26/11/2012

Operação Mar Verde














A. Vassalo
Caminhos Romanos (Portugal, 2012)
210 x 297 mm, 32 p., pb, brochada
5,00 €




Apesar de ter editora, esta é outra edição que dificilmente se encontrará em livrarias.
Com o mesmo autor de Combates Navais…, e de tom semelhante, graficamente apresenta maior cuidado devido ao uso de sombras e de contrastes branco/negro.
O cenário da acção muda de Diu para a Guiné e apresenta como protagonista Alpoim Calvão, com a curiosidade de o autor (que também foi comando) surgir numa das suas páginas, o que reforça a veracidade do relato, que recorda uma operação “secreta”, “não autorizada”, durante anos “ignorada” pelo poder português, levada a cabo por um comando nacional no território da Guiné Conacri para libertar um piloto português e provocar um golpe nas forças “terroristas” do PAIGC.
E tal como o livro anterior, tem o mérito de trazer à luz do dia outro episódio pouco conhecido da generalidade dos portugueses.

25/11/2012

Blake e Mortimer - O Juramento dos Cinco Lordes













O Juramento dos Cinco Lordes, 21.º álbum das aventuras de Blake e Mortimer chegou às livrarias nacionais no passado dia 16 de Novembro, numa edição da ASA lançada em simultâneo com a francófona, tendo como grande novidade a interacção dos heróis criados por Edgar P. Jacobs com uma personagem real, o aventureiro Lawrence da Arábia.
Parte da tiragem da edição portuguesa tem uma capa variante criada especialmente para o nosso país, para venda exclusiva nas lojas FNAC.
Nono álbum após a morte de Jacobs e quinto assinado por Yves Sente e Andre Juillard, apresenta como curiosidade a ausência de Olrik, o grande adversário da fleumática dupla britânica, e a sua acção situa-se entre A Marca Amarela e O Caso do Colar, marcando o regresso dos heróis a Inglaterra, depois de nas últimas aventuras terem percorrido boa parte do globo. Nele é também desvendada parte da juventude de Francis Blake, como chegou a capitão dos serviços secretos ingleses e o papel decisivo que teve no desaparecimento de Lawrence da Arábia, cuja morte num acidente de mota, em 1935, ficou envolta em mistério.
No mercado francófono, este é um dos lançamentos mais aguardados do ano e será com certeza um dos best-sellers de 2012, tendo uma tiragem inicial de 450 mil exemplares, bem como uma segunda edição no formato de tiras. A importância deste lançamento pode ser também aferida pelo facto de ter sido publicado em tiras diárias nos jornais Ouest-France e Le Soir durante o verão e pelas exposições que lhe são agora dedicadas em Paris, Bruxelas e Neuchatel.
O grande mediatismo da edição foi aumentado pelo processo recente que opôs a Media Participations, detentora dos direitos de Blake e Mortimer, à editora Delcourt, que anunciara para 7 de Novembro o lançamento de La Marque Jacobs, uma biografia não autorizada em BD do criador da dupla de heróis. Na origem da queixa esteve a eventual existência de demasiados elementos ligados à obra de Jacobs na capa do livro, da autoria de Rodolphe e Louis Alloing, o que configuraria uma situação de plágio e não de citação. A justiça francesa foi célere na sua decisão, não dando razão aos queixosos, pelo que La Marque Jacobs foi lançada no passado dia 14. Na prática, foi uma publicidade extra para os dois álbuns que deve ter caído bem a ambas as editoras.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 23 de Novembro de 2012)




24/11/2012

Selos & Quadradinhos (91)


Stamps & Comics / Timbres & BD (91)


Tema/subject/sujet: Tintin
País/country/pays: Mónaco
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 21/11/2012


23/11/2012

Leituras Novas


Novembro  de 2012

ASA
Blake e Mortimer – O Juramento dos Cinco Lords
André Juillard e Yves Sente
Esta nova aventura, leva o professor Mortimer e o capitão Blake até Oxford, mais concretamente ao Museu Ashmolean. É aí que tem lugar uma série de roubos inexplicáveis, associados a várias mortes misteriosas. É neste ambiente de intriga e suspense que se desenrola mais uma emocionante aventura onde as inegáveis qualidades destes heróis são mais uma vez postas à prova.

