Os leitores
de O Comércio do Porto, recordam certamente Ferd’nand, um herói dos
quadradinhos que os acompanhou nas páginas daquele jornal durante décadas, e
que hoje completa 75 anos. Poucos saberiam, no entanto, que se tratava de uma
banda desenhada de origem dinamarquesa, tal como o seu autor, Henning Dahl
Mikkelsen (1915-1982), que assinava apenas Mik e que se manteve como seu autor
até falecer. A continuidade seria assegurada primeiro pelo seu assistente Al
Plastino (que assinava Al Mik) e depois por Henrik Rher (Rher Mik), que
mantiveram Ferd’nand nos jornais até 2004, fazendo dela a tira diária não
norte-americana de maior longevidade. Para além disso, Ferd’nand distinguiu-se
por ser completamente muda, baseando-se apenas no desenho para conseguir os
seus objectivos humorísticos (embora alguns jornais, em diferentes épocas, incluíssem
por baixo deles um texto “explicativo”).
O seu
protagonista era um perdedor nato de classe média, (quase) sempre de calças de
tweed, colete, casaco preto com grandes botões e um chapéu na cabeça, que, para
além de turista ocasional, pescador frustrado, desportista inábil e náufrago
frequente, assumiu todas as profissões imagináveis, sempre ao sabor das necessidades
humorísticas da tira, que privilegiavam o aproveitamento de situações
quotidianas universais e, por isso, facilmente identificáveis, e uma sátira
social leve e inócua.
Antes de se
concluir o primeiro ano, Ferd’nand conheceria aquela que três tiras mais tarde
(!) já era sua esposa - para seu desespero, claramente expresso - sendo o
núcleo familiar da tira aumentado de imediato com o nascimento de um bebé que
rapidamente cresceu alguns anos, tornando-se uma cópia perfeita do pai em
tamanho reduzido.
Baseada num
traço simples, de grande legibilidade, Ferd’nand rapidamente saltou dos jornais
dinamarqueses para outras paragens, até rebentar a II Guerra Mundial, durante a
qual foi proibido em toda a Europa dominada pelos nazis, pois estes assumiram o
seu bigode como uma caricatura de Hitler. Durante este período o seu criador
realizou duas curtas metragens também protagonizadas por ele.
Terminada a
guerra, Mikkelsen emigrou para os Estados Unidos, em 1946, onde casou e teve
quatro filhos, e onde o sucesso de Ferd’nand obrigou à criação de uma prancha
dominical colorida, a partir de 4 de Abril de 1948, a par das tiras diárias a
preto e branco, publicadas simultaneamente em dezenas de jornais, de cerca de vinte
países.
Para além
da publicação no Comércio do Porto, em Portugal estão disponíveis desde 2008
duas compilações cronológicas, editadas pela Libri Impressi de Manuel Caldas: “Surge…Ferd’nand – Tiras de 1937”
e “Ferd’nand retorna – Tiras de 1938”.