10/09/2019

Sentinel

 
Não há dois sem… quatro!

...estes discípulos tornaram-se num cancro social…
in Sentinel
Contexto
Watchers foi um dos acontecimentos editoriais de 2018. Pelo regresso de Lúis Louro a solo. Por ele acontecer num dos seus projectos mais ambiciosos - e conseguidos. E pela novidade do um em dois ou, explicitando melhor, por a mesma história apresentar (em dois álbuns diferentes) dois finais alternativos.
Por tudo isto, Sentinel, a sua sequela, era bastante aguardada.
Resumo
O desaparecimento do sentinel original, levou a que a actividade que ele desenvolvia fosse multiplicada por seguidores e discípulos numa busca (in)consciente da liberdade e (presumível) denúncia que ele personificava, num movimento social (rapidamente) descontrolado que exacerba os efeitos originais e tem como consequência limite o despertar de alguém com propósitos antagónicos.
Descobrir quem é e até que ponto esse movimento de vingança se conseguirá cumprir é o que Luís Louro desafia os leitores a descobrir.

Desenvolvimento
E tal como a história inicial, Sentinel vem também com duas versões, desta vez com dois inícios diferentes. Essa opção - de novo mais conseguida na versão vermelha do que na branca - consegue voltar a unir de forma coerente a história que tinha sido separada, embora tenha também como consequência esbater a disparidade dos finais (bastante) diferentes, na forma e, principalmente, no tom, de Watchers.
Com a dualidade narrativa a perder o carácter de novidade que na obra anterior ostentava, Sentinel volta a ser muito forte no retrato - duro - que Louro traça da nossa sociedade e de alguns males que a afectam: a dependência (e a vivência) excessiva nas redes sociais e a gratuitidade da exposição pessoal, desta vez com o complemento do (cada vez maior) flagelo do turismo. Adivinha-se na obra a necessidade do autor fechar uma narrativa que o final duplo deixara muito aberta. Ou, pelo menos, de dar algumas explicações - e lançar novas questões incómodas - sobre as problemática referidas. Que, na vida real, em casos pontuais, já apresentam o grau de absurdo que o álbum espelha.
Louro, volta também a brilhar no retrato fantasista que traça de uma Lisboa retro-futurista: os veículos voadores, o belo achado dos mini-animais, a fusão entre arquitectura e natureza, com alguns delírios visuais de meia prancha ou mesmo prancha inteira que farão as delícias dos leitores.
E, tal como em Watchers, este(s) álbum(ns), após uma primeira leitura sequiosa, merecem um repassar compassado das páginas, com o olhar a demorar-se nos desenhos e a descobrir as múltiplas referências que Louro de forma provocadora e desafiante espalhou às mãos cheias. Das suas próprias criações em BD - Alice, Jim del Monaco, Coração de papel… - ao empréstimo de personagens de outras proveniências - Tintin, Simpsons, Family Guy, Wally… - do cinema à TV, à(s) música(s) e à literatura, é um desfile infindável, com novas revelações a cada nova leitura, complementado com novas ‘citações online’ das ‘personalidades’ da nossa BD e três homenagens justas e adequadas a pessoas que partiram recentemente.

A reter
- O visual delirante que Louro imprimiu a esta sua criação dupla/dupla.
- A tripla homenagem a vocês descobrirão quem.
- A multiplicidade de referências que credibiliza o relato e o aproxima do leitor.
- (e a inclusão do autocolante na capa que previne o leitor que existem duas versões diferentes do álbum).

No fio da navalha
- Watchers era um álbum tematicamente muito forte; mantendo o tom acusador e mesmo sendo bem resolvido em termos narrativos e de conteúdo, dificilmente Sentinel não seria inferior, como é, embora seja uma equilibrada continuação e o seu final seja sem dúvida consistente e adequado.

Menos conseguido
- Pode soar injusta esta referência, mas a novidade do álbum dúplice desapareceu e o facto de a diferença surgir no início esvazia em (boa) parte o seu efeito.

Sentinel
Versão vermelha/versão branca
Luís Louro
ASA
Portugal, 10 de Setembro de 2019
295 x 225 mm, 48 p., cor, capa dura
14,95

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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