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30/12/2011

Tif et Tondu

#7 – Enquêtes à travers le monde
Les Intégrales Dupuis
Tillieux (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Setembro de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,95 €

Resumo
Sétimo tomo dos doze previstos da reedição integral temática de Tif e Tondu, reúne os álbuns “Sorti des Abîmes” (19º da série), “Le Scaphandrier mort” (21º) e “Tif et Tondu à New York” (23º), originalmente publicados na revista “Spirou” entre 1971 e 1974, bem como um dossier sobre os autores.

Desenvolvimento
Sei que recorrentemente tenho referido aqui os volumes integrais em que as editoras francófonas têm apostado fortemente nos últimos tempos e só não me declaro viciado neles porque esse seria um vício caro – não pelo preço em si de cada tomo, altamente tentador, mas pela grande quantidade de títulos actualmente disponíveis.
E a verdade é que, neste formato, com esta roupagem, devidamente enquadradas pelos dossiers que geralmente abrem o livro, até séries, não menores mas de nível médio, como Tif e Tondu, revelam novos focos de interesse.
No presente volume, destaco mais uma vez o dossier inicial que, apesar de relativamente curto em termos de texto (da autoria do conhecedor Didier Pasamonik), é profusamente ilustrado com diversos documentos (fotografias, originais, inéditos, capas de revistas, etc.) e aborda de forma bastante completa e atractiva o método de trabalho e as rotinas de Will e Tillieux, enquadrando o seu trabalho na sua época e no âmbito da banda desenhada francófona, contribuindo assim para traçar mais um capitulo da história das histórias aos quadradinhos franco-belgas.
Tematicamente – é essa a forma que esta colecção adoptou – temos mais três aventuras de Tif e Tondu que se distinguem por os encontramos longe do seu habitat natural – em Londres, numa ilha distante do Pacífico, em Nova Iorque – onde levam a cabo os habituais inquéritos, nos quais mistério, fantástico, acção, humor e ingenuidade se complementam para proporcionar uma leitura leve mas bem disposta a quem nela se embrenhar.
Acompanhados pela bela – mas nem sempre paciente e razoável – condessa Kiki, assumindo cada um na sua vez diferentes graus de protagonismo nas narrativas, vêem-se envolvidos – sempre de forma involuntária - numa caça a um monstro marinho à solta no Tamisa, na descoberta de um segredo – um tesouro? – perdido nas profundezas marinhas e numa caça a mafiosos provocada por uma troca de malas.
Das três aventuras propostas, destaco a primeira, pelo seu tom de mistério e fantástico que mantém o suspense – e o interesse dos leitores – ao longo de mais de metade das suas páginas, criado pela expectativa do que poderá causar o suposto monstro marinho à solta nas nevoentas docas londrinas.

A reter
- O formato em si. Pela estrutura, pela recuperação de clássicos, pela boa relação qualidade/preço.
- A nostalgia provocada pelo tom saudavelmente ingénuo da série.

Menos conseguido
- Sendo uma reedição organizada tematicamente, esta colecção separa álbuns com alguma continuação, o que não faz muito sentido…

31/10/2011

Entrevista com Cyril Pedrosa

“Tentei ser sincero”
Editado há poucas semanas pela Dupuis, Portugal tem sido (justa e) unanimemente considerado um dos grandes romances desenhados de 2011. Eis o registo de uma pequena conversa à distância com o seu autor, Cyril Pedrosa, para conhecer um pouco melhor a génese de um livro em que fala das suas origens portuguesas.

As Leituras do Pedro - Porquê um livro sobre Portugal?
Cyril Pedrosa – Os meus avós eram portugueses e, por isso, a história da minha família está muito impregnada com os nossos laços com Portugal. Havia muitas coisas que eu sentia em relação à nossa história familiar (a dificuldade de falar de Portugal entre nós, a minha própria dificuldade em fazer qualquer coisa sobre as minhas origens portuguesas) mas que eu não conseguia explicar.
E depois, há alguns anos, fui convidado do Festival de Banda Desenhada da Amadora e para mim foi um grande choque, foi muito emotivo. Senti-me como se estivesse “em casa”, apesar de não conhecer nada desse país. Foi isso que desencadeou a vontade de escrever esta história, para tentar compreender porque me sentia ligado a um país e a uma língua de que conhecia tão pouco.