Oh, Miúdas!
Emmanuel Lepage e Sophie Michel
Este álbum é composto por duas partes e dá-nos a conhecer o quotidiano de Chloé, Leila e Agnès, três raparigas da mesma idade, que pertencem a meios sociais bastante diferentes, mas cujos caminhos acabam por se cruzar. Chloé sonha ser bailarina e a sua mãe trabalha arduamente para conseguir pagar –lhe as aulas de dança; Leila, oriunda de uma família de imigrantes marroquinos, é confrontada com o racismo a que a sua família por vezes é sujeita; Agnès, nascida no seio de uma família burguesa, pode ter tudo menos a atenção dos pais. Apesar das suas origens díspares, tornam-se amigas e juntas vão descobrir que crescer pode ser complicado…

Astérix & Obélix – Ao Serviço de Sua Majestade
Estamos no ano 50 a.C.. César está sedento de conquistas. À cabeça das suas gloriosas legiões, decide invadir essa ilha situada nos limites do mundo conhecido a que chamam Brittania, a Bretanha. A vitória é rápida e total. Ou quase…! Uma pequena aldeia bretã consegue resistir-lhe, mas as suas forças fraquejam. Cordélia, a Rainha dos Bretões, decide então que Jolitorax, o seu mais fiel cavaleiro, deve ir à Gália, a uma pequena aldeia que todos conhecemos pela sua tenaz resistência contra os romanos, pedir ajuda.
Álbum fora de colecção que transcreve as cenas do filme que estreou a 18 de Outubro e cujo argumento se baseia nas obras de BD "Astérix entre os Bretões" e "Astérix e os Normandos". Para além disso o livro inclui 13 páginas do “making of”.
Do elenco fazem parte: Gérard Depardieu (Obélix), Edouard Baer (Astérix), Fabrice Luchini (Júlio César), Valérie Lemercier (Miss Macintosh), Guillaume Gallienne (Jolitorax), Catherine Deneuve (Cordélia), Charlotte Le Bon (Ofélia) e Vincent Lacoste.

Bizâncio
Baby Blues 29 - Cocó, Ranheta e Facada
Rick Kirkman e Jerry Scott
Cocó, Ranheta e Facada traz-nos o habitual em Baby Blues: o Hammie a fazer malabarismos, a Zoe a meter o irmão em sarilhos, a Wren a observar tudo isto e a Wanda assoberbada. Qualquer semelhança com a realidade, não é pura coincidência.


Caminhos Romanos
Operação Mar Verde
A. Vassalo


Chiado Editora
A Minha Escolinha
Pedro Correia
Numa escolinha não muito longe daqui, quatro amigos têm como projecto fazer uma banda desenhada. Nesse livro, eles tentam representar os conflitos na sociedade escolar. Tudo parece correr bem até ao momento em que toda a gente na escola descobre, todos querem aparecer na banda desenhada como sendo os "maiores" e instala-se o conflito!


Contraponto
Pequenos Prazeres #2
Arthur de Pins
Um comic provocante, divertido e irresistível
sobre sexo, mentiras e festas… de despedida de solteiro!
Arthur e Clara são amigos – e ex-namorados com uma necessidade irresistível de se provocarem um ao outro!
São ambos solteirões dedicados, muito felizes com o seu estilo de vida descomprometido e com os pequenos prazeres de se ser completamente livre.
Mas, quando dois dos seus melhores amigos anunciam que se vão casar, Arthur e Clara começam a repensar as suas prioridades…
Entre o stresse de ajudar a preparar um casamento, acalmar os nervos (e ciúmes!) da noiva, tentar organizar uma festa de despedida de solteiro sem ferir suscetibilidades e a dificuldade de gerir a vida de solteiro, Arthur e Clara começam a ver o compromisso com novos olhos. Afinal, será que eram a alma gémea um do outro sem o saberem?


