07/11/2017

401.ª Tertúlia BD de Lisboa




(nota informativa disponibilizada pela organização)

7 de Novembro de 2017
Convidados especiais: Tiago Cruz e Inês Garcia
R. Portas de santo Antão, nº 58 - Lisboa

SINtra
SINtra é um livro de banda desenhada que resulta de um projeto com cerca de um ano e meio, nascido do argumento de Tiago Cruz e da arte de Inês Garcia.

Esta é uma banda desenhada de terror, publicada pela editora Escorpião Azul e baseada num mito/lenda da zona de Sintra e Azenhas do Mar/Praia das Maçãs.

Sinopse
Em SINtra nem tudo é o que parece. Quando um jovem casal de namorados decide acampar na serra de Sintra envolve-se num estranho acidente, acabando por descobrir que não estão sozinhos…
Quem habita na misteriosa serra? Talvez existam SEGREDOS que nunca devam ser revelados.
Esta e uma história sobre mistério e terror numa das serras mais mágicas de Portugal, baseada em pequenas lendas e mitos locais e com um universo repleto de criaturas fantásticas à mistura que vai colocar Alice e Daniel à prova no que parece ser a noite mais longa das suas vidas.

Tiago Cruz
Nascido em Lisboa, 1989. Licenciado em Comunicação e Artes. Desde pequeno que sempre mostrou interesse na banda desenhada, área que juntamente com os videojogos ocupou maior parte da sua adolescência e tempos livres.
A esses gostos, mais tarde, juntaram-se também o gosto pelo Black, Doom e Death Metal, a escrita, a poesia e o terror. Actualmente trabalha como argumentista freelancer e é estagiário no Serviço Educativo da Culturgest.

Inês Garcia

Nasceu em Lisboa, em 1990. Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, Mestre em Anatomia Artística e atualmente a frequentar o segundo ano do Doutoramento em Belas-Artes na mesma instituição. É também bolseira por parte da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Em termos profissionais é professora assistente na Escola Superior de Educação de Lisboa, leccionando uma disciplina que explora o universo das criaturas fantásticas e do concept art.
A temática dos monstros, bem como o universo do sobrenatural e do terror são grandes interesses que pretende explorar em termos académicos e profissionais.

  

  

 

O TLS Series é uma colecção criada pelos membros presentes do The Lisbon Studio, marcando o regresso deste colectivo ao mundo da edição, depois da publicação da Mag#1 - The Lisbon Studio em 2010 e de 10 números da WebMag publicados online no Issue entre 2013 e 2016.
Com mais de uma década de existência, o The Lisbon Studio surgiu como um espaço partilhado por autores que têm em comum a dedicação pela banda desenhada. Apesar da constituição dos membros do TLS se ter alterado ao longo dos anos, não só se sente a herança dos seus fundadores como a marca deixada por todos os que por aqui passaram.