ALP – Então esta história é autobiográfica?
CP – O ponto de partida é autobiográfico. Simon, o protagonista, é bastante parecido comigo e, como eu, ele “redescobre” os seus laços com Portugal durante um festival de banda desenhada. Mas depois, ao contar a história, inventei muitas coisas. Por isso, é uma ficção, mas com muitos elementos pessoais.

ALP – Que história conta neste livro?
CP – É a história de Simon, um francês neto de emigrantes portugueses, que faz banda desenhada mas que está num momento mau da sua vida, um pouco deprimido. Uma viagem profissional a Lisboa fá-lo descobrir a que ponto ama Portugal, as pessoas com quem se cruza na rua, como se fossem a sua família, como se estivesse em “sua casa”. Isso perturba-o e ele põe-se a tentar compreender porque perdeu os laços com aquele país. Vai então aproximar-se da sua família em França, com quem mantinha uma relação distante, participar numa grande festa familiar onde vai rever o seu avô sob um olhar diferente, compreender um pouco melhor porque é que o seu pai não foi capaz de lhe transmitir essa ligação com Portugal. Depois, na parte final do livro, regressa a Portugal, para tentar descobrir a história do seu avô.

ALP – De que Portugal fala neste livro ? Porquê?
CP – Falo de um Portugal imaginário, quer dizer, aquele que eu conheço e que não é o verdadeiro Portugal. É um Portugal “emocional”, o das sensações e da afeição que tenho por esse país, por esse povo, por essa língua. Sei perfeitamente que não conheço a realidade do país, para isso teria que viver nele. Mas conheço a beleza da sua língua, a generosidade dos portugueses e também conheço bastante bem a região de onde são originários os meus avós, uma pequena aldeia perto da Figueira da Foz (chamada Marinha da Costa, onde decorre a última parte do livro).
Tentei ser sincero, não utilizar clichés, mesmo sabendo que tinha um conhecimento superficial de Portugal.

ALP – Conseguiu responder às suas questões relativas a Portugal?
CP – Não sei se consegui responder às minhas questões, mas sinto-me aliviado em relação a algumas coisas. Penso que para mim o importante não era forçosamente responder a todas as questões, mas sim colocar essas questões, dizer a mim próprio e aos que me são próximos, “estão a ver, esta história, a nossa história, é uma história bonita, devemos interessar-nos por ela”.

ALP – Como reagiram os seus familiares ao livro?
CP – Penso que se sentiram muito tocados e emocionados, mas não me disseram tudo o que pensavam :)

ALP – Esteve em Portugal para fazer esboços?
CP – Sim, passei três meses em Portugal, para escrever e desenhar, fazer esboços, tirar fotografias, viver no local, ter o prazer de conhecer melhor os meus primos que moram aí, aprender a falar um pouco de português… Foram três meses formidáveis!

ALP – Portugal vai ser editado em… Portugal?
CP – Gostava muito que fosse! O meu editor francês disse-me que tinha sido contactado por uma editora portuguesa. Espero sinceramente que isso se concretize.

24/10/2011

Portugal

Collection Aire Libre
Cyril Pedrosa (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, 16 de Setembro de 2011)
235 x 330 mm, 264 p., cor, cartonado
35 €

Resumo
Simon Muchat é um autor de banda desenhada cuja relação com Claire e a carreira estão em crise. Durante uma visita a Portugal, como convidado de um festival de BD, sente-se estranhamente familiarizado com o país, as pessoas e a língua, partindo daí para a descoberta das suas raízes lusas, pois o seu avô era português.

