Coerência
Último álbum deixado concluído por José Ruy e segunda edição póstuma em 2023, com a chancela da Polvo, O Mistério dos Templários é um belo espelho da coerência que sempre foi apanágio da vida e a obra do autor.
Uma vida dedicada às ‘histórias aos quadrinhos’, como gostava de lhes chamar, quase sempre com o mote da História - passada ou mais recente - uma enorme capacidade de trabalho e a disponibilidade constante para ouvir, conversar e ajustar-se quando necessário, como no presente caso, em que um projecto antigo foi retomado, com mais páginas e cenas extras, para ganhar em consistência e solidez.
Em O Mistério dos Templários, trabalhado e concluído já depois dos 90 anos de idade (!), aborda uma ordem militar e religiosa que sempre o fascinou, como afirma no breve texto na página 2 do álbum, José Ruy utiliza um subterfúgio, presente noutras obras suas, a entrega do protagonismo a uma personagem ‘historicamente anónima’, para ganhar margem no ficcionamento da narrativa, mas sem nunca colocar em causa a veracidade dos factos históricos, resultantes de profunda pesquisa a montante da realização do álbum.
O seu traço personalizado, com virtudes e defeitos, usado com à-vontade no retratar das diferentes épocas, de castelos, construções urbanas, cenas a cavalo (fruto do desenho naturalista com mo0delos vivos...) ou embarcações marítimas, garantem uma consistência e a verdade do relato, que funciona como uma porta entreaberta e um desafio para saber mais sobre a Ordem dos Templários.
Nota final
Não conheço os originais, entendo e aceito a capa que foi opção da Polvo (e de José Ruy?), mas gostaria de ter visto algo mais ousado, tendo por base a ilustração que surge na contracapa do livro. Mas reconheço que talvez retirasse alguma da coerência que sempre balizou o percurso do Mestre…
O
Mistério dos Templários
José Ruy
Polvo
Portugal,
Julho de 2023
215 x 305 mm, 48 p., cor, capa dura
15,90 €
(imagens disponibilizadas pela Polvo; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Não podia ter sido escolhida melhor palavra. Coerência é mesmo a palavra certa. Eu acrescento honestidade , que me espantava, sempre, nas mais pequeninas coisas. Grata. Maria Fernanda
ResponderEliminarMuito obrigado pela partilha.
EliminarTive a felicidade de ter conhecido o José Ruy ainda nos anos 1980 e de me ter cruzado com ele inúmeras vezes desde então e há outra característica dele que me vem de imediato à mente: disponibilidade para ajudar ou colaborar.
Era um dos raros autores - senão o único - que todos os meses respondia à mensagem do Calendário BD deste blog, para indicar as actividades que ia desenvolver ou as edições que iam ser lançadas ou apresentadas ou, simplesmente, para dizer que não tinha nada a assinalar...
Os meus melhores cumprimentos.
Muito obrigada. Maria Fernanda
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