Ao
segundo ano em Lisboa - tal como tinha sucedido ao terceiro ano em
Matosinhos - a banda desenhada foi posta no ‘seu’ sítio.
Que
é como quem diz teve um cartaz reduzido, menos expositores, menos
autores nacionais, menos filas nos autógrafos. Curiosamente
num ano em que decorreu sob a égide da homenagem a Stan Lee...
Na
prática, sejamos sinceros, isto é apenas um reflexo do seu
verdadeiro peso económico e cultural no nosso país, pese embora o
muito bom momento editorial que se tem vivido nos últimos anos.
[Começo
com uma ressalva: só estive na CCP no sábado dia 14, e dediquei-me
especialmente à BD e aos seus diversos agentes.
E,
já agora, também com uma lembrança: ao contrário do que muitos
têm dito, a Comic Con NÃO é um evento de BD; é um festival de
Cultura Pop, de que a BD é apenas um dos componentes, certamente não
o mais importante e, menos ainda, o mais relevante em termos
económicos.]
Comecemos
pelo cartaz (de BD, claro): dois nomes grandes nas respectivas áreas,
Ed Brubaker e Fabio Civitelli, que primaram pela disponibilidade e
simpatia - e pela partilha do conhecimento que têm dos respectivos
meios.
Depois,
Ivan Reis e Joe Prado, nomes de peso intermédio nos comics de
super-heróis, o menos mediático Greg Tocchini e… mais ninguém.
Ah! Também Patrícia Martins e Raul Allen… Desapareceram os bons
nomes espanhóis, desapareceram completamente os franco-belgas… Em
termos contabilísticos - e como este aspecto parece cada vez mais
importante na Comic Con…. - 5 autores (ou 7...), que comparados com
os 10 de há um ano atrás...
Curiosamente
- dando assim razão à organização - a verdade é que as suas
sessões não foram especialmente concorridas - com excepção de
Brubaker - tendo Reis, Prado e Tocchini estado ‘às moscas’ no
sábado, supostamente o dia das grandes enchentes, altura em que
facilmente consegui os seus autógrafos.
Em termos de comparação posso referir que em 2018, em que também só estive na Comic Con no sábado, só consegui os autógrafos dos autores que entrevistei em particular e com hora marcada aqui para o blog… Seria de esperar que menos autores provocassem mais afluência aos que estavam presentes, mas isso não aconteceu. Possivelmente, menos autores de BD levou a que houvesse menos visitantes interessados nesta área… Até porque a subida dos preços das entradas, também não convidava à comparência.
Em termos de comparação posso referir que em 2018, em que também só estive na Comic Con no sábado, só consegui os autógrafos dos autores que entrevistei em particular e com hora marcada aqui para o blog… Seria de esperar que menos autores provocassem mais afluência aos que estavam presentes, mas isso não aconteceu. Possivelmente, menos autores de BD levou a que houvesse menos visitantes interessados nesta área… Até porque a subida dos preços das entradas, também não convidava à comparência.
[Do
que pude constatar, a pouca afluência às sessões de autógrafos e
painéis foi mais ou menos geral. Eu próprio testemunhei o painel de
Joaquim de Almeida muito despido de público… Diz a imprensa que só
escapou a esta regra a jovem actriz de Strange Things, Millie Bobby
Brown, cuja presença no domingo provocou mesmo desacatos devido à
falta de lugares para todos os interessados. O que, diga-se de
passagem, é uma situação normal e passível de acontecer, numa
Comic Con, como num concerto ou num jogo de futebol...]
Em
termos portugueses, como a organização reduziu o número de
convites para o Artist’s Alley,
foram poucos - muito poucos mesmo… - os autores que se dispuseram a
pagar esse espaço do seu bolso.
No
mesmo sentido, dado o aumento de preços - generalizado - dos
espaços, a Levoir optou por não estar presente e a Casa da BD, que
costumava disponibilizar uma diversificada oferta de edições de BD
brasileiras, este ano cingiu-se apenas à venda dos malfadados Pop’s…
Dessa
forma, para além da novidade do stand do Clube Tex, onde Fabio
Civitelli foi incansável nos desenhos e na simpatia - mas em que,
inexplicavelmente, não havia livros do ranger à venda… - quem
quis BD viu-se reduzido a três opções: a livraria Kingpin Books e
as editoras Devir e G. Floy.
Porque
apesar de tudo as vendas compensam o investimento (crescente)
necessário? Porque, para quem veio desde o início, é pior faltar
agora? Porque a presença compensa pela divulgação, redução de
stocks e eventual conquista de novos leitores? Porque mostrar a sua
arte/livros e contactar directamente com o público faz parte da
profissão de autor/editor?
Cada
um sabe de si, a resposta possivelmente terá um pouco de tudo isto.
Mas a redução do número de stands com BD é inegável.
