Se há dias abordei
aqui a(s) origem(ns) de Wolverine, hoje são os (possíveis) fins de Hulk que
baseiam esta nova abordagem ao universo Marvel, tendo como ponto fulcral a percepção
de que nem sempre boas ideias originam boas histórias.
Este volume – integrado na colecção Poderosos
Heróis Marvel que a Levoir e o Público disponibilizaram ao longo do
Verão/Outono – inclui duas narrativas que funcionam como antítese.
Na primeira, que dá título ao volume, Hulk viaja uma centena
de anos ao futuro, chamado por um decrépito Rick Jones, para combater uma
versão despótica de si mesmo, num mundo em desintegração após um conflito que
quase destruiu a raça humana. Transformado em libertador pela facção revolucionária,
terá que se enfrentar a si próprio - e ao fantasma sempre latente de Bruce
Banner - e o equilíbrio de forças só será quebrado pelo recurso a um pormenor
que deixo ao leitor descobrir. E que, assente nos paradoxos proporcionados
pelas viagens do tempo – fraqueza temática minha que continua a deslumbrar-me –
resulta numa bem urdida explicação para a origem do próprio Hulk, surgindo como
principal (e boa) ideia numa trama pouco motivadora que parece existir apenas
para fazer brilhar o conceito final.
Escrito, uma década mais tarde, pelo mesmo Peter David, - e
também ambientado num futuro pós-apocalíptico que fez de Hulk/Banner o único
sobrevivente da raça humana na Terra – O Fim
- já incluído numa das colecções de clássicos da BD do Correio da Manhã e que na
sua origem integrou um conjunto de histórias que narravam finais possíveis para
os super-heróis Marvel – parte igualmente de uma ideia forte que, no entanto,
depois, é desenvolvida com igual impacto numa narrativa assente nos monólogos –
díspares mas complementares – de Bruce Banner e do Hulk, consoante a
personalidade que a cada momento domina.
Ensaio sobre a morte (nem sempre) inevitável e sobre o peso
avassalador da solidão - agravada pela imortalidade - Hulk: O Fim, assume-se como uma das mais conseguidas abordagens à
dualidade homem/monstro presente na essência do gigante verde e pelo seu tom
trágico obriga a uma incómoda reflexão sobre o futuro.
O tom semi-caricatural do traço de George Pérez em contraste
com o estilo realista de Peter David e a aplicação de cor – sofrível e em tons
berrantes no primeiro caso, maioritariamente em tons de verde, cinza e ocre no
segundo, acentuando o seu tom angustiado – vincam ainda mais as diferenças
entre estas duas histórias do Hulk.
Hulk: Futuro Imperfeito
Poderosos Heróis Marvel #14
Peter David (argumento)
George Pérez e Dale Keown (desenho)
Joe Wems (arte-final)
Tom Smith e Dan Kemp (cor)
Levoir/Público
Portugal, Outubro de 2015
Levoir / Jornal Público
Portugal, 22 de Outubro de 2015
175 x 265 mm, 144 p., cor, cartonado
8,90 €
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