Iramir Araújo e Bruno Azevedo (argumento)
Beto Nicácio, Marcos Caldas, Ronilson Freire, Carlos Sales,
Salomão Júnior e Luiz Saidenberg (desenho)
Edição de autor (Brasil, 2006)
210 x 280 mm, 68 p., pb, capa fina
1.
Se há algo que surpreende (e causa inveja) no
panorama actual dos qua(dra)dinhos brasileiros é a diversidade de propostas.
2.
E não me refiro sequer há multiplicidade de
traduções – onde a par dos habituais comics norte-americanos e mangas asiáticos,
há um leque cada vez mais variado de bandas desenhadas ditas independentes e
franco-belgas - …
3.
… mas sim à forma como se têm multiplicado as
obras de autores locais, esparsas pelos mais variados, géneros, estilos e
propostas temáticas.
4.
Embora já com alguns anos, este “Corpo de
Delito” é mais um exemplo dessa variedade.
5.
E um exemplo de determinação e perseverança,
pois é o resultado de uma longa génese, uma vez que o seu protagonista, o
detective Augusto “Caolho” dos Anjos, surgiu pela primeira vez em 1992, teve
uma (também) breve segunda vida em 1997, seguida de uma nova hibernação até
2005 para ter direito a (esta) publicação própria.
6.
Que surpreende desde logo pelo seu aspecto, a
fazer lembrar as “velhas” revistas – “gibis”!, de que guardo alguns exemplares
herdados dos meus tios - dos anos 1940 e 1950, com capa colorida e interior a
preto e branco, papel (fraco) de jornal (cuja baixa gramagem e consequente
transparência potencia o seu maior defeito, a impressão).
7.
Policial duro e violento, ambientado na cidade
de São Luís, no Maranhão, Brasil – e este é um dos seus trunfos, a localização
da acção em cenário real, facilmente identificável o que credibiliza a narração
e prende o leitor local – é protagonizado por “Caolho” dos Anjos, um detective
que não olha a meios para atingir os seus fins, amigo e frequentador de
prostitutas e capaz de acordos com gente à margem da lei, mas caído em desgraça
e mesmo despedido por se ter atrevido a incomodar um político poderoso.
8.
No total são sete histórias curtas, desenhadas
em diferentes épocas por vários artistas - de comum a todos a urgência do traço, o soltar das histórias a contar - o que provoca alguns desequilíbrios,
insuficientes para prejudicar a leitura, dada a planificação, variada e
ágil, assente numa sucessão de planos que garantem o ritmo elevado imposto
pelos argumentos…
9.
… onde ressaltam os diálogos, contidos e
realistas como o tema obrigava.
10. Sete
histórias curtas, dizia eu, de tom agreste e realismo incómodo (pela
proximidade de casos que recorrentemente ouvimos nas notícias ou lemos nos
jornais), ao longo das quais vamos conhecendo o protagonista – sem que isso
implique simpatizar com ele… - bem como aqueles que com ele convivem, entre os
quais a sua namorada Ana, que terá papel preponderante nestas histórias de
muita adrenalina, cujo final, está longe se poder ser considerado feliz, em
mais uma – incómoda – tangência à realidade.