Desenvolvimento
Portugal é a história de três gerações. Melhor, são histórias de três gerações. Histórias contada a três tempos por Simon - o neto -, Jean – o pai -, Abel – o avô – em cada um dos capítulos do livro. Embora o protagonista seja (quase) sempre Simon na sua busca pelas raízes familiares e de si próprio.
Com eles, através deles, Pedrosa – também ele neto de emigrantes portugueses, por isso o livro tem uma forte componente auto-biográfica, embora ficcionada – traça retratos distintos que se vão cruzar a vários níveis.
O retrato das relações (degradadas ou pelo menos descuidadas) de Simon com a sua arte, a sua companheira, o seu pai, a sua família. Simon, a quem a tal vinda a Portugal força, empurra, obriga a colocar ordem na sua vida. A reencontrar-se para se encontrar com os outros. Para isso terá de fazer opções, abraçando uns, afastando outros, tudo numa busca (por vezes em desespero) de si próprio, das suas origens, das motivações perdidas, de um sentido para a sua existência.
Para o conseguir, terá que fazer uma longa introspecção, reatar a relação com o pai e a família, relembrando ou descobrindo histórias passadas, quando o nome da família ainda era Mucha, percebendo os motivos para tantos choques familiares, para tantos silêncios, para tantas ausências.
E terá também que partir em busca do Portugal que o seu avô deixou, de descobrir porque ele nunca voltou à aldeia de Marinha da Costa de onde era natural e onde deixou família.
Uma procura íntima, com muito de iniciático, durante a qual, com uma mestria que só a experiência directa permite, Pedrosa traça um retrato notável de um certo Portugal e de uma certa forma de ser português. O retrato de uma geração (ou mais?) que teve de abandonar o seu país – por razões diversas – e encontrar longe das raízes formas de subsistência ou razões para viver. Mas também o retrato de uma geração mais próxima no tempo, perdida entre a ruralidade natural e a urbanidade forçada, que, na ausência de terreno, por viver na cidade, faz da varanda terreno de cultivo e é capaz de percorrer dezenas de quilómetros apenas para ir à terra buscas as batatas ou as pencas. Mas que é também uma geração dada e prestável - ainda não imbuída da maldade, da frieza citadina? – capaz de se dar e de dar o pouco que tem por um (primo afastado) desconhecido…
Um retrato terno, um retrato sincero, um retrato sentido, um retrato íntimo, sem nada de bilhete postal, cliché ou estereótipo, que não julga nem parodia, mostra apenas, com uma sinceridade desarmante e um realismo inegável.
Obra madura e complexa, profunda e muito pessoal, que a espaços se adivinha sofrida, grave na temática e no conteúdo mas também ligeira na forma desarmante como expõe, como se expõe, Portugal, ao longo das suas intensas 260 páginas, que ocuparam Pedrosa durante quase três anos, revela um autor de excelência, que brilha a vários níveis. Desde logo graficamente, pelo soberbo uso de cores directas, em aguarelas com efeitos de transparências, pontuadas aqui e ali por um traço fino, que, sem se impor ou sobrepor, ajuda à sua definição, pelo grafismo que parece dotado de movimento constante e que parece transportar o leitor através das páginas, obrigando os seus olhos a seguir a acção e os protagonistas.
Cores com as quais não só traça as suas personagens e os cenários em que elas evoluem, mas também define a língua em que falam, os seus estados de espírito e as ambiências que as rodeiam, tão capazes são de recriar as sombras da noite, um dia cinzento ou o sol português, e, acima de tudo, a própria evolução de Simon, do seu sentir.
A par disso, Pedrosa construiu, de forma linear mas elaborada, com base em diálogos, credíveis, sinceros, fortes, (mais uma vez) sentidos, um longo romance gráfico – sem princípio nem fim definidos – que prende o leitor ao mesmo tempo que o vai introduzindo no seio dos segredos – ou simplesmente omissões – da família Mucha/Muchat.

A reter
- A força deste soberbo romance, de razões difíceis de definir, mas inegável. Se há obras que deviam ser traduzidas em português, esta é uma delas.
- O magnífico trabalho gráfico de Pedrosa.
- A edição da Dupuis, que faz do livro um objecto desejável por si só.

Menos conseguido
- Alguns erros nos diálogos em português, sem dúvida evitáveis mas mesmo assim menores.

