Para lá do universo...
O
universo de As
Cidades Obscuras é
um dos mais originais e estimulantes projectos que a banda desenhada
nos proporcionou nas últimas décadas.
Hábil
combinação de humanidade e arquitectura, de passado e futuro, de
reflexão e desafio, assenta tanto nos argumentos consistentes de
Benoit Peeters, quanto no desenho realista de François Schuiten.
Embora,
segundo os autores, seja exterior a esse universo, Rever
Paris
dificilmente será visto sob
outro prisma pelos
leitores.
É verdade que há nele alguns elementos estranhos à série, desde logo a mais forte componente de ficção-científica e a oposição entre presente (futuro) e passado (estático), mas no mais, o leitor desapercebido ou que salte a introdução, facilmente colocaria este álbum sobre Paris, que de alguma forma funcionou de catálogo a uma exposição da dupla criativa, na bibliografia 'oficial' de As Cidades Obscuras, acreditando que finalmente os autores tinham conseguido colocar a capital francesa no seu 'mapa'.
A narrativa arranca com o regresso à Terra de uma nave espacial, num futuro distante cerca de século e meio. após corte absoluto dos seus ascendentes com o planeta natal. Entre eles conta-se Kârinh, uma jovem que desde sempre sonha com Paris e anseia conhecer a cidade que descobriu nos livros.
No entanto, como quase sempre, entre o que sonhamos e o que depois descobrimos, são muitas as diferenças e a jovem irá constatá-las por si mesmo, não só nos desvios arquitectónicos a que o tempo e a vontade humana obrigaram, mas também no acolhimento que ela e os seus companheiros recebem, numa metrópole há muito abandonada pelos conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade.
Entre soluções futuristas, manutenção das principais características da arquitectura típica parisiense e as inovações a que Schuiten nos habituou, com o seu traço elegante, sólido e grandioso, esta é também uma oportunidade para uma homenagem a criadores surgidos antes do tempo, como Jules Verne ou Albert Robida, em mais um diálogo dual entre seres humanos e as suas construções arquitectónicas que, mais uma vez, questiona equilíbrios entre decoração e funcionalidade e entre opções estéticas e/ou políticas, que desafiam um olhar crítico sobre aquilo que - hoje - nos rodeia.
Rever
Paris
Colecção
Novela Gráfica 2020
Benoit
Peeters (argumento)
François
Schuiten (desenho)
Levoir/Público
Portugal,
Setembro
de 2019
170
x 240 mm,
160 p., pb,
capa dura
10,90
€
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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