28/02/2011

Scenes from an Impending Marriage

A prenuptial memoir
Adrian Tomine (argumento e desenho)
Drawn & Quarterly (EUA, Janeiro de 2011)
135 x 150 mm, 56 p., pb, cartonado, 9,95 $USA


De entre os muitos autores – muitos deles então ainda a começar nos quadradinhos – que conheci e descobri no Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto – Miguelanxo Prado, Seth, Roberta Gregory, Chester Brown, Bezian, Dave McKean, Ed Brubaker, Étienne Davodeau, Lewis Trondheim, Marjane Satrapi… - alguns há cuja carreira tenho acompanhado (mais ou menos) de perto. Adrian Tomine é um deles.
Dono de um traço limpo, fino e delicado, expressivo e bastante pormenorizado, onde se adivinha mais trabalho do que espontaneidade, revelou-se em Optic Nerve, um mini-comic auto-editado, que seria depois compilado em “32 stories”, pela Drawn & Quarterly, editora onde o autor retomou o título.
Pouco social, um tanto ou quanto obsessivo compulsivo, a par das suas ilustrações para, entre outros, The New Yorker, tem narrado também em obras como Sleepwalk and Other Stories e no (aclamado) Shortcomings, aspectos corriqueiros (ou nem tanto) do seu dia-a-dia, dando uma visão sensível, algo crítica e, por vezes, mesmo mordaz da sua intimidade e da forma como (não?) se relaciona com os outros, num exercício onde se adivinha muito muito de catarse e que fez dele um dos expoentes mais interessantes da autobiografia em quadradinhos.
Agora, com este (mini-)livro, continuando fiel à temática e à linha condutora que sempre o tem norteado, revela uma faceta menos presente nos títulos anteriores, um sentido de humor ácido e irónico, com o qual narra (e de certa forma desmonta) os preparativos para o seu casamento iminente, numa série de curtos episódios, directos e incisivos. Com os quais ilustra bem, por vezes mesmo de forma incómoda, o grande negócio que é hoje a organização de (qualquer) casamento, onde não podem faltar convites, fotógrafos e cameramen, refeições de arromba, bailaricos, fogo de artificio, DJs e sabe-se lá que mais, transformando num autêntico arraial impessoal aquilo que na origem deveria ser um momento significativo e marcante da vida de um casal.
Se Tomine mantém o seu traço habitual, que funciona perfeitamente apesar do reduzido tamanho das páginas, não deixam de ser curiosos dois piscares de olhos a dois clássicos dos quadradinhos americanos: Familly Circus, de Bill Kean, nalguns gags de imagem única que surgem por entre as curtas narrativas que compõem este livrinho, e o seu choro (p. 29) “à la Peanuts”, de Schulz, que não deixa de fazer pensar que os preparativos para um eventual casamento de um Charlie Brown trintão não andariam muito longe daqueles que Tomine narra.
Se, pessoalmente, não sou grande fã de casamentos (menos ainda dos actuais casamentos…), confesso que sinto alguma inveja dos convidados de Tomine, pois levaram como recordação do evento um comic original com a maior parte das bandas desenhadas agora incluídas neste livro.

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