Trailer

Making-off

29/06/2011

Le Photographe – Tome 3












Collection Aire Libre
Emmanuel Guibert (argumento e desenho)

Didier Lefèvre (fotografias)
Frédéric Lemercier (montagem e cor)
Dupuis (Bélgica, Fevereiro de 2006)
240 x 320 mm, 102 p., cor, cartonado
19 €

21/06/2011

Le Photographe – Tomes 1 e 2


Collection Aire Libre
Emmanuel Guibert (argumento e desenho)
Didier Lefèvre (fotografias)
Frédéric Lemercier (montagem e cor)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2003)
240 x 320 mm, 80 p., cor, cartonado
15,95 €

08/06/2011

Theodore Poussin

L’intégrale #1
Dupuis Patrimoine
Frank Le Gall (argumento e desenho)
Yann (argumento)
Dupuis (Bélgica, Junho de 2010)
218x230 mm, 240 p., cor, cartonado, 24 €


Resumo
Primeiro tomo da reedição integral de Theodore Poussin, série estreada por Frank le Gall na revista Spirou, em Outubro de 1984, inclui os álbuns Capitaine Steene, Le Mangeur d’Archipels, Marie Vérité e Secrets, complementados por um pormenorizado dossier inicial que explica e situa cada um deles.


Desenvolvimento
Esta é uma história – ou várias, muitas histórias? - de encontros e desencontros, de mistérios (muitos) e descobertas (bastantes), uma história – ou várias, muitas histórias? – densa e com muitas pontas soltas. Que aos poucos vão sendo atadas.
É uma história – ou várias, muitas histórias? – de um tempo muito diferente daquele a que chamamos hoje, em que todos os sonhos se podiam realizar, todos os mistérios ser desvendados, todas as aventuras podiam ser vividas. No planeta Terra. Neste planeta Terra onde, há menos de 100 anos, ainda havia tanto por descobrir…
Uma história – ou várias, muitas histórias? – na senda das grandes aventuras narradas por grandes romancistas: Verne, Stevenson, London, Conrad…
Mas uma história – ou várias, muitas histórias? – também dourada (?), atenuada (?) pela poesia de Baudellaire.
Porque esta história – estas várias, muitas histórias? - têm com a literatura – com o romance, a aventura, o policial, a poesia… – múltiplos pontos de contacto, feitos de citações, de referências, de piscares de olho, de nomeação, directa e indirecta, de autores e personagens.
O seu protagonista – nunca o seu herói – é Theodore Poussin, alguém “a quem os sarilhos perseguem”, alguém que mais do que motor de acção é só, quase, simples observador, um ponto (ínfimo…) em redor do qual tudo acontece.
Ao seu lado – a sua sombra? – está Novembro, presença misteriosa (indesejada por Poussin), em simultâneo anjo da guarda e demónio tentador. Com eles - em torno deles - por causa deles - apesar deles? – cruzam-se aventureiros e piratas, colonizadores e colonizados, brancos e asiáticos, políticos corruptos e políticos viciados, belas mulheres, mulheres misteriosas… Numa história – ou várias, muitas histórias? – cuja cenário de acção é maioritariamente a Ásia – misteriosa, sedutora, perigosa – da Indochina, de Singapura, da China, os seus mares traiçoeiros, as suas terras recheadas de perigos, o exotismo, a cultura própria, o desconhecido.
Ao longo desta história – destas várias, muitas histórias? – assistimos ao crescimento de Poussin, à sua auto-(re)descoberta, passando de simples empregado de uma empresa de transportes marítimos a viajante, aventureiro, capitão de navios, resgatador de prisioneiros, salvador de mulheres, rebelde…
Com ele Le Gall, com o precioso contributo de Yann a partir do segundo tomo, desenvolveu uma belíssima banda desenhada, densa – já o escrevi, eu sei – complexa, que implica (re)leitura atenta e a capacidade de nos deixarmos cativar, apaixonar por Poussin, Novembro e os outros, reflexos – fortes e credíveis – de seres de um outro tempo, que já não existe mas que ainda podemos reviver.


A reter
- A bela edição deste integral da Dupuis. Mais uma.
- A força da história – das várias, muitas histórias?
- A consistência e qualidade do dossier inicial, em muitos momentos narrado na primeira pessoa por Le Gall.
- A possibilidade de apreciarmos o crescimento de Poussin em paralelo com o de Le Gall, tanto gráfica como narrativamente.


