Policial negro, duro, intenso e violento, com tangente ao
universo dos super-heróis Marvel, Jessica Jones é mais uma leitura muito
aconselhável.
Vivemos tempos diferentes. No que à edição de BD por cá diz
respeito. Há diversidade, novidade, obras clássicas, obras modernas, obras
recentes. Estimulantes.
Esta é uma delas. Diversa, moderna… e estimulante!
A reboque da série TV? Até pode ser, mas não precisa disso.
Justificada pelo nome de Brian M. Bendis, o argumentista? Eventualmente, mas também
contribuiu para a sua afirmação.
Acima de tudo, é uma obra que vale por si, que autojustifica
a edição e que deixa o leitor à espera de mais.
Assenta – narrativamente – no policial negro clássico, tendo
como protagonista o detective – aliás (aliás!) a detective, Jessica Jones,
ex-superheroína Marvel – decadente, em rota de autodestruição, mergulhada no
álcool, na depressão e na autocomiseração, com relacionamentos deprimentes. É
dona e única funcionária da agência Alias que – pelo seu passado, pelo acaso –
é/parece ser especializada em casos relacionados com super-heróis.
Por isso, Jessica vai cruzar-se (de novo), mesmo que por
vezes apenas por interposta pessoa ou porque o passado assim o potencia, com Steve
Rogers/Capitão América, Carol Denvers/Miss Marvel, Rick Jones, Matt Murdock,
Homem-Aranha, Scott Lang, o que (geralmente) apenas vai contribuir para que se
afunde mais.
Incapaz de ver o bem que faz, os resultados que atinge, cada
novo caso é mais um remexer doloroso num passado mal resolvido e cujas memórias
pesam. E cada novo caso é um passo para a humanização das ‘maravilhas’ Marvel,
aproximando-os – humana e emocionalmente – de nós.
Bendis constrói uma narrativa adulta, nervosa, negra, dura, intensa e
violenta (sim, eu sei, parte disto já o escrevi acima) com textos incisivos e directos, com
situações dúbias, com subentendidos. Assente numa planificação que se
desmultiplica em múltiplas vinhetas, em sequências de alto a baixo, da esquerda
para a direita, ao longo de páginas contíguas, com sucessivas mudanças de
dimensão, muitas vezes até num (quase) caos narrativo que apenas realça e faz
sobressair o tom opressivo e muito negro de Alias.
Para o que contribui – e de que maneira - o traço de Michael
Gaydos, pouco atractivo – dou de barato – se considerarmos as vinhetas
isoladas, mas que no conjunto das páginas, na sua sucessão, nas (limitadas)
variações cromáticas que assume, revela uma força assinalável que o tornam o
ideal para nos contar a história da detective privada Jessica Jones.
Inclui os comics #1 a #9 de Alias (edição EUA, 2001-2002)
Jessica Jones: Alias 2
Inclui os comics #10 a #15 de Alias (edição EUA, 2202-2003)
Brian M. Bendis (argumento)
Michael Gaydos (desenho)
Matt Hollingsworth (cor)
G. Floy
Portugal, Junho/Novembro de 2016
175 x 260 mm, 216/152 p., cor, capa dura
(imagens disponibilizados pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
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