Arquitectura da memória
O retrato mais vívido do que é uma cidade acontece na banda desenhada. O paralelo estabelece-se à primeira vista: prédios com janelas, páginas com quadrados. Na relação única que se cria entre o texto e a imagem, surgem ligações em tudo semelhantes ao que sucede entre uma cidade e quem a vive, em permanência ou de passagem.
As cidades são palcos de histórias, nem sempre passadas nas suas ruas e avenidas, becos e estradas; às vezes, acontecem dentro da cabeça dos que lá vivem, dos que a visitam, e esse interior é diferente do que seria se existisse noutra cidade. Scott McCloud ilustra assim a coisa: para além do que conseguimos observar espreitando pelas janelas dos prédios, há todo um entretanto que se desenrola no espaço entre elas. Igual na BD: se num quadrado temos um machado sobre uma cabeça, e no seguinte temos um corpo decapitado, é o observador que tira as suas conclusões. As cidades, como as histórias, não são nada sem a cumplicidade de quem supõe esses entretantos.
É lícito dizer que as histórias são feitas da mesma substância que as cidades: há uma arquitectura de memórias trazidas para o papel, estruturas de fundações mais profundas que as dos prédios. A cidade está em constante mutação, e as memórias, aparentemen- te fixas em tinta, mudam de acordo com quem as lê, quem as interpreta. Uma história passada numa cidade muda tantas vezes quantas as que é contada, sendo que é contada de cada vez que é lida.
O Princípio da Incerteza de Heisenberg, usado para descrever a relação subatómica entre o observador e as partículas observadas, é tão ou mais verdadeiro na relação do Homem com a Cidade. Existe uma supersimetria gritante, em que as cidades são o que delas fazemos, e nós somos o que as cidades fazem de nós. Uma circularidade de causa e efeito, ovo que gera galinha que gera ovo. Da distância (esse entretanto) que vai dos homens que as construíram aos que nelas vivem, nascem as histórias.
As cidades podem ser do tamanho de um T0 ou do céu que as sustenta (sim, as cidades começam por ser sustentadas pelo céu, e só depois pelo terreno em que assentam), como na Muralha do Filipe Andrade. A mais íntima das relações que com elas se estabelece pode surgir na sequência da descoberta serena de um quotidiano, como nas 24 Horas da Dileydi Florez. O Rasto do Fantasma, da Marta Teives e do Pedro Moura, revela a cidade como palco de avanços e retrocessos, de reencontros e despedidas adiadas. Um labirinto cheio desses becos sem saída que são os arrependimentos, como no Quiosque da Joana Afonso; uma rotunda em que todas as saídas conduzem a si própria, como em Oumun The Revenge, do João Tércio (ou não fosse esta uma história de vingança).
É no contraste entre a vivência nocturna, dionisíaca e excessiva, e a responsabilidade imposta e diurna, que a Cid Hades do Gonçalo Duarte descobre o absurdo da dita normalidade. E Os Muros de Terrea do Ricardo Cabral ilustram de forma impiedosa o vazio da cidade que se fecha em si mesma em virtude do medo.
Todas estas cidades, reais e imaginárias, são tão verdadeiras como as feitas de metal e betão. Existem no espaço entre os autores e os leitores, são histórias que vivem nesses entretantos. Memórias partilhadas, que se transformam com a partilha; exorcismos e celebrações, janelas para o interior de cada um de nós, porque as cidades – e a banda desenhada – também são espelhos que reflectem a distância entre o que somos e o que gostaríamos de ser, entre o que fomos e o que podemos vir a transformar-nos.
Neste livro, todas as esquinas trazem memórias de um futuro possível.
Filipe Homem Fonseca

Falar sobre o silêncio...
Quando o próprio universo conhecido é uma máquina que vibra na sua particular frequência ininterrupta, qual cósmica lira monocórdica.
É engraçado, e historicamente compreensível, que tal palavra tenha eclodido no sítio mais barulhento do universo conhecido.
No princípio não era o verbo.
É provável que a invenção de tal palavra tenho ganho uma especial ênfase aquando da invenção de um  algarismo de nome “Zero”. A participação de um número que representa a ausência de números na grande festa da matemática trouxe qualquer coisa de místico para a grande rambóia da inteligência humana. O grande silêncio de Deus que, multiplicado por todos os que o escutaram e escutam, resulta de novo em Zero, foi e é a fonte de inúmeras interpretações, das mais doces às mais selváticas, poéticas, serenas, sangrentas.
É, de facto, um conceito muito barulhento. Qualquer coisa como “Much ado about nothing”.
Daí que seja bom trazer o conceito para uma acepção menos absoluta e mais relativa: que é o que muito boa gente tem feito com os conceitos que se referem, no fundo, a coisas com revestimentos metafísicos, nos últimos 500 anos.
A grande e inabalável ausência de ruído, podemos supôr, é a total ausência de percepção, o desmanchar da máquina dos sentidos, a morte. Assim, onde o silêncio está, nós não estamos.
E é precisamente sob este aspecto que ele entra fulgurante nas nossas vidas!
Para nós, bichos, a ausência de respostas ou de sinais que sirvam as nossas necessidades, transforma-se numa espécie de silêncio particular: o medo. Sendo o medo a movimentação inaudível de toda a espécie de predadores e ameaças que cresce dentro de nós. E o amor é... (oh! Finalmente a resposta certa para ganhar o peluche gigante!) a ausência do medo.
Para nós, aqui na Terra, há o silêncio do medo e o silêncio da paz.
Para cada um, o silêncio da sua sorte.
JP Simões


(imagens disponibilizadas pela organização; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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