19/10/2009

Efeméride - E há 50 anos Crumb criou Fritz the Cat

A 15 de Outubro de 1959, Robert Crumb, nascido em 1943, esboçava Fritz the Cat, longe de imaginar o sucesso que lhe traria uma personagem inspirada num gato que teve em criança e na personagem então criada para divertir as suas irmãs e que só seria impresso cinco anos mais tarde.
Marco na história da banda desenhada underground norte-americana, de que muitos consideram Crumb o pai, Fritz é um animal antropomórfico, que serviu ao autor para criticar de forma ácida e mordaz a América dos anos 60 e a sua cultura pop, em narrativas delirantes e politicamente incorrectas, em que tudo é questionado. Nas primeiras histórias o traço de Crumb, onde se reconhecem ainda influências de Disney, é limpo e despojado, rápido e ágil, como se a urgência de narrar a tal obrigasse, mas, com o passar dos anos, emerge o estilo personalizado do autor, mais impressivo e sujo e com os cenários bem preenchidos.
Morador numa grande cidade, preguiçoso, egocêntrico, interesseiro, volúvel, sem princípios éticos ou morais, provocador de conflitos e desejoso de experiências sexuais com qualquer fêmea, independentemente da sua raça, o felino fez de Crumb tudo aquilo que ele não desejava: um autor respeitado e aclamado, com a sua criação transformada num objecto de desejo da sociedade de consumo. A boa aceitação da longa-metragem com o seu nome, dirigida por Ralph Bakshi, em 1972 - que foi o primeiro filme de animação a ser classificado para adultos nos EUA - foi a gota de água, que levou o desenhador a decidir acabar com a ele. Isso sucederia nesse mesmo ano, em “The death of Fritz the Cat”, em que o felino morre às mãos de uma ex-namorada, uma avestruz neurótica e enciumada, armada com um picador de gelo, ainda antes da estreia do segundo filme animado, “The nine lives of Fritz the Cat” (1974).
Publicado inicialmente na revista “Help” e depois em alguns jornais e em publicações underground, “Fritz the cat”, cujas histórias, pin-ups e ilustrações diversas continuam a ser regularmente reeditadas, fez uma breve aparição em Portugal, no jornal “Lobo Mau” (1979).

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 15 de Outubro de 2009)

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