Bryan Lee O’Malley (argumento e desenho)
Booksmile (Portugal, Outubro de 2010)
127 x 190 mm, 168 p, pb, brochado
Resumo
Scott Pilgrim tem 23 anos, é canadiano, viciado em jogos de computador, está desempregado, toca numa banda de garagem e namora com uma miúda gira da escola secundária. O problema, é que entretanto conhece Ramona Flowers e encontra-se dividido entre “dois amores”- fora as antigas namoradas que possam reaparecer.
A juntar a tudo isto, há ainda a necessidade de combater (literalmente) os Sete Maléficos ex-Namorados de Ramona para poder ficar com ela.
Desenvolvimento
Se o resumo lhe pareceu estranho, dando a ideia de ter havido uma “colagem acidental” entre excertos de duas obras diferentes, deixe-se surpreender: a sensação é compreensível mas a história é mesmo assim.
É verdade que, na sua base, Scott Pilgrim traça um retrato fiel e (bem) próximo da realidade da geração jovem adulto actual, perdida numa fase de transição – que noutros tempos significava passar dos estudos para o mercado de trabalho, mas que hoje não passa de um prolongamento – muitas vezes vazio – da juventude, sem directrizes nem ambições. Emprego é difícil de encontrar, o amadurecimento (intelectual, sentimental) surge (muito) mais tarde, o assumir de posições/relações/objectivos é raro. Em suma, a indefinição – a todos os níveis – rege as vidas daqueles que serão, um dia – bem mais tarde do que muitos desejavam e do que dantes acontecia – a realidade e/ou o futuro das nossas sociedades.
Scott Pilgrim, surge, assim, pelo que atrás fica (d)escrito, como o estereótipo do completo perdedor, vivendo às custas do amigo gay, tocando sem grande empenho numa banda de garagem, saltando entre namoradas sem assumir (ou se assumir) maiores compromissos, deslumbrado pelo que está longe, dando de barato o que conseguiu (mas raramente conquistou).
É neste registo, repleto de referências actuais, da BD e dos videojogos, mas também da música, do cinema e da TV, que O’Malley desenvolve um relato geralmente rápido – embora também tenha momentos mortos, correspondentes aos (muitos) vazios da vida de Pilgrim - condimentado com humor, que inclui alusões ao futuro dos seus próprios quadradinhos. A par disto, revela uma invulgar segurança na gestão dos diálogos (das palavras e dos silêncios), naturais, espontâneos, não mais palavrosos do que o necessário; numa palavra: credíveis.
E depois, em absoluto contraste com o tom realista da narrativa e dos cenários (cujos locais de referência são facilmente reconhecíveis), acrescenta um toque surpreendente e insólito: combates de artes marciais (irreais e) grandiosos, na esteira da tradição geralmente associada à BD nipónica, quebrando (com a ajuda do já referido humor) o tom depressivo que a história poderia tomar e conquistando novos leitores para ela.
Assim, junta ao estilo também a forma porque, graficamente, a referência do autor é a BD asiática, utilizando um traço vivo e dinâmico, perso-nagens de olhos esbuga-lhados e o recurso frequente a linhas de movi-mento, num todo que podendo não ser muito atraente em termos plásticos, é extremamente funcional em termos narrativos. O que é fundamental numa banda desenhada.
A reter
- O aparecimento de uma nova editora na área da banda desenhada. Mais a mais, com uma escolha inteligente, lançada atempadamente, de forma a estar disponível – e poder ser trabalhada – quando a 8 de Dezembro estrear o filme baseado nesta obra. A seguir com atenção.
- A qualidade dos diálogos, não pelo seu “recorte literário”, mas pela perfeita adequação à narrativa e à faixa etária que ela retrata.
- Sem requintes, a edição é sóbria e bem conseguida (com a excepção abaixo referida), o que lhe permite um preço interessante e competitivo. O que é importante porque um livro também deve ir ao encontro (do poder de compra) dos seus leitores preferenciais. No caso, uma faixa jovem adulto, que facilmente se identificará com o protagonista, os seus gostos e os seus dramas. O que, se não exclui os outros leitores, possivelmente, também não os atrairá especialmente – o que não é crime nenhum!
Menos conseguido
- Confesso que o traço muito estilizado de O’Malley não me encheu as medidas, especial-mente porque obriga a um certo esforço para identificar as diferentes personagens.
- A forma como foram guilhotinados (pelo menos os meus exemplares d)os livros, “aparando” as margens de alguns balões de texto.
Para quem quiser ir ver o filme de borla... depois de ler o livro! http://blogue.booksmile.pt/2010/11/temos-bilhetes-para-a-antestreia-do-filme-scott-pilgrim-contra-o-mundo-em-lisboa-e-no-porto-queres-um/
ResponderEliminar