Devir
Death Note #3 – Corrida Louca
Tsugumi Ohba e Takeshi Obata


Death Note #4 – Amor
Tsugumi Ohba e Takeshi Obata



Edição de Autor
Minizine #01
Escrito e concebido por Chaka Sidyn conta com as colaborações de Álvaro, Daniela Viçoso, José Lopes e Pedro Miranda
Às vezes o tamanho não importa. O MiniZine é um pequeno fanzine de 28 páginas em formato A6 que publica BD, ilustração e prosa. Pequenas histórias sobre erros, sonhos, desejos, ambições e ilusões.


Edições Culturais da Marinha
Combates Navais Heróis do Mar, Contra os Canhões… Lutar… Lutar
A. Vassalo



Levoir/Público
Heróis Marvel – série II

Warren Ellis, Adam Warren, Mark Haven Britt, Matteo Casali, Tim Fish, Adi Granov, Salva Espin, Nuno Plati, Steve Kurth e Filipe Andrade

Stan Lee, Moebius e John Buscema

Mark Millar, Steve McNiven e Dexter Vines

Dr. Estranho: o Juramento
Brian K. Vaughan, Stan Lee, Marcos Martin e Steve Ditko

Homem-Aranha: O Reino
Kaare Andrews



Olindomar Estúdio (Angola) e Grupo Extractus (Portugal)
BDLP #2
Nelo Tumbula, Altino Chindele, Tiago Abrantes, Olímpio e Lindomar de Sousa (Angola), Wander Antunes (Brasil), Sai Rodrigues (Cabo Verde), Zorito Chiwanga (Moçambique), Paulo Monteiro, Andreia Rechena, Rita Vilela, Ines Myuuhailurusu Freitas, Miguel Mendes e Cristina Sá (Portugal)
Cinco países, uma língua, muita Banda Desenhada e Grande Qualidade em 70 páginas.


Planeta
A Guerra dos Tronos I
George R. R. Martin, Daniel Abraham e Tommy Patterson
Este volume inicia a adaptação em banda desenhada de A Guerra dos Tronos, a primeira parte da saga bestseller em todo o mundo, que ocupará os primeiros quatro volumes desta série de graphic novels.

Geronimo Stilton – Salvaste os Jogos Olímpicos, Stilton!

Em Atenas, no ano de 1896, realizaram-se os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna.
Os Gatos Piratas viajaram no tempo até ao passado com o Gatojet para participar no máximo de provas possível. Levaram consigo do presente inúmeros truques e artimanhas, mas esqueceram-se em casa do espírito desportivo! O pouco atlético Geronimo, Patty,...

Geronimo Stilton – Toca-a mais uma vez, Mozart!
O que fará Geronimo Stilton em Milão, em 1770? Veio em auxílio do jovem Wolfgang Amadeus Mozart, o genial compositor, vítima do mais recente e pérfido plano dos Gatos Piratas! Por entre instrumentos musicais antigos, famílias nobiliárquicas, partituras valiosíssimas e arenques fedorentos, esta nova viagem no tempo irá revelar-se uma aventura inesquecível.


Polvo
Há Piores! 2 – Ainda mais profundo
Geral e Derradé


Os textos, quando existem, são da responsabilidade das editoras.
Algumas das edições aqui apresentadas podem ter sido editadas anteriormente,
mas só agora tomei conhecimento delas.