Curiosidade
- Theodore Poussin, aliás Teodoro Pintainho teve direito a ver a sua história de estreia – Capitão Steene – editado em português pela Meribérica/Líber, no já distante ano de 1988. Foi, infelizmente, uma das muitas séries que a editora deixou pelo caminho…

07/04/2011

Buck Danny

L'intégrale - Tome 2
Dupuis Patrimoine
Jean-Michel Charlier (argumento e desenho)
Victor Hubinon (desenho)
Dupuis (Bélgica, 4 de Março de 2011)
218x230 mm, 276 p., cor, cartonado, 24 €

Resumo
Segundo tomo da compilação integral das aventuras de Buck Danny, inclui os álbuns “La revanche des fils du ciel”, “Tigres volants”, “Dans les griffes du Dragon Noir” e “Attaque en Birmanie”, originalmente publicados na revista “Spirou” entre 1948 e 1951.


Desenvolvimento
Comecei a coleccionar o Mundo de Aventuras, oferecido pelo meu pai, no #47 (da chamada 5ª série) e, poucas semanas depois, a revista teve duas mudança significativas: a primeira, a alteração de aspecto, com a diminuição do formato para um tamanho próximo do comic-book; a segunda, uma inflexão na orientação, introduzindo séries franco-belgas a par da manutenção das norte-americanas que até aí constituíam o seu prato forte. A primeira novidade foi Jerry Spring, no número de mudança, o #54, e a segunda Buck Danny, no #60, a 21 de Novembro de 1974. Prova da importância que o ‘MA’ e estes heróis tiveram em mim, é que o que atrás fica escrito é citado de memória…
O reencontro com Buck Danny (muitas vezes relido) tantos anos depois, a par da componente nostálgica, confirmou as marcas que as aventuras deste aviador deixaram em mim, pois ao longo da leitura das suas páginas descobri que (ainda) sabia praticamente de cor alguns dos diálogos, para além de conservar uma memória muito viva dos argumentos.
A par disso, houve também uma componente de descoberta. Desde logo, por ser a primeira vez que li estas histórias a cores – cores antigas, demasiado vivas em muitos casos, com poucos gradientes, que me mostraram as vantagens da sua edição a preto e branco no Mundo de Aventuras…
Descoberta, também, que Charlier, um argumentista de eleição do género “grande aventura”, foi durante sete álbuns igualmente desenhador, mais concretamente dos barcos e aviões (e dos respectivos esquemas, reais e pormenorizados, incluídos nas pranchas da história – aquelas vinhetas que muitas vezes saltei na leitura original, ansioso por descobrir o que acontecia a seguir na história...)
Finalmente, esta releitura teve uma componente de confirmação: por um lado, o valor de Buck Danny a nível histórico - pela bem conseguida conjugação entre os acontecimentos reais e a ficção, através da integração das aventuras no cenário de guerra real – e também a nível documental – pela muita informação incluída nas páginas desenhadas.
No início da primeira das quatro histórias incluídas neste tomo, em que o tom documental e histórico se vai diluindo aos poucos, reencontramos Danny a gozar uma licença após a sua participação (contada nos três tomos iniciais da série) nos acontecimentos que se seguiram ao bombardeamento de Pearl Harbour pelos japoneses, que levaram os EUA a entrar na Segunda Guerra Mundial, sendo de imediato chamado para incorporar uma companhia estacionada na China.
Como marco fundamental destas histórias, fica a introdução de três personagens que se tornariam recorrentes: o estouvado So(n)ny (a grafia é alterada no final de “Attaque en Birmanie”) Tuckson, responsável pela maior parte dos apontamentos cómicos que servem para aliviar a tensão, Tumbler e Tao. E o reencontro com a bela Susan Holmes… Há também os vilões de serviço, os espiões japoneses Mo Choung Young e Miss Lee.
Banda desenhada realista, no traço e na temática, as aventuras de Buck Danny revelam-se densas e de leitura mais lenta nas três primeiras histórias incluídas no presente volume, não só pela existência de bastante texto, mas também pela composição das pranchas, que incluem cinco tiras por página. A partir do último tomo, com a saída de Charlier da parte gráfica, Hubinon reduz a planificação para quatro tiras por prancha e solta o seu desenho, passando a utilizar um pincel mais grosso, conseguindo dar uma outra dinâmica à série, acompanhando melhor o alto ritmo imposto por Charlier, mestre na introdução de sucessivas sequências de acção, mistério e suspense nos seus argumentos, que tinham o condão de deixar o leitor sem fôlego, sempre à espera doa próxima surpresa, peripécia ou volte-face.
Isso, a par do ritmo de produção a que os autores estavam obrigados pela publicação semanal em revista e pelo trabalho em simultâneo em diversas histórias, faz com que se encontrem aqui e ali algumas incongruências e questões temporais menos bem resolvidas, o que está longe de ser suficiente para retirar interesse, magia e encanto à leitura das aventuras de Buck Danny e dos seus companheiros.


