18/12/2016

Os Túnicas Azuis #5: Rumberley








Um dos aspectos mais marcantes d’Os Túnicas Azuis, é a forma como o argumentista Raoul Cauvin consegue mostrar o pior das batalhas ao mesmo tempo que explana o seu humor na sátira à instituição militar.
Rumberley, é até agora o melhor exemplo.

Abre com o pós-batalha, num cenário devastado, pejado de mortos – sim, mortos numa série de humor! – e feridos e prossegue com o seu transporte para barracões onde, sem condições, com sangue por todos os lados, são tratados – ou não… - como possível.
Ao fim de algumas páginas que chegam a ser incómodas, apesar de amenizadas pela habitual intervenção da dupla protagonista, o sargento Chesterfield (um dos feridos) e o cabo Blutch (que mais uma vez escapou ao combate), o cenário muda para o local onde está (bem) instalado o estado-maior do exército nortista, ocupado em discussões comezinhas e em repor a carne para canhão (leia-se encontrar soldados para o seu exército dizimado).
O cenário muda de novo para a cidadezinha próxima de Rumberley (daí o título deste álbum) onde os feridos serão deixados (leia-se abandonados em território inimigo) enquanto os oficiais vão até à retaguarda…
Da convivência entre aqueles e os habitantes que sobraram na cidade, também dizimada pela guerra e pelas necessidades do exército sulista, vai construir-se o resto do relato.
Denúncia feroz da realidade da guerra, do absurdo da hierarquia militar e da transformação desumana de seres humanos em números, Rumberley volta a brilhar no final que aconselho a descobrirem, que encerra com bofetada de luva branca um relato em que Cauvin a certa altura se deu ao luxo de quase nos fazer acreditar que até havia uma solução para tudo isto…
Com situações a roçar o ridículo, o habitual humor nascido do confronto entre a cobardia e o militarismo dos intervenientes, e a sátira feroz assumida, Rumberley deixa, apesar do humor, um gosto amargo pelo realismo do retrato que nos fica em segundo plano.

Rumberley
Os Túnicas Azuis #5
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
ASA/Público
Portugal, 7 de Dezembro de 2016
215 x 297 mm, 48 p., cor, capa dura
6,95 €

(pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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