22/11/2012

Polvo: 15 anos de quadradinhos














Em 1997, eram criadas em Portugal as Edições Polvo que, 15 anos mais tarde contam no seu catálogo quase uma centena de títulos, a maioria dos quais de banda desenhada de autores portugueses.
Aliás, esse foi um dos propósitos da editora quando surgiu, explica Rui Brito, o seu actual responsável: pois “na altura praticamente não havia publicação de novos autores nacionais”. Por isso, “o primeiro livro editado foi o "Época morta & (À Suivre)", de José Carlos Fernandes, logo seguido de "Loverboy, o rebelde", de Marte e João Fazenda”.
Fundada por Rui Brito, Jorge Deodato e Pedro Brito, a estrutura manteve-se até 2005, quando passou a “Polvo, uma chancela de Rui Brito, edições”. E se no seu catálogo há “espaço para o infantil, para a poesia, para os contos e para o ensaio (…) cerca de 85% das edições são de banda desenhada”, possuindo a Polvo actualmente um dos maiores catálogos nacionais do género.
A par de Miguel Rocha, Filipe Abranches, Paulo Monteiro, Rui Lacas, Sergei, Geral e Derradé, Pedro Brito, João Fazenda, André Carrilho, José Carlos Fernandes, André Carrilho, Rui Ricardo e Paulo Patrício, Ricardo Blanco, Richard Câmara, Carlos Rico, Horácio e de alguns autores mais alternativos, a Polvo publicou também obras de grandes nomes da BD europeia, como Baru, Tardi, David B. ou Sfar, bem como a primeira edição lusa de “Persépolis”, da iraniana Marjane Satrapi.
Entre os lançamentos mais recentes estão “Três Sombras”, de Cyril Pedrosa (que esteve no recente AmadoraBD e é autor também do multipremiado “Portugal”), uma obra que aborda de forma poética e metafórica a morte por doença de um filho na infância, “Han Solo”, de Rui Lacas e “Há piores 2 - Ainda mais profundo", de Geral e Derradé.
A Polvo desde sempre tentou associar as suas edições à vinda de autores ao nosso país (a eventos como o Salão de BD do Porto, o Salão Lisboa de Ilustração e BD ou o AmadoraBD) e apostou no intercâmbio de edições com estruturas semelhantes de outros países. Dessa forma, alguns dos seus principais títulos “foram (ou estão em vias de ser) editados noutras línguas: "A vida numa colher  - Beterraba", de Miguel Rocha, em Espanha e França; "Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos", de Pedro Brito e João Fazenda (França, Polónia e Itália); "O amor infinito que te tenho", de Paulo Monteiro (Reino Unido, Irlanda, Espanha, França, Roménia e Brasil); "Yaylalar", de Alain Corbel (França); "4 Peças para Octávio Framboa", de Alain Corbel (França)”.
Num mercado pequeno e com limitações, a Polvo tem best-sellers, que atingiram as quatro edições. Um deles é "As mulheres não gostam de foder", de Alvarez Rabo, “devido à mediatização televisiva de uma tentativa de censura que ocorreu numa livraria em Viseu” e o outro é “Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos”, de Pedro Brito e João Fazenda.
Para além destes, “vários outros títulos alcançaram a 2.ª edição”, o mais recente dos quais “O amor infinito que te tenho”, de Paulo Monteiro, distinguido como o Melhor Álbum Nacional de 2010 pelos Prémios Nacionais de BD e pelos Troféus Central Comics.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Novembro de 2012)




21/11/2012

Michel Vaillant – Au nom du fils









Philippe Graton e Denis Lapière (argumento)
Marc Bourgne e Benjamim Benéteau (desenho)
Graton Éditeur (Bélgica, 16 de Novembro de 2012)
222 x 295 mm, 56 p., cor, cartonado
15,50 €



Resumo
Este é o primeiro tomo de uma “nova temporada” de Michel Vaillant, agora de regresso às pistas de WTCC após o abandono da Fórmula 1, na sequência da crise económica de 2008.
A par desta nova experiência automobilística, o campeão francês vê-se igualmente a braços com a fuga e desaparecimento do seu filho pós-adolescente.

Introdução
Durante anos (para o bem e para o mal; mais aquele do que este) uma das principais notas distintivas entre a BD norte-americana (de super-heróis) e a BD francófona era o forte pendor autoral desta última, uma vez que as personagens pertenciam aos autores e não aos editores. Spirou era a excepção mais visível a esta regra.
Nos últimos anos, com a retoma de diversas séries por outros autores – Blake e Mortimer e Lucky Luke (e em breve Astérix) são os mais mediáticos mas os exemplos são mais numerosos do que muitos poderão pensar – essa diferença tem-se esbatido um pouco.
Até porque, em muitos casos, essa retoma – motivada pela morte ou cansaço dos criadores – tem mais vincado um intuito comercial do que artístico e as novas histórias limitam-se a repisar ideias que foram boas quando eram originais ou acabam por descaracterizar os protagonistas.
Michel Vaillant, agora, é o exemplo mais recente de uma retoma deste género. Embora seja justo destacar que Philippe Graton (filho do criador do piloto) já assumira os argumentos da série desde 1994.

