20/12/2016

Jessica Jones: Alias 1 e 2







Policial negro, duro, intenso e violento, com tangente ao universo dos super-heróis Marvel, Jessica Jones é mais uma leitura muito aconselhável.

Vivemos tempos diferentes. No que à edição de BD por cá diz respeito. Há diversidade, novidade, obras clássicas, obras modernas, obras recentes. Estimulantes.
Esta é uma delas. Diversa, moderna… e estimulante!
A reboque da série TV? Até pode ser, mas não precisa disso. Justificada pelo nome de Brian M. Bendis, o argumentista? Eventualmente, mas também contribuiu para a sua afirmação.
Acima de tudo, é uma obra que vale por si, que autojustifica a edição e que deixa o leitor à espera de mais.
Assenta – narrativamente – no policial negro clássico, tendo como protagonista o detective – aliás (aliás!) a detective, Jessica Jones, ex-superheroína Marvel – decadente, em rota de autodestruição, mergulhada no álcool, na depressão e na autocomiseração, com relacionamentos deprimentes. É dona e única funcionária da agência Alias que – pelo seu passado, pelo acaso – é/parece ser especializada em casos relacionados com super-heróis.
Por isso, Jessica vai cruzar-se (de novo), mesmo que por vezes apenas por interposta pessoa ou porque o passado assim o potencia, com Steve Rogers/Capitão América, Carol Denvers/Miss Marvel, Rick Jones, Matt Murdock, Homem-Aranha, Scott Lang, o que (geralmente) apenas vai contribuir para que se afunde mais.
Incapaz de ver o bem que faz, os resultados que atinge, cada novo caso é mais um remexer doloroso num passado mal resolvido e cujas memórias pesam. E cada novo caso é um passo para a humanização das ‘maravilhas’ Marvel, aproximando-os – humana e emocionalmente – de nós.
Bendis constrói uma narrativa adulta, nervosa, negra, dura, intensa e violenta (sim, eu sei, parte disto já o escrevi acima) com textos incisivos e directos, com situações dúbias, com subentendidos. Assente numa planificação que se desmultiplica em múltiplas vinhetas, em sequências de alto a baixo, da esquerda para a direita, ao longo de páginas contíguas, com sucessivas mudanças de dimensão, muitas vezes até num (quase) caos narrativo que apenas realça e faz sobressair o tom opressivo e muito negro de Alias.
Para o que contribui – e de que maneira - o traço de Michael Gaydos, pouco atractivo – dou de barato – se considerarmos as vinhetas isoladas, mas que no conjunto das páginas, na sua sucessão, nas (limitadas) variações cromáticas que assume, revela uma força assinalável que o tornam o ideal para nos contar a história da detective privada Jessica Jones. 

Jessica Jones: Alias 1
Inclui os comics #1 a #9 de Alias (edição EUA, 2001-2002)
Jessica Jones: Alias 2
Inclui os comics #10 a #15 de Alias (edição EUA, 2202-2003)
Brian M. Bendis (argumento)
Michael Gaydos (desenho)
Matt Hollingsworth (cor)
G. Floy
Portugal, Junho/Novembro de 2016
175 x 260 mm, 216/152 p., cor, capa dura
14,99 €/12,99 €

(imagens disponibilizados pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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