Impenetrável

Razão versus emoção

Há diferenças palpáveis entre escrever um livro com o coração ou com a razão.
É o caso de Alix Garin, que me tinha emocionado com Não me esqueças, e que no regresso com Impenetrável, apresenta uma narrativa mais didática e racional, o que não é equivalente a que a obra seja menos interessante. Mas, para mim, falta-lhe a força da emoção.

(Senti o mesmo, aliás, com Blankets e Habibi, de Craig Thompson, por exemplo, tal como com Altarriba e Kim em A Arte de Voar e A Asa Quebrada).

Voltando a Garin, no primeiro livro sentia-se a necessidade de perpetuar a memória da avó, da relação que teve com ela, daquilo que a senhora tinha sido para a jovem escritora e desenhadora. Por isso, originou um livro apaixonado e apaixonante, sentido e comovedor .

Impenetrável tem claramente um propósito diferente. Há, por um lado, a necessidade de catarse da parte da autora, de extirpar definitivamente de si o problema - o vaginismo, ou seja a dor insuportável que a penetração lhe causava durante o acto sexual - que a afectou durante anos. Mas, por outro lado, há também uma necessidade de partilha, de divulgação, para ajudar outras mulheres que vivem o mesmo que ela sentiu.

O resultado, é uma obra importante, marcante, uma obra em que a autora se despe, simbólica e linearmente, ao longo de anos, em que se expõe até ao mais profundo de si própria, em que partilha sofrimento, dor, incerteza, dúvida, desespero, experiências, de uma forma honesta, apesar de tudo púdica e que chega a ser incómoda.

A grande mensagem é que o problema tem solução; não é fácil, mas pode ser resolvido. E é bom que a banda desenhada possa abordar e apresentar soluções para problemas que afectam a qualidade de vida dos seus potenciais leitores - e acredito que este livro poderá e deverá chegar às mãos de leitores - e principalmente leitoras - que habitualmente não consomem BD.

Mas, apesar de tudo o que escrevi até aqui, de ser uma obra marcante e aconselhável, reitero: para mim, em Impenetrável faltou a força da emoção que existia em Não me esqueças.

Impenetrável
Alix Garin
ASA
Portugal, Setembro de 2025
204 x 268 mm, 304 p., cor, capa mole com badanas
32,90 €

(imagens disponibilizadas pela ASA; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)