexos – fortes e credíveis – de seres de um outro tempo, que já não existe mas que ainda podemos reviver.


A reter
- A bela edição deste integral da Dupuis. Mais uma.
- A força da história – das várias, muitas histórias?
- A consistência e qualidade do dossier inicial, em muitos momentos narrado na primeira pessoa por Le Gall.
- A possibilidade de apreciarmos o crescimento de Poussin em paralelo com o de Le Gall, tanto gráfica como narrativamente.


Curiosidade
- Theodore Poussin, aliás Teodoro Pintainho teve direito a ver a sua história de estreia – Capitão Steene – editado em português pela Meribérica/Líber, no já distante ano de 1988. Foi, infelizmente, uma das muitas séries que a editora deixou pelo caminho…
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