Mark Millar (argumento)
Steve McNiven (desenho)
Dexter Vines (arte-final)
Levoir/Público (Portugal, 8 de Novembro de 2012)
170 x 260 mm, 216 p., cor, cartonado
8,90 €
Resumo
Há 50 anos, os vilões venceram os super-heróis e passaram a
dominar a Terra.
Wolverine – agora apenas Logan – um dos poucos
sobreviventes, é agora um agricultor miserável que jurou nunca mais combater
nem utilizar as suas garras retrácteis.
Para conseguir pagar aos donos da terra que trabalha, aceita
uma proposta do Gavião Arqueiro (que está cego) para o acompanhar como guia numa
longa viagem através do território dos EUA, agora dominado por vilões como a
família Hulk, o Rei do Crime ou o Caveira Vermelha.
Intróito
Não comprei/vou comprar todos os volumes das séries
I e
II da colecção Heróis Marvel, que têm sido publicados com o jornal Público desde o
início de Julho.
Porque o orçamento não estica, porque já tinha alguns deles em
edições que me satisfazem (o
Integral Homem-Aranha de Frank Miller,
Homem-Aranha: A Morte dos Stacy, Guerra Civil) ou porque alguns eram pouco apelativos para mim (Guerras
Secretas, Dinastia de M). O que não impediu que, nas compras feitas,
experimentasse algumas (fortes) desilusões (Quarteto Fantástico, Nick Fury…)
Mas, até agora, nenhuma me agradou/surpreendeu/deslumbrou
tanto como Wolverine: Velho Logan.
Desenvolvimento
Não fazia parte das minhas opções iniciais, confesso, mas
comprei-o por indicação do João Miguel Lameiras – obrigado! – e teve em mim um
efeito raro: fui busca-lo ao quiosque, folheei-o, fui para casa, comecei a
leitura e só parei quando cheguei ao fim!
Desde logo porque, visualmente é uma obra muito forte. O
traço de McNiven e Vines combina um registo hiper-realista, com um trabalho
notável ao nível do pormenor (rugas, sombras, músculos…) – apesar dos cenários
serem geralmente despojados e quase vazios para darem todo o protagonismo aos
seres vivos – com o hiper-exagero das cenas de acção que só é possível
encontrar nos comics de super-heróis. Com uma planificação diversificada, que
recorrentemente explode em vinhetas de meia página, página inteira ou mesmo
dupla página, os donos do traço presenteiam-nos com imagens de impacto
indescritível: os saltos do carro-aranha, a derrota do Rei do Crime, o
dinossauro Vénon, o esqueleto de Hank Pym estendido na planície árida, os
combates contra o Caveira Vermelha ou a família Hulk…
Realçados ainda mais pelo imenso contraste entre o bucolismo
da sequência inicial – a opção de Logan - e a violência brutal e sem limites –
imagem de marca de Wolverine que este quer esquecer - que esmaga rostos, corta
cabeças, estripa corpos, desfigura, retalha, desfaz, explode, destrói…
E se o encanto poderia ficar pelo desenho - e pelo soberbo tratamento de cor que lhe foi aplicado -, a história é tão
poderosa como o seu visual. É verdade que evoca de imediato o magnífico western
crepuscular Imperdoável, de Clint Eastwood, ou O Regresso do Cavaleiro das
Trevas, de Frank Miller, combina uma mão cheia de outras citações reconhecíveis
e que o leitor intui rapidamente qual o final que o aguarda – embora esteja
longe de adivinhar o caminho que vai ser trilhado para lá chegar! Mas, mesmo
assim, a leitura prende, puxa, arrasta o leitor numa vertigem de irresistível
entre a lyuta interior de Logan/Wolverine e a violência extrema que caracteriza
muitas das cenas.
Mais a mais, porque, ao longo do relato, as surpresas se sucedem,
muitas delas como violentos socos no estômago do leitor desprevenido. À cabeça,
a razão para a vitória dos vilões sobre os super-heróis, à qual Wolverine surge
associado; depois, a actuação da (nova) Mulher-Aranha, o papel da família Hulk,
o confronto com o Caveira Vermelha…
Não inocentemente, Wolverine - ou Logan – é o único
sobrevivente dos grandes super-heróis, o que leva a que as atenções se
concentrem ainda mais nele e na sua (surpreendente) nova postura, especialmente
tendo em conta o carácter explosivo e belicoso que se lhe conhecia.
Sem fugir aos exageros típicos dos super-heróis, que
resultam em cenas grandiosas, combates épicos e alguma desproporcionalidade –
mas que neste relato concreto até são bem-vindos – Millar desenvolve o seu
relato – e o mundo (duplamente) apocalíptico em que ele se desenrola, tornando-os
credíveis e razoáveis, página após página, e sustentado plenamente o
pressuposto que lhe está na origem.
A reter
- O grafismo fabuloso e de grande impacto de McNiven e
Vines, que resulta em páginas e sequências memoráveis.
- A forma como Millar sustenta o argumento e torna credível
a sua ideia-base.
- A força do conjunto.
Menos conseguido
- Apenas um senão, a forma como Logan/Wolverine derrota o
seu adversário no seu último combate. Também não era preciso exagerar (tanto!)…