Como
inegável, também, é a falta de condições do baptizado Geek
Market, uma autêntica sauna em dias de calor como aqueles com que a
Comic Con foi presenteada. É verdade que para o Artist’s Alley
constituiu uma melhoria - outra coisa seria difícil depois das
paupérrimas condições de 2018 - com o aumento de visibilidade dos
autores, agora integrados na área comercial principal, mas a situação esteve longe de ser a ideal.
Positiva
- muito positiva - continua a ser a aposta da organização nos
Galardões BD, que distinguem as melhores edições lançadas no
nosso país no ano anterior e que são os únicos troféus para a
banda desenhada com um prémio monetário.
Relativamente
aos outros aspectos da Comic Con, repetiram-se situações que já
não são aceitáveis num evento com seis anos: falta de informação,
online e no local, sobre os eventos, os seus horários ou as
alterações sofridas; confusões com as datas de presença dos
convidados; falta de sinalização, em quantidade e com visibilidade
e deficiente identificação dos diversos espaços… Pode parecer
pouca coisa, mas são ‘muitas poucas coisas’ que, em conjunto,
representam uma ‘coisa muito grande’. E que tem reflexos muito
significativos na opinião com que o visitante sai do evento e
expressa depois - ou durante… - nas redes sociais. E como é tão
fácil criticar e tão difícil elogiar!
Evento
este que parece estar cada vez mais virado para as marcas - que
pagam… bem? - e para o esvaziamento de conteúdos. Possivelmente,
depois de pagar bom dinheiro para entrar, é disto que o público
gosta, de uma Comic Con transformada numa espécie de feira popular,
com os carrinhos de choque, rodas gigantes e montanhas russas
substituídas por espaços publicitários onde horas passadas em
sucessivas filas permitem receber uma lata de refrigerante, meia
embalagem de noodles (em troca de um grito), um copo de chá, um
balão e uma caneta de publicidade à saúde oral ou ser fotografado
em cenários, requentados, como o Trono de Ferro, ou cada vez menos
elaborados, de séries e filmes… em vez de conversar ou ouvir
autores e/ou actores falarem de si e das suas obras…
Dizem
os ecos que a zona de alimentação não estava preparada para as
enchentes de sábado e domingo, tal como as casas de banho, mas são
experiências que não tive. Pareceu-me, isso sim, que os conteúdos
propostos, sendo menos, estavam mais dispersos, numa tentativa de
preencher um espaço demasiado grande para a oferta, onde - devido a
essa dispersão? - o número de visitantes me pareceu inferior ao do
ano passado… mas a contabilidade oficial ainda não foi divulgada.
Em
resumo, se percebo que a banda desenhada, no conjunto das diversas
áreas - TV, Cinema, Gaming, Cosplay… - que compõem a Comic Con,
sendo fundamental como origem de tudo o resto que aqui é celebrado,
de alguma forma tem de ser colocada no seu lugar relativo, confesso
alguma desilusão com o rumo que o evento parece estar a tomar, com
público, agentes e aqueles que fazem destas áreas o seu modo de
vida - e não só da BD - a afastarem-se dele.
👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
ResponderEliminarBoa ideia para 2020: introdução com carrinhos de choque em ambiente apocalíptico Walking Dead! com os mortos-vivos a atacarem os carros!
ResponderEliminarPessoalmente só me interessa a BD, o culto das personagens passa-me completamente ao lado.
Mesmo dando um desconto à qualidade dos actores o verdadeiro artista ainda é o argumentista.
Não eu não pagava isto só para conhecer o Brubaker.
Em duas palavras... Uma merda
ResponderEliminarEvento maldito!
EliminarEu sou fã de BD desde que me lembro e quando soube que iria haver uma comic con em Portugal fiquei muito entusiasmado mas infelizmente o Comic está apenas no nome.
ResponderEliminarEu fui a todas as Comic Con's até à data porque é um sítio em que me sinto como peixe na água mas infelizmente a parte dos comics nunca melhorou.
Eu não percebo porue motivo é que a organização não baixa o preço dos espaços para atrair as maiores lojas de BD de Portugal.
A BD Mania é normal não ir porque são um bocado snobs (sou cliente deles há muitos anos mas tenho que admitir que é verdade)
A Mundo Fantasma segundo o que dizem as más línguas esteve envolvida na organização da primeira comic con mas teve desentendimentos com a organização e nunca mais tentou.
Conheço um antigo dono de uma loja de Lisboa que me contou que propôs à Comic Con no Porto trazer o Garth Ennis e um desenhador e que pedia um espaço para ele apenas colocar BD (queria colocar apenas uns cavaletes e uma tábua com umas caixas de BD) e a organização não aceitou
Não compreendo como não tentam chamar editoras internacionais que iriam ajudar a convencer a trazer actores e outras personalidades da BD
Tenho pena de como as coisas são mas para mim é muito fácil conseguir os autográfos e alguns desenhos uma vez que a organização está a fazer um excelente trabalho a afastar os fãs de BD.
Resumindo, retirem o nome comic-con e usem feira popular de cultura pop.
ResponderEliminarPop Market Con
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