Regresso a Bedrock
Há
muito na minha lista alargada de desejos, uma lista imensa,
interminável e em constante crescimento, deparei-me com este Os
Flintstones
como oportunidade e o mínimo que posso dizer é que recebi bem mais
do que esperava.
Confesso
que embora embalado pelas boas críticas lidas, esta
aproximação foi feita
também com uma boa dose de nostalgia,
ou não tivesse sido a série animada em que esta BD se baseia - uma
produção dos estúdios Hanna-Barbera, exibida originalmente nos EUA
entre 1960 e 1966 - uma
das preferências da minha
infância e adolescência na programação
da RTP.
Nesta versão em banda desenhada encontrei aquilo que esperava: o mundo das classes médias em Bedrock, uma cidade da Idade da Pedra (literalmente), 100 mil anos distante de nós, com os seus deliciosos anacronismos e as máquinas e electrodomésticos animais ou veículos movidos a… pés, literalmente.
Encontrei também a inconstância e o ferver em pouca água de Fred Flintstone, a personalidade dominante da sua esposa Wilma, o bom senso de Barney Rubble, minúsculo ao lado da sensual Betty, bem com o os seus filhos, Pedrita e Bambam, embora já adolescentes, com toda a carga que isso acarreta e podem imaginar.
Reencontrei-os, é verdade, mas com um aspecto bem mais realista do que o das personagens animadas de traços simples, graças à belíssima arte de Steve Pugh que deu uma nova vida e um novo sentido às suas andanças e a esta sociedade (não tão) primitiva.
Esse novo visual, potencia o argumento de Mark Russell, que leva ao limite a sátira social já existente no original e apresenta os (nossos) dramas e problemas quotidianos, sob um olhar anacrónico muito mordaz, fazendo-nos ver quão ridículos podemos ser.
Russell não deixa nada de lado e nesta primeira entrega da edição brasileira - correspondente aos primeiros seis comics dos doze da versão original norte-americana, consegue abordar temas tão diversos quão fracturantes como o consumismo, a religião (assente aqui no nascimento do ateísmo - dos ateísmos…), novidades sociais como a monogamia e o casamento para toda a vida, os falsos profetas, a democracia em acção, o bullying ou a guerra com toda a sua bestialidade e brutalidade. E sempre com um misto de ironia, seriedade e imprevisibilidade que fazem desta banda desenhada uma das obras mais refrescantes e divertidas que li nos últimos tempos.
...a que apenas faltou, confesso, um sonoro Yabba-Dabba Doo mais frequente!
Os
Flintstones #1
Inclui
The Flintstones #1-#6 (EUA, 2016)
Marc
Russel (argumento)
Steve
Pugh (desenho)
Brasil,
Dezembro de 2017
170
x 260 mm, 168 p., cor, capa cartão
(capa disponibilizada pela Panini; pranchas disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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