Ricardo Cabral
ASA (Portugal, Outubro de 2011)
200 x 280 mm, 92 p., cor, cartonado
17,95 €
Resumo
Colectânea que compila diversas histórias soltas de Ricardo
Cabral, inicialmente publicadas em diferentes locais, unidas pela temática
Cidades: “5 jours – parte I” (em Marselha), “Da Cidade” (Portimão), “The Lisbon
Studio” (Lisboa), “Lágrimas de Elefante” (Lódz), “Barcelona, Kosovo, Barcelona”
(Barcelona) e “5 jours – parte II” (de novo Marselha).
Desenvolvimento
Nota prévia: a edição de um álbum deste género – com
narrativas curtas, não inéditas – entre nós, não sendo caso único, é bastante
raro, merecendo, só por isso, destaque. Porque significa uma aposta séria da
editora no autor e porque significa – também – que ele já tem o seu público, o
que, de alguma forma, garante aquela aposta.
Posto isto, quero marcar a coincidência de, num curto espaço
de tempo, depois de “Sábado dos meus amores”
, trazer a As Leituras do Pedro nova colectânea de bandas desenhadas curtas,
género actualmente com existência difícil, na ausência de revistas onde possam
ser (pré-)publicadas.
Com o álbum referido, este “Pontas Soltas” – título bem
significativo e invulgarmente feliz -
tem vários pontos de contacto bem como diferenças fundamentais. Ambos
têm espaços urbanos como ponto de partida e ambos adoptam tons de crónica, é
verdade, mas enquanto naquele, Marcello Quintanilha envereda por uma abordagem bem realista, o
tom de Cabral é mais solto e disperso.
Enquanto Quintanilha opta por um retrato rigoroso do
quotidiano, Cabral faz a ponte entre as suas sensações e as experiências que
viveu em diversas cidades.
Onde Quintanilha traça retratos rigorosos de vidas menos
bafejadas pela sorte, em Cabral são as cidades que ocupam (as vinhetas, as
páginas,) o protagonismo, transformando “Pontas Soltas” se não num guia de
viagem, pelo menos numa porta entreaberta convidando à descoberta dessas
cidades por cada um de nós.
Cidades que são aqui omnipresentes – às vezes as únicas
presenças - no enquadramento dos apontamentos – rápidos, de passagem,
momentâneos - do quotidiano anónimo de gente com quem ele se cruzou por acaso,
ou dos encontros e conversas que teve com quem conviveu.
Apontamentos soltos do
seu próprio quotidiano – adivinha-se Cabral, por vezes (semi-)visível sempre
por detrás da câmara – real ou imaginária – no traçado destes “pequenos
encontros” de que “a vida é feita”, quais “pontas soltas” que nunca
encontraremos para atar, que nunca se encontrarão…
Por isso, porque a narrativa, assim, se torna secundária,
instintivamente o leitor atenta mais no desenho, nas técnicas utilizadas. Entre
elas “a câmara” fotográfica que citei atrás, porque é ela – a par de esboços – a
base do trabalho gráfico do autor português, na preparação destas bandas
desenhadas, cujas técnicas chega a partilhar com os amigos – e connosco,
leitores – numa cumplicidade que chega ao ponto de reproduzir páginas “em
curso” ou esboçadas em suportes como… sacos de papel!
São abordagens diferentes, sim, não exclusivas nem obrigatoriamente
complementares, pois nelas (quase tudo) é diferente, reforço-o, mas que revelam
(outr)as potencialidades narrativas da BD.
Tenho admiração pelo trabalho do Ricardo Cabral. Já li 3 livros dele. Acho no entanto que ainda lhe falta algum estofo literário para as coisas funcionarem na perfeição (Desenho e texto).
ResponderEliminarLili
Olá Lili,
ResponderEliminarHoje estamos de acordo!
Acho que o Ricardo Cabral é mais um cronista urbano gráfico (bastante interessante) do que um ficcionista, se assim se pode escrever.
Mas alguém cuja carreira, sem dúvida, vale a pena continuar a acompanhar!
Boas leituras!