Desenvolvimento
Como pressupostos – defendidos pelos autores - este regresso de Michel Vaillant apresenta uma maior ligação à actualidade e à nova relação da indústria automóvel com a tecnologia e pretende explorar de forma mais profunda relações e sentimentos dos diversos protagonistas, reforçando a posição basilar do clã Vaillant nos relatos.
A relação tensa entre os pais do piloto – fruto normal da idade -, alguns ciúmes de Françoise ou um maior protagonismo da terceira geração Vaillant são, assim, aspectos presentes e tratados com maior seriedade, o que contribui para o aumento da credibilidade do relato, competentemente construído, onde os momentos de acção, de introspecção e de diálogo se sucedem a um ritmo bem delineado, sem perder uma certa ingenuidade que faz parte da imagem de marca da série.
A história, como já ficou escrito no resumo, caminha a dois tempos, entre o mundo das corridas e as relações familiares, com destaque para o desaparecimento do filho de Michel (que surge no relato como um pai ausente, algo que há alguns anos seria com certeza impensável).
Graficamente, a nível global, é também dado um passo marcante na direcção de um maior realismo (embora não tão vincado quanto a capa – de curiosa textura! - pode dar a entender). Mesmo assim, é notório um maior cuidado com a figura humana – completamente despojada do traço anguloso de Jean Graton – e uma grande atenção aos pormenores, sendo fácil encontrar retratados pequenos gestos quotidianos.

A reter
- O ganho de realismo – a diversos níveis – e de actualidade que a história apresenta.
- O reforço da componente familiar – e consequentemente humano – que confere uma credibilidade acrescida ao todo.

Menos conseguido
- Um ou outro desequilíbrio ao nível das expressões faciais e da anatomia humana.
- As dúvidas sobre as probabilidades reais de êxito de um regresso às pistas de um piloto com a idade de Michel Vaillant (porque alguns heróis de BD também envelhecem).

Curiosidades
- Uma parte da história situa-se em Portugal, no circuito de Portimão - onde um carro “Vaillant” correu (e venceu) realmente este ano - com uma referência específica ao piloto luso Tiago Monteiro, embora a ficção apresente um desfecho diferente daquela realidade.
- Um sonoro “yes” nos lábios do piloto francês de quem se esperaria antes um “oui”!
- A primeira edição inclui, a abrir, uma página em papel Modigliani de 260 g com os primeiros esquissos do “novo” Michel Vaillant feitos por Marc Bourgne.

20/11/2012

Chlorophylle – Intégrale #1










Raymond Macherot
Le Lombard (Bélgica, 26 de Outubro de 2012)
222 x 295 mm, 208 p., cor, cartonado
26,50 €



Resumo
Primeiro dos três tomos previstos da reedição integral das aventuras de Chlorophylle, este volume inclui as histórias Mission Chévrefueille (uma espécie de balão de ensaio da série), Chlorophylle contre les rats noirs, Chlorophylle et les conspirateurs, Pas de salame pour Céliméne e Le Bosquet Hanté.
Inclui ainda três histórias curtas realistas escritas e desenhadas por Macherot no Tintin belga: Le véritable monde perdu, L’Homme qui tua le diable e L’odyssée du Flandres Impériale.
A abrir o volume, antes das bandas desenhadas, surge um dossier da autoria de Jacques Pessis, sobre o percurso de Macherot, profusamente ilustrado, com muitos inéditos.

