De regresso a Portugal, desta vez para promover “As mais divertidas aventuras da Mônica”,
colecção de 12 volumes distribuída aos domingos – amanhã é publicado o tomo 2 –
juntamente com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias, Maurício de Sousa
acedeu a uma agradável conversa, que começou ao telefone – após lhe interromper
o banho! – e acabou num encontro pessoal.
Com a abertura e a amabilidade habitual, falou desta nova
colecção, do projecto Turma da Mônica Adulta, do livro “Viagem a Portugal” e de
muito mais que não coube aqui ou não fosse ele um grande conversador…
Fica na íntegra – tanto quanto foi possível recriar e transcrever
– a conversa que deu origem ao texto que publiquei no Jornal de Noticias de 30
de Junho último.
As Leituras do Pedro -
Como é que mais de 50 anos depois a Turma da Mônica continua viva, actual,
divertida e sempre a cativar novos fãs?
Maurício de Sousa –
Penso que isso se deve ao facto dos seus componentes terem captado a energia
que encontramos nas crianças, nos filhos, nos jovens cheios de vida
A Mônica não é só baseada na minha filha. Surgiu inspirada
nela mas foi adquirindo pormenores de outras pessoas. A Mônica foi criada cheia
de energia e essa energia continua a chegar até nós hoje.
A cada 5 anos o público da Turma renova-se, o que implica
que a cada 5 anos recomeçamos tudo de novo. Os quadradinhos da Turma são um
mundo em movimento, por isso o nosso esforço vai no sentido de não deixar a
Mônica parar em relação aos usos e costumes das crianças da idade dela. A Mônica,
sem deixar de ser quem é desde o início, tem que falar a mesma linguagem
utilizar as mesmas ferramentas e jogar os mesmo jogos dessas crianças, pois só
assim continuará a agradar aos novos leitores, sem desiludir os antigos.
Para aqueles que abandonaram a turma original quando
cresceram, nós criamos a Turma da Mônica Jovem e, daqui a algum tempo, talvez
dentro de 3 anos, espero criar a turma adulta, mais profunda, mais sofisticada
e mais corajosa.
As Leituras do Pedro
- Tem consciência em que momento a Turma passou a ser “da Mônica”? Como reagiu
o Cebolinha?
Maurício de Sousa –
Comecei a perceber que a Mônica estava a invadir a rua do Cebolinha, a aparecer
cada vez mais, a ganhar cada vez mais protagonismo, cerca de dois anos depois de
a ter criado.
Foi algo natural, que aconteceu, não foi planeado. Aí, tive
de optar por manter o título original ou mudá-lo para a nova protagonista, o
que iria agastar e entristecer o Cebolinha. Nos jornais, ainda hoje, é o nome
dele que surge nos cabeçalhos mas, em 1970, cerca de cinco, seis anos após a
sua estreia, quando surgiu a primeira revista, que era um veículo novo, não
houve hesitação em baptizá-la como Mônica e passou a ser ela a ”dona” da turma.
As Leituras do Pedro
- E como é que o criador da Turma da Mônica, mais de 50 anos depois, continua
mais vivo e dinâmico do que a própria Turma?
Maurício de Sousa –
Sou um babá responsável que controlo e cuido das minhas crianças, tendo atenção
aos seus hábitos, costumes, moral… Ao fazê-lo, evito deparar-me com situações
desagradáveis que poderia não controlar.
Isso obriga-me também a seguir o comportamento actualizado
das minhas criações para não as perder.
As Leituras do Pedro
- Qual a importância do mercado português – onde mensalmente chegam 15 a 20
títulos - para a Turma da Monica?
Maurício de Sousa - Estrategicamente,
com a actual aposta na criação de desenhos animados, que estamos a produzir em
grande número, não podemos encarar apenas o peso económico de cada mercado, mas
também a necessidade de estar no maior número de locais do mundo que for
possível, mesmo que os resultados económicos não sejam os ideais.
