Chappatte
Glénat + Courrier International + Le Temps
(França, 23 de Novembro de 2011)
185 x 255 mm, 112 p.,
pb e cor, brochado
18,00 €
Resumo
Compilação de BD reportagens realizadas pelo autor na
Tunísia, Nairobi, Gaza, Tshinvali, Costa do Marfim e no palácio presidencial
francês…
Desenvolvimento
Terceira colectânea de bandas desenhadas curtas em pouco
tempo aqui nas minhas leituras, ao contrário de Sábado dos meus amores e PontasSoltas – Cidades, que privilegiam a crónica social e urbana, este livro
exemplifica um género que Joe Sacco (de alguma forma) celebrizou e mediatizou:
as reportagens aos quadradinhos.
Habitualmente desenhador de imprensa, Chappatte é desde 1995
também “repórter desenhador” do jornal suíço Le Temps de Genéve, onde foram
originalmente publicadas estas reportagens que chegam a ultrapassar a vintena de
pranchas, igualmente veiculadas pelo Courrier International ou o International
Herald Triobune.
Esta sua opção – explicada no prólogo – “num tempo em que a actualidade está repleta
de imagens, fotos, vídeos”, deve-se ao facto de o “traço negro, no seu
despojamento, permitir uma relação única (…) dando a ver sem voyeurismo”.
As reportagens agora compiladas, são baseadas na sua experiência
pessoal – “o que desenho, vi” – nas reportagens que trabalha “como qualquer
jornalista, “fazendo entrevistas, tirando fotos”. E Chappatte reforça esse
aspecto incluindo algumas fotos dos seus entrevistados para responder aqueles
que lhe perguntam “se é verdade o que desenhou”.
Longe de delicodoces roteiros turísticos - até pelo traço utilizado,
mais próximo do cartoon na sua (falsa) simplicidade, contrariada pela aplicação
cirúrgica de sombras ou de alguma cor - estes instantâneos de cidades em estado
de sítio ou devastadas por motins, revoluções ou guerras, ganham outra força
pela combinação entre o tom factual que o autor utiliza, a inclusão de anedotas
locais e as suas impressões, sensações e receios, surgindo, assim, o autor despojado
da imagem heróica que (muitas vezes) os repórteres (televisivos) tanto gostam
de (falsamente) ostentar.
E se tudo isto reforça a autenticidade destes relatos, confere-lhes
igualmente um tom humano – acentuado pela exposição dos dramas pessoais a que
estão sujeitos alguns daqueles com quem Chappatte se cruza - que se sobrepõem
mesmo à “grande notícia” por detrás deles.O que redobra o interesse destas reportagens aos
quadradinhos, que esta edição em livro permitiu resgatar à voragem natural que
o tempo exerce sobre as suas versões originais nas páginas dos jornais.
A reter
- A combinação da reportagem com o factor humano.
- A ironia de incluir neste livro sobre algumas das cidades
mais perigosas do mundo o palácio presidencial francês, dando relevo à sua
costela de cartoonista.
Menos conseguido
- O principal problema da reportagem em BD: o desfasamento
temporal entre a sua realização e a sua publicação, apesar de alguns destes
relatos não terem perdido a sua actualidade.
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