Desenvolvimento
As reedições integrais em magníficas edições como esta, continuam na ordem do dia no mercado francófono, recuperando obras – hoje – clássicas dos anos 50, 60, 70, 80 e mesmo 90, ou seja aquelas que foram lidas pelas gerações que têm hoje maior poder de compra.
Se alguns deles me têm valido boas descobertas, Chlorophylle era uma das séries que eu aguardava com maior interesse.
Chlorophylee, um pequeno roedor, estreou-se nas páginas do Tintin belga #336, a 14 de Março de 1954. Aí viveu diversas aventuras, entre curtas e longas, em companhia de Minimum, outro roedor, a lontra Torpille, o corvo Bitume e o coelho Serpolet, entre outros.
Em meados dos anos 60, Macherot trocou o Tintin pelo rival Spirou, onde criou Sibyline, cuja estrutura é muito semelhante à de Chlorophylle, sendo este último retomado por autores como Dupa ou Greg.
No início da série a quietude do bosque onde os protagonistas vivem é quebrada por uma invasão de ratos negros comandados pelo pérfido Anthracyte, que uma vez derrotado por Chlorophylle se transformará em seu inimigo.
As aventuras decorrem quase sempre em ambiente rural, campestre ou florestal, apenas com uma ou outra escapadela citadina, como acontece neste tomo em Pas de salame pour Céliméne, onde se Chlorophylle assume igualmente o protagonismo, num relato de tom detectivesco, claramente não está no seu ambiente natural, tal como o seu autor, aliás.
Banda desenhada animalista, de tom terno e ingénuo, conquistou-me desde que a conheço e não me canso de a reler, sempre com agrado.
Pela forma solta e fluente como está escrita (apesar de desenvolvida ao sabor da inspiração, uma vez que Macherot não desenvolvia previamente um argumento base)?
Pelo traço agradável, seguro, ágil, dinâmico e cativante?
Pelo retrato assertivo da sociedade humana, através dos pequenos animais do bosque onde Chlorophylle e os seus amigos habitam e vivem as suas aventuras?
Pelos muitos pormenores divertidos ou curiosos espalhados pelo autor no fundo das pranchas ou à margem da acção principal?
Possivelmente por tudo isto e ainda mais que desafio a (re)descobrirem.

Em Portugal
Chlorophylle chegou rapidamente ao nosso país, estreando-se nas páginas da revista Flecha #12, a 27 de Janeiro de 1955, menos de um ano após o seu lançamento no mercado francófono.
Depois, seria presença recorrente nas páginas da versão nacional do Tintin, tendo igualmente aparecido no Almanaque Tintin.
As duas primeiras histórias deste volume marcaram presença no segundo tomo da colecção Clássicos da Revista Tintin (ASA/Público), sendo que a segunda e a terceira já tinham sido editadas pela Edinter nos anos 1980.
Chlorophylle, teve igualmente a honra de protagonizar um dos primeiros álbuns de BD editados entre nós, Clorofila e os Quebra-Ossos (início da década de 1960), uma edição hoje em dia muito rara, cabendo a um dos seus exemplares o recorde do livro de banda desenhada mais caro vendido em Portugal: 575 euros!

Curiosidade
Entre as duas primeiras histórias longas e as restantes há uma evidente diferença ao nível do colorido, cuja explicação é dada no livro. Chlorophylle contre les rats noirs e Chlorophylle et les conspirateurs, reproduzidas a partir dos filmes originais a preto e branco, foram recoloridas digitalmente, respeitando as cores de Macherot.
Para as restantes, uma vez que os filmes originais não foram encontrados, foi necessário utilizar como base as páginas impressas da revista Tintin.

A reter
- A genuinidade das histórias ternas, divertida e cativantes.
- O dinamismo do traço de Macherto
- A bela edição, digna sem dúvida da obra que reproduz.


19/11/2012

Heróis Marvel II - #5 Wolverine: Velho Logan











Mark Millar (argumento)
Steve McNiven (desenho)
Dexter Vines (arte-final)
Levoir/Público (Portugal, 8 de Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 216 p., cor, cartonado
8,90 €



Resumo
Há 50 anos, os vilões venceram os super-heróis e passaram a dominar a Terra.
Wolverine – agora apenas Logan – um dos poucos sobreviventes, é agora um agricultor miserável que jurou nunca mais combater nem utilizar as suas garras retrácteis.
Para conseguir pagar aos donos da terra que trabalha, aceita uma proposta do Gavião Arqueiro (que está cego) para o acompanhar como guia numa longa viagem através do território dos EUA, agora dominado por vilões como a família Hulk, o Rei do Crime ou o Caveira Vermelha.