Portugal, do ponto de vista económico, não é um grande
mercado, mas é um local simbólico, muito importante para nós, como Pátria-Mãe e
berço da língua que falamos. Está a haver um grande esforço em voltar a ocupar
o lugar que a Turma da Mônica já teve junto dos mais novos mas que de certa
forma ainda desfruta junto da geração que tem 35 a 45 anos.
Se ainda há dúvidas se devemos lançar edições das revistas
de histórias aos quadradinhos em português, essa vai ser a língua dos livros
ilustrados que estão previstos.
Maurício de Sousa – Sim,
“Uma viagem a Portugal”, cuja primeira edição brasileira está praticamente
esgotada ao fim de poucos dias. Trata-se de uma espécie de estudo sobre as
palavras ou expressões diferentes usadas nos dois países para descrever coisas
ou situações similares. Têm grafia diferente, por vezes são completamente
diferentes e apesar de serem sinónimos são desconhecidas num e noutro país.
Como a Mônica é embaixadora oficial do Brasil para o
turismo, também tem como função aproximar as crianças dos dois países.
A edição do livro em Portugal está em estudo, a aguardar por
uma decisão da provável editora.
As Leituras do Pedro -
Como nasceu a colecção “As histórias mais divertidas da Turma da Mônica”?
Maurício de Sousa –
Foi uma ideia da Levoir, dentro do hábito que já existe em Portugal e noutros
países europeus de lançar livros de BD com jornais. Espero que no Brasil algum
periódico se interesse pelo projecto e repita a experiência.
As Leituras do Pedro -
Foi difícil seleccionar as histórias que foram incluídas? Qual o critério
adoptado?
Maurício de Sousa –
Fazer a selecção das histórias não foi nada fácil. Temos uma variedade imensa
de histórias, de temas, de grafismos, pelo que foi muito complicado escolher
tão poucas, pois sempre houve o desejo de conferir uma unidade gráfica e à
colecção e de escolher histórias com temática actual e moderna. Desde 1970
temos acumulado pérolas e com o material seleccionado esperamos satisfazer
tanto os novos leitores quanto os antigos.
Maurício de Sousa –
Temos material para fazer mais 10 anos de edições (risos)! Actualmente
produzimos uma revista por dia no Brasil e temos em stock mais de 40 anos de
histórias aos quadradinhos. E eu continuo a rever todas essas páginas: mais de
1000 todos os meses!
As Leituras do Pedro -
Em Setembro abre na Amadora um parque Temático da Turma da Mônica. O que vamos
encontrar nele?
Maurício de Sousa – Eu
gosto mais de lhe chamar jardim temático. Vai ser um local tranquilo, calmo,
para passear e brincar, com algumas diversões para as crianças andarem, mas
especialmente um local de lazer e convívio, com os cenários das histórias da
turma e esculturas com os seus protagonistas que serão a grande atracção do
espaço. Domingo (30 de Junho) vou visitar a área para acompanhar os primeiros
passos da sua instalação.
Não é só a Mônica que funciona como embaixadora, mas o próprio Maurício de Sousa é um verdadeiro embaixador das Histórias em Quadrinhos em todo o mundo. Sabe do que faz, como deve ser feito e tem o segredo do êxito. Prezo muito a sua amizade e será com muita honra que o receberei na Amadora quando inaugurar o «Parque Temático». Como embaixador digno, espero que convide para ao pé da Turma da Mônica os nossos heróis «Zé Pacóvio & Grilinho» que simbolicamente figuram em alto relevo no troféu de honra do Festival de DB da Amadora. O seu criador, o diretor artístico do mítico jornal O Mosquito, o Tiotónio, ficará orgulhoso e feliz.
ResponderEliminarAquele ABRAÇO ao Maurício de Sousa
José Ruy
Caro José Ruy,
EliminarFica o elogio de um grande senhor da BD portuguesa a um grande senhor da BD brasileira.
Boas leituras... e obrigado pela sua participação.