08/01/2016

Wolverine: Origem I e II e Logan





Há segredos que existem para ser contados. Outros, deviam ser guardados para sempre. Alguns, só deviam ser contados em grande. Wolverine: Origem, corresponde – em parte… - a um destes últimos casos.

Durante anos tabu da Marvel em relação a um dos seus principais (super-)heróis, a origem – e a vida pré-X-Men - de Wolverine permitiu – devido à total falta de memória que ele revela em relação ao seu passado - muitas tentativas de adivinhação e o contar de várias histórias, de uma forma ou outra ambientadas no seu passado.

Logan, lançado pela G. Floy na Comic Con Portugal - aproveitando a presença do seu desenhador, Eduardo Risso - e agora já disponível em banca, é um desses casos.
Por um lado, história de amor quão intenso quanto fugaz, por outro, desespero e vontade de vingança como únicos sentimentos capazes de manter alguém vivo, foi ambientado no Japão por Brian K. Vaughan, e tem um dos seus pontos fulcrais no dia do lançamento da bomba atómica em Hiroshima. É mais um retrato – possível – de um passado tão longo quanto rico, aberto a todas as interpretações, que brilha pela representação dada por Risso ao vilão da história e pela intensidade dramática que consegue atingir.
Como extra, a edição traz a pré-proposta apresentada por Vaughan à Marvel, o que permite compreender alguns dos passos existentes entre o nascimento de uma ideia na mente do escritor e a sua apresentação final em forma de livro ao leitor.

Quanto a Origem I, clássico inegável apesar de não contar ainda 15 anos - já editado em português pela Devir, primeiro como mini-série depois em volume compilativo - é uma das explicações possíveis – credíveis e consistentes - para o ‘nascimento’ do herói que hoje conhecemos.
A chegada da jovem Rose, recém-órfã, à mansão dos Howlett, para servir como (pouco mais que) criada, é a nota introdutória num universo fechado, dominado pelo intolerante patriarca da família, a quem o filho tenta fazer frente em busca de afirmação, pessoal e social. A clausura da esposa – provocada pela morte de um filho e por um segredo (mal) escondido mas não revelado – e a união que se vai estabelecer entre as crianças – Rose, James (futuro herdeiro da família) e Cão (filho de um dos rendeiros) – será quebrada no dia em que uma desgraça se abate sobre a casa.
Em fuga, acusados de um crime que não cometeram, Rose – a narradora e personagem fulcral da trama – e James, acabarão num sórdido acampamento de mineiros, onde terão que se reinventar para sobreviver.
Esta é uma bela história de um – vários… – amor(es) trágico(s) - que pode/deve ser lida mesmo por quem não frequenta universos de super-heróis. Tem contornos shakespearianos, e um triângulo - no final quarteto - amoroso na sua base, embora este só tardiamente se defina em toda a sua importância. Segredos incómodos (mal) guardados e um – inevitável – confronto entre ricos e pobres, condimentado com prepotência, diversos ódios, intolerância, desejos de vingança e muita violência, latente ou libertada, são outros ingredientes da história.
E é uma bela origem – uma das possíveis…? - para um herói marcante e com a importância que Wolverine tem, superiormente desenhada num estilo realista – e europeu, apetece-me escrever - por um Andy Kubert na posse de todas as suas faculdades gráficas, bem servidas pelas excelentes cores de Richard Isanove.

A diferença para a sua – inevitável? – continuação, Wolverine: Origem II, começa logo no grafismo. E mesmo que as sequências iniciais animalistas até sejam interessantes – possivelmente pela diferença que marcam – a verdade é que com a continuação o interesse gráfico da obra vai decaindo, tal como acontece com o seu enredo.
Impulsionada pela máquina de cifrões que move a indústria dos comics – com tudo de mau e de bom que isso significa – Origem II recupera Logan alguns meses – anos? – após os acontecimentos trágicos que encerram o primeiro volume e apresentam-no num estado semi-selvagem, vivendo entre animais e evitando os seres humanos. Perseguido como fera, explorado enquanto tal, com um enorme sentimento de culpa por todos os relacionamentos destruídos de que se sente/há-de sentir culpado, Logan – Wolverine, estando lá, só se revelará mais tarde na sua plenitude – balança entre as suas personalidades animal e humana, sem conseguir controlar qualquer delas.
Sem a profundidade e a consistência do primeiro tomo, soando mais como continuação oportunista ao serviço de uma ideia, do que como uma série de boas ideias ao serviço de uma história, Origem II – em oposição à mini-série original agora compilada – acaba por ser um exemplo dos riscos da exploração excessiva – e pouco inspirada - do tal passado obscuro(, rico e estimulante?) de Wolverine que, tal como o mutante, deve ser abordado com todos os cuidados.

Wolverine: Origem I
Paul Jenkins (argumento)
Andy Kubert (desenho)
Richard Isanove (cor)
G. Floy Studio
Portugal, Junho de 2015
170 x 260 mm, 168 p., cor, capa dura
ISBN 978-87-91630-93-4
PVP: 11,99 €

Wolverine: Origem II
Kieron Giellen (argumento)
Adam Kubert (desenho)
G. Floy Studio
Portugal, Novembro de 2015
170 x 260 mm, 128 p., cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-00-9
PVP: 10,99 €

Wolverine: Logan
Brian K. Vaughan (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
G. Floy Studio
Portugal, Dezembro de 2015
170 x 260 mm, 80 p., cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-05-4
PVP: 9,99 €

12 comentários:

  1. Atenção Pedro, os livros Origem são desenhados por dois Kubert diferentes. No 1º o Andy e no 2º o Adam.

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  2. Ia fazer esse comentário, mas já foi apontado! Irmãos, filhos de Joe Kubert, mas possuidores de estilos algo diferentes.

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    1. Erro de palmatória indesculpável... já corrigido.
      Obrigado aos dois pela leitura atenta.
      Boas leituras!

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    2. Reignfire10/1/16 01:08

      Sim. Algo diferentes, mas não de todo, diferentes. Se calhar há quem tenha dificuldades em diferenciar os desenhos dum e doutro, o que não é o meu caso, dado que consigo distingui-los. Mas nota-se que a influência de Joe Kubert está nos 2. Se me perguntarem quais os desenhadores mais parecido com o Andy Kubert, eu logo diria que são o Joe e o Adam, e o mesmo se passa vice-versa.

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  3. Logan não nada a ver só mesmo porque tem o Vaughan a tentar ser Claremont.

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  4. Origens 2 muito jogo mental Sinistro que nao era so obcecado pela Jean.

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  5. Logan está carote, para os preços que a G. Floyd pratica. Mas lá terá que ser. Risso está soberbo na arte.

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  6. Boas!

    Desconhecia que o Origens II foi lançado em Novembro 2015.
    Podem-me indicar quem é a distribuidora para ver se consigo um exemplar?

    Obrigado!

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  7. Não me parece que encontres agora o livro nas bancas, já que ele saiu há 1 mês. Podes comprar na Fnac- loja física ou online. Podes também tentar contactar a editora via mensagem privada na sua página de facebook a saber se podem enviar o livro pra tua casa: https://www.facebook.com/GFloyPortugal/?fref=ts .

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  8. O dois e o Logan fazem parte do segmento certo?

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    Respostas
    1. André,
      O origens II é uma espécie de continuação do primeiro volume, feita mais tarde.
      O Logan é uma história completa, que não tem qualquer ligação com as outras duas.
      Boas leituras!

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