Há segredos que existem para ser contados. Outros, deviam
ser guardados para sempre. Alguns, só deviam ser contados em grande. Wolverine: Origem, corresponde – em
parte… - a um destes últimos casos.
Logan, lançado pela
G. Floy na Comic Con Portugal - aproveitando a presença do seu desenhador,
Eduardo Risso - e agora já disponível em banca, é um desses casos.
Por um lado, história de amor quão intenso quanto fugaz, por
outro, desespero e vontade de vingança como únicos sentimentos capazes de
manter alguém vivo, foi ambientado no Japão por Brian K. Vaughan, e tem um dos
seus pontos fulcrais no dia do lançamento da bomba atómica em Hiroshima. É mais
um retrato – possível – de um passado tão longo quanto rico, aberto a todas as
interpretações, que brilha pela representação dada por Risso ao vilão da
história e pela intensidade dramática que consegue atingir.
Como extra, a edição traz a pré-proposta apresentada por
Vaughan à Marvel, o que permite compreender alguns dos passos existentes entre
o nascimento de uma ideia na mente do escritor e a sua apresentação final em forma
de livro ao leitor.
Quanto a Origem I,
clássico inegável apesar de não contar ainda 15 anos - já editado em português
pela Devir, primeiro como mini-série depois em volume compilativo - é uma das
explicações possíveis – credíveis e consistentes - para o ‘nascimento’ do herói
que hoje conhecemos.
A chegada da jovem Rose, recém-órfã, à mansão dos Howlett,
para servir como (pouco mais que) criada, é a nota introdutória num universo
fechado, dominado pelo intolerante patriarca da família, a quem o filho tenta
fazer frente em busca de afirmação, pessoal e social. A clausura da esposa –
provocada pela morte de um filho e por um segredo (mal) escondido mas não revelado
– e a união que se vai estabelecer entre as crianças – Rose, James (futuro
herdeiro da família) e Cão (filho de um dos rendeiros) – será quebrada no dia
em que uma desgraça se abate sobre a casa.
Em fuga, acusados de um crime que não cometeram, Rose – a
narradora e personagem fulcral da trama – e James, acabarão num sórdido
acampamento de mineiros, onde terão que se reinventar para sobreviver.
Esta é uma bela história de um – vários… – amor(es)
trágico(s) - que pode/deve ser lida mesmo por quem não frequenta universos de
super-heróis. Tem contornos shakespearianos, e um triângulo - no final quarteto
- amoroso na sua base, embora este só tardiamente se defina em toda a sua
importância. Segredos incómodos (mal) guardados e um – inevitável – confronto
entre ricos e pobres, condimentado com prepotência, diversos ódios,
intolerância, desejos de vingança e muita violência, latente ou libertada, são
outros ingredientes da história.
E é uma bela origem – uma das possíveis…? - para um herói
marcante e com a importância que Wolverine tem, superiormente desenhada num
estilo realista – e europeu, apetece-me escrever - por um Andy Kubert na posse
de todas as suas faculdades gráficas, bem servidas pelas excelentes cores de
Richard Isanove.
A diferença para a sua – inevitável? –
continuação, Wolverine: Origem II,
começa logo no grafismo.
E mesmo que as sequências iniciais animalistas até sejam interessantes –
possivelmente pela diferença que marcam – a verdade é que com a continuação o interesse
gráfico da obra vai decaindo, tal como acontece com o seu enredo.
Impulsionada pela máquina de cifrões que move a indústria
dos comics – com tudo de mau e de bom que isso significa – Origem II recupera Logan alguns meses – anos? – após os
acontecimentos trágicos que encerram o primeiro volume e apresentam-no num
estado semi-selvagem, vivendo entre animais e evitando os seres humanos.
Perseguido como fera, explorado enquanto tal, com um enorme sentimento de culpa
por todos os relacionamentos destruídos de que se sente/há-de sentir culpado,
Logan – Wolverine, estando lá, só se revelará mais tarde na sua plenitude –
balança entre as suas personalidades animal e humana, sem conseguir controlar
qualquer delas.
Sem a profundidade e a consistência do primeiro tomo, soando
mais como continuação oportunista ao serviço de uma ideia, do que como uma
série de boas ideias ao serviço de uma história, Origem II – em oposição à mini-série original agora compilada –
acaba por ser um exemplo dos riscos da exploração excessiva – e pouco inspirada
- do tal passado obscuro(, rico e estimulante?) de Wolverine que, tal como o
mutante, deve ser abordado com todos os cuidados.
Paul Jenkins (argumento)
Andy Kubert (desenho)
Richard Isanove (cor)
G. Floy Studio
Portugal, Junho de 2015
170 x 260 mm, 168 p., cor, capa dura
ISBN 978-87-91630-93-4
PVP: 11,99 €
Wolverine: Origem II
Kieron Giellen (argumento)
Adam Kubert (desenho)
G. Floy Studio
Portugal, Novembro de 2015
170 x 260 mm, 128 p., cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-00-9
PVP: 10,99 €
Brian K. Vaughan (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
G. Floy Studio
Portugal, Dezembro de 2015
170 x 260 mm, 80 p., cor, capa dura
ISBN 978-84-16510-05-4
PVP: 9,99 €
Atenção Pedro, os livros Origem são desenhados por dois Kubert diferentes. No 1º o Andy e no 2º o Adam.
ResponderEliminarIa fazer esse comentário, mas já foi apontado! Irmãos, filhos de Joe Kubert, mas possuidores de estilos algo diferentes.
ResponderEliminarErro de palmatória indesculpável... já corrigido.
EliminarObrigado aos dois pela leitura atenta.
Boas leituras!
Sim. Algo diferentes, mas não de todo, diferentes. Se calhar há quem tenha dificuldades em diferenciar os desenhos dum e doutro, o que não é o meu caso, dado que consigo distingui-los. Mas nota-se que a influência de Joe Kubert está nos 2. Se me perguntarem quais os desenhadores mais parecido com o Andy Kubert, eu logo diria que são o Joe e o Adam, e o mesmo se passa vice-versa.
EliminarLogan não nada a ver só mesmo porque tem o Vaughan a tentar ser Claremont.
ResponderEliminarOrigens 2 muito jogo mental Sinistro que nao era so obcecado pela Jean.
ResponderEliminarOptimus andas dialético.
ResponderEliminarLogan está carote, para os preços que a G. Floyd pratica. Mas lá terá que ser. Risso está soberbo na arte.
ResponderEliminarBoas!
ResponderEliminarDesconhecia que o Origens II foi lançado em Novembro 2015.
Podem-me indicar quem é a distribuidora para ver se consigo um exemplar?
Obrigado!
Não me parece que encontres agora o livro nas bancas, já que ele saiu há 1 mês. Podes comprar na Fnac- loja física ou online. Podes também tentar contactar a editora via mensagem privada na sua página de facebook a saber se podem enviar o livro pra tua casa: https://www.facebook.com/GFloyPortugal/?fref=ts .
ResponderEliminarO dois e o Logan fazem parte do segmento certo?
ResponderEliminarAndré,
EliminarO origens II é uma espécie de continuação do primeiro volume, feita mais tarde.
O Logan é uma história completa, que não tem qualquer ligação com as outras duas.
Boas leituras!