A reter
-Mais uma belíssima edição integral, que inclui vinhetas e/ou páginas inexistentes na versão publicada em revista ou eliminadas na reedição original em álbum.
- O dossier inicial, rico em informação e profusamente ilustrado.
- A magia do reencontro com um herói da minha adolescência.


Menos conseguido
- Algumas questões temporais, nomeadamente o imenso tempo que Danny e os seus amigos demoram a entregar os (urgentes!) planos do ataque à Birmânia.
- O tom (francamente) amarelo da pele de chineses e japoneses que, nalgumas vinhetas, chega mesmo a roçar o amarelo vivo!
- No decorrer da terceira história incluída neste tomo, Buck Danny e os seus amigos embarcam num navio chamado “Lisboa”, pertença do capitão português Jacinto… Gomez y Sereno y Bolívar Y Talacayud!!!


Curiosidades
- Descobrir que Charlier foi também desenhador nos primeiros sete tomos de Buck Danny. E que o abandono dessa faceta, para se dedicar à escrita, na qual ele era mestre, o levou a perder uma boa percentagem dos seus ganhos, pois o argumentista apenas recebia 30 % do pagamento por prancha…
- Os direitos recebidos pela publicação em álbum de B. Danny, proporcionaram a Charlier e Hubinon uma quantia em dinheiro como eles nunca tinham visto. O primeiro, comprou de imediato um automóvel mas… o valor recebido não chegou para a gasolina!
- Hubinon e Charlier, na peugada de Buck Danny e dos seus companheiros, foram também pilotos (fazendo entregas, servindo de táxi, etc…), tendo durante algum tempo acumulado essas funções com a BD.
- Danny, Tuckson e Tumbler protagonizam um dos selos editados pelo Centro Belga de BD para comemorar os seus 10 anos de existência.

Em Portugal

No nosso país, Buck Danny, para além do Mundo de Aventuras, onde foram publicados os primeiros 9 episódios da série – “Os Japoneses Atacam”, “Os Mistérios de Midway”, “A Vingança dos Filhos do Céu”, “Os Tigres Voadores”, “Nas Garras do Dragão Negro”, “Ataque na Birmânia”, “Os Traficantes do Mar Vermelho”, “Contra os Piratas do Deserto”, “Os Gangsters do Petróleo” -, esteve presente noutras revistas.
A sua estreia nacional deu-se a 5 de Julho de 1958, no “Cavaleiro Andante”, com a sua 19ª aventura, “O Tigre da Malásia”, publicada ao longo de 42 números e com direito a capa no #365.
Regressaria no número inicial do “Zorro”, a 13 de Outubro de 1962, com a sua 21ª aventura, “Desapareceu um protótipo”.
Os leitores portugueses só voltariam ao seu contacto a 21 de Outubro de 1971, na primeira tentativa de publicar uma versão lusa da “Spirou”, com “Os anjos azuis”, 36ª história de Charlier e Hubinon. Cerca de 8 anos mais tarde, na segunda vida da revista, Danny marcaria de novo presença, agora com “X-15”, o seu 31º episódio, cuja publicação omitiu duas pranchas.