Intróito
Não comprei/vou comprar todos os volumes das séries I e II da colecção Heróis Marvel, que têm sido publicados com o jornal Público desde o início de Julho.
Porque o orçamento não estica, porque já tinha alguns deles em edições que me satisfazem (o Integral Homem-Aranha de Frank MillerHomem-Aranha: A Morte dos Stacy, Guerra Civil) ou porque alguns eram pouco apelativos para mim (Guerras Secretas, Dinastia de M). O que não impediu que, nas compras feitas, experimentasse algumas (fortes) desilusões (Quarteto Fantástico, Nick Fury…)
Em contrapartida, também foi/vai ser uma boa oportunidade de (re)ler outras belas narrativas (Surfista Prateado: Parábola, Demolidor: Renascido), de descobrir fases clássicas (Capitão América – ALenda Viva), de ser surpreendido com boas histórias (X-Men: Os Filhos do Átomo, Hulk: Tempest Fugit, Wolverine: Madripoor, Justiceiro: Diário de Guerra, Homem de Ferro: Extremis)…
Mas, até agora, nenhuma me agradou/surpreendeu/deslumbrou tanto como Wolverine: Velho Logan.

Desenvolvimento
Não fazia parte das minhas opções iniciais, confesso, mas comprei-o por indicação do João Miguel Lameiras – obrigado! – e teve em mim um efeito raro: fui busca-lo ao quiosque, folheei-o, fui para casa, comecei a leitura e só parei quando cheguei ao fim!
Desde logo porque, visualmente é uma obra muito forte. O traço de McNiven e Vines combina um registo hiper-realista, com um trabalho notável ao nível do pormenor (rugas, sombras, músculos…) – apesar dos cenários serem geralmente despojados e quase vazios para darem todo o protagonismo aos seres vivos – com o hiper-exagero das cenas de acção que só é possível encontrar nos comics de super-heróis. Com uma planificação diversificada, que recorrentemente explode em vinhetas de meia página, página inteira ou mesmo dupla página, os donos do traço presenteiam-nos com imagens de impacto indescritível: os saltos do carro-aranha, a derrota do Rei do Crime, o dinossauro Vénon, o esqueleto de Hank Pym estendido na planície árida, os combates contra o Caveira Vermelha ou a família Hulk…
Realçados ainda mais pelo imenso contraste entre o bucolismo da sequência inicial – a opção de Logan - e a violência brutal e sem limites – imagem de marca de Wolverine que este quer esquecer - que esmaga rostos, corta cabeças, estripa corpos, desfigura, retalha, desfaz, explode, destrói…
E se o encanto poderia ficar pelo desenho - e pelo soberbo tratamento de cor que lhe foi aplicado -, a história é tão poderosa como o seu visual. É verdade que evoca de imediato o magnífico western crepuscular Imperdoável, de Clint Eastwood, ou O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, combina uma mão cheia de outras citações reconhecíveis e que o leitor intui rapidamente qual o final que o aguarda – embora esteja longe de adivinhar o caminho que vai ser trilhado para lá chegar! Mas, mesmo assim, a leitura prende, puxa, arrasta o leitor numa vertigem de irresistível entre a lyuta interior de Logan/Wolverine e a violência extrema que caracteriza muitas das cenas.
Mais a mais, porque, ao longo do relato, as surpresas se sucedem, muitas delas como violentos socos no estômago do leitor desprevenido. À cabeça, a razão para a vitória dos vilões sobre os super-heróis, à qual Wolverine surge associado; depois, a actuação da (nova) Mulher-Aranha, o papel da família Hulk, o confronto com o Caveira Vermelha…
Não inocentemente, Wolverine - ou Logan – é o único sobrevivente dos grandes super-heróis, o que leva a que as atenções se concentrem ainda mais nele e na sua (surpreendente) nova postura, especialmente tendo em conta o carácter explosivo e belicoso que se lhe conhecia.
Sem fugir aos exageros típicos dos super-heróis, que resultam em cenas grandiosas, combates épicos e alguma desproporcionalidade – mas que neste relato concreto até são bem-vindos – Millar desenvolve o seu relato – e o mundo (duplamente) apocalíptico em que ele se desenrola, tornando-os credíveis e razoáveis, página após página, e sustentado plenamente o pressuposto que lhe está na origem.


A reter
- O grafismo fabuloso e de grande impacto de McNiven e Vines, que resulta em páginas e sequências memoráveis.
- A forma como Millar sustenta o argumento e torna credível a sua ideia-base.
- A força do conjunto.

Menos conseguido
- Apenas um senão, a forma como Logan/Wolverine derrota o seu adversário no seu último combate. Também não era preciso exagerar (tanto!)…


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