Maximilien Le Roy (argumento e desenho)
Casterman (França, Abril de 2010)
170 x 240 mm, 96 p., cor, brochado com badanas
Resumo
Esta é (uma parte d)a história de Mahmoud Abu Srour, um jovem palestiniano de 22 anos que vive no campo de refugiados de Aida, na Cisjordânia.
Ele trabalha na mercearia da família, onde foge do quotidiano através dos seus desenhos e dos sonhos que tem com as jovens ocidentais que por vezes passam por lá. Como Audrey, uma francesa que deverá chegar dentro de dias para passar com ele o fim-de-semana, em casa de uma irmã. Só que para isso, terá que ignorar as leis (impostas) e ultrapassar o muro construído pelos israelistas…
Desenvolvimento
Este é um reato assumidamente subjectivo e politizado. Porque escrito na primeira pessoa (embora por entreposto autor). Porque relata experiências vividas. Porque só mostra – só pode mostrar – o seu próprio ponto de vista, só narra aquilo que sentiu na pele, só revela o que viveu do lado de lá… do muro que separa os territórios palestinianos… do resto do mundo (que por vezes se diz civilizado). Porque fala de uma realidade que os países ocidentais não conseguem (não querem...?) resolver.
Mahmoud Abu Srour - Maximilien Le Roy em sua vez, num relato em que o tom utilizado é antes de tudo autobiográfico…, se assim se pode dizer - conta-nos episódios diversos da sua vida, por vezes narrados em curtos flashbacks, a preto e branco ou entremeado com alguns dos seus esboços, feitos com cores vivas, que contrastam com os tons esverdeados que dominam a narrativa principal. Conta como o terreno que o pai possuía lhes foi retirado pela força para ser construído um colonato judaico, algumas (más) experiências com a polícia ou o exército israelita, os expedientes para atravessar o muro quando não se tem autorizações válidas, a revolta perante aqueles que pactuam com os ocupantes, a incompreensão face à não-actuação da ONU e dos outros países…
Apesar de tudo isto, de Maximilien Le Roy explanar muitas das ideias– e ideais – de Abu Srour e das razões e motivos que estão na sua origem, num longo solilóquio, raramente quebrado por diálogos pontuais com outras personagens, a leitura faz-se de forma agradável e a narrativa, se bem que de ritmo (propositadamente) lento, para o leitor poder pesar cada palavra, cada silêncio, está longe de se tornar maçadora ou desinteressante. Pelo contrário prende e cativa, é incómoda, até, deixando no final uma sensação de angústia face à nossa impotência perante a realidade exposta.
A reter
- A forma como Le Roy se identificou totalmente com Abu Srour.
- O modo como o autor faz respirar o texto, através da visualização fragmentada de pequenos gestos quotidianos, como o acender do cigarro nas quatro vinhetas que compõem a prancha da página 8, aqui reproduzida.
- A textura do desenho, devida ao papel utilizado.
Curiosidades
- O livro inclui, no seu final, uma fotobiografia de Mahmoud Abu Srour, uma reportagem fotográfica de Maxemce Emery na Palestina e uma entrevista com Alain Gresh, um jornalista especializado no Médio Oriente.
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