04/02/2011

Tif et Tondu

#2 – Sur la piste du crime
Les Intégrales Dupuis
Tillieux (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Setembro de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,95 €

Resumo
Segundo tomo da reedição integral temática de Tif et Tondu, reúne os primeiros álbuns que tiveram argumento de Maurice Tillieux, “L’ombre sans Corps” (1968/69), “Contre le Cobra” (1969/1970) e “Le Roc Maudit” (1970/71), respectivamente os 16º, 17º e 18º da cronologia da série, e também a história curta “À 33 pas du mystère” (1970).

Desenvolvimento
Entre as histórias do primeiro integral e estas transcorreram cerca de 15 anos e mais 10 álbuns, mas a verdade é que a grande diferença entre umas e outras é a mudança de argumentista.
Depois de Rosy ter tutelado os dois heróis, Tondu, o barbudo, e Tif, o calvo, levando-os para aventuras de tom cada vez mais fantástico, resolveu abandonar a banda desenhada, sendo substituído na escrita das histórias por Tillieux, autor – entre muitos outros – do notável Gil Jourdan.
E a mudança fez-se notar de imediato, com os heróis a voltarem aos relatos de carácter policial, com um pouco de mistério à mistura. Dessa forma fez crescer de novo o interesse (e a qualidade da série), sendo as três narrativas agora reunidas, excelentes exemplos do melhor que a revista Spirou publicou na época.
Assim, “L’Ombre sans corps”, leva Tif e Tondu até Londres, numa visita ao seu amigo inspector Ficshusset, da Scotland Yard, acabando envolvidos na descoberta de um misterioso ser, invisível e de força sobre-humana, votado a vingar-se em nome de um bandido morto por Ficshusset. Embora a explicação do fenómeno seja algo ingénua – se encarada à luz dos nossos dias – a verdade é que Tillieux mantém o leitor cheio de curiosidade ao longo de quase toda a história, doseando bem a acção e o mistério envolvidos.
Quanto a “Contre le Cobra”, marca a estreia da bela condessa Amélie d’Yeu, aliás Kiki, que será depois presença recorrente, transformando num trio o duo de protagonistas. Nesta primeira aparição, ela é o motor da acção, enquanto possuidora de um castelo, aparentemente assombrado, para o qual convida Tif e Tondu. As coisas precipitam-se e quando os heróis acordam estão a centenas de quilómetros do castelo, dentro de um carro que acaba de mergulhar no mar. Nesta história, ao contrário da anterior, a acção tem predominância sobre o suspense, mas o conjunto está bem imaginado.
Finalmente, “Le Roc Maudit”, apesar da forma algo forçada como o episódio inicial é encaixado na explicação final, é um belo exemplo de um policial passado em local fechado, no caso um farol isolado no meio do mar, onde as mortes se sucedem. Mais uma vez, Tillieux vai semeando as pistas ao longo do relato, permitindo ao leitor descobri-las – e interpretá-las – ao mesmo tempo que os heróis de papel.
Uma palavra final para o trabalho gráfico de Will, numa linha clara de traço arredondado, com destaque para a concepção das pranchas pela legibilidade e dinamismo que apresentam.

A reter
- Mais uma bela edição integral.
- O dossier inicial, profusamente ilustrado, que se debruça em especial sobre o trabalho de Tillieux na série.
- A qualidade das três histórias longas apresentadas.

Menos conseguido
- A obrigação de esperar pelo final desta reedição temática, para poder fazer uma leitura cronológica da série e perceber melhor a sua evolução.

Curiosidades
- Este volume reúne duas das quatro aventuras de Tif e Tondu publicadas em Portugal: “Contra o Cobra”, publicada pela primeira vez em 1979 na revista “Spirou” (2ª série) e depois no “Jornal da BD” (1984); “O Rochedo Maldito”, que ficou incompleta no “Jacaré” (1974) e na “Spirou” (2ª série), sendo finalmente publicada na íntegra no “Jornal da BD”.
- Antes disso, Tif e Tondu tinham feito a sua estreia no “Cavaleiro Andante” #540, de 5 de Maio de 1962, com “A Bomba” (informação do site BDNostalgia que não consegui confirmar na prática), tendo também passado pela “Spirou” (1ª série) em “A Matéria Verde” (1971), depois também republicada no “Jornal da BD” (1985).
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