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03/05/2012

Ferd'nand: 75 anos sem abrir a boca












Os leitores de O Comércio do Porto, recordam certamente Ferd’nand, um herói dos quadradinhos que os acompanhou nas páginas daquele jornal durante décadas, e que hoje completa 75 anos. Poucos saberiam, no entanto, que se tratava de uma banda desenhada de origem dinamarquesa, tal como o seu autor, Henning Dahl Mikkelsen (1915-1982), que assinava apenas Mik e que se manteve como seu autor até falecer. A continuidade seria assegurada primeiro pelo seu assistente Al Plastino (que assinava Al Mik) e depois por Henrik Rher (Rher Mik), que mantiveram Ferd’nand nos jornais até 2004, fazendo dela a tira diária não norte-americana de maior longevidade. Para além disso, Ferd’nand distinguiu-se por ser completamente muda, baseando-se apenas no desenho para conseguir os seus objectivos humorísticos (embora alguns jornais, em diferentes épocas, incluíssem por baixo deles um texto “explicativo”).
O seu protagonista era um perdedor nato de classe média, (quase) sempre de calças de tweed, colete, casaco preto com grandes botões e um chapéu na cabeça, que, para além de turista ocasional, pescador frustrado, desportista inábil e náufrago frequente, assumiu todas as profissões imagináveis, sempre ao sabor das necessidades humorísticas da tira, que privilegiavam o aproveitamento de situações quotidianas universais e, por isso, facilmente identificáveis, e uma sátira social leve e inócua.
Antes de se concluir o primeiro ano, Ferd’nand conheceria aquela que três tiras mais tarde (!) já era sua esposa - para seu desespero, claramente expresso - sendo o núcleo familiar da tira aumentado de imediato com o nascimento de um bebé que rapidamente cresceu alguns anos, tornando-se uma cópia perfeita do pai em tamanho reduzido.
Baseada num traço simples, de grande legibilidade, Ferd’nand rapidamente saltou dos jornais dinamarqueses para outras paragens, até rebentar a II Guerra Mundial, durante a qual foi proibido em toda a Europa dominada pelos nazis, pois estes assumiram o seu bigode como uma caricatura de Hitler. Durante este período o seu criador realizou duas curtas metragens também protagonizadas por ele.
Terminada a guerra, Mikkelsen emigrou para os Estados Unidos, em 1946, onde casou e teve quatro filhos, e onde o sucesso de Ferd’nand obrigou à criação de uma prancha dominical colorida, a partir de 4 de Abril de 1948, a par das tiras diárias a preto e branco, publicadas simultaneamente em dezenas de jornais, de cerca de vinte países.
Para além da publicação no Comércio do Porto, em Portugal estão disponíveis desde 2008 duas compilações cronológicas, editadas pela Libri Impressi de Manuel Caldas: “Surge…Ferd’nand – Tiras de 1937” e “Ferd’nand retorna – Tiras de 1938”.

 (Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 3 de Maio de 2012)

29/01/2010

Ferd’nand retorna – Tiras de 1938

Mik (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Setembro de 2009)
226 x 207 mm, 120 p., pb, brochado com badanas


Depois de “Surge Ferd’nand”, eis o segundo volume da edição integral das tiras diárias de Ferd’nand, criação do dinamarquês Mik, que o jornal O Comércio do Porto divulgou em Portugal durante muitos anos. Exemplo maior de tira diária muda – Ferd’nand ao longo da sua vida não pronunciou uma única palavra, o que até levou a que muitos jornais acrescentassem legendas por baixo das vinhetas para as explicar (!), o que na prática é absolutamente desnecessário – surge mais uma vez em edição bilingue (português/espanhol) – passe o contra-senso com a mudez das tiras – como forma de a tornar viável face à reduzida dimensão do nosso mercado.
Nele, reencontramos o protagonista em gags em torno de temas recorrentes como o mau tempo, cães, música, caça, pesca, tiro ao alvo ou excesso de peso, concluídos sempre de forma diferente e surpreendente, oscilando o humor entre o ingénuo, o inesperado e mesmo o nonsense.
Ferd’nand um autêntico faz-tudo, que assume as mais diversificadas profissões e cujo carácter varia de acordo com as necessidades cómicas do momento, tanto é passivo (a maior parte das vezes) como activo, engenhoso como desajeitado, citadino como campestre, corajoso como cobarde, o que possibilita uma maior liberdade criativa ao autor e constitui uma excepção à “regra” aplicada à maior parte das outras tiras diárias, de então ou de hoje. Ferd’nand, chega mesmo a falecer… para regressar incólume na tira seguinte, para nosso deleite e divertimento. Uma referência ainda para a sua relação com o belo sexo, em relação ao qual toma mesmo algumas liberdades, admirando mulheres jovens e bonitas, desejando que a sua (matrona) desapareça ou fazendo até alguns (tímidos) avanços… Mas, fruto da época - estas cenas passaram-se há 70 anos, recorde-se! -, Ferd’nand também é capaz de protestar pelo facto de a sua cara-metade usar calças…

Ao lado, com a devida vénia a Manuel Caldas, reproduzo um projecto para a capa, entretanto abandonado.

09/10/2009

Sugestão de leitura: Ferd’nand retorna

Mik (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Setembro de 2008)
230 x 205 mm, 120 p., pb, brochado com badanas

Já está impresso e disponível no editor, o segundo volume de Ferd’nand, com “todas as 313 tiras diárias de 1938, o segundo ano da universal série pantomímica de Mik”, refere Manuel Caldas, que acrescenta que é “a primeira vez em todo o mundo que tal material se recolhe em livro na sua integralidade”.
As Leituras do Pedro aconselham vivamente o livro – quem não conhecer Ferd’nand pode descobrir mais aqui - e, uma vez que “ainda não se sabe a data em que estes livros serão distribuídos pelas livrarias”, recomendam que o encomendem directamente ao editor (mcaldas59@sapo.pt), por duas razões: primeira, vão poder lê-lo mais cedo; segunda, ficando com quem edita a verba normalmente deglutida pela distribuição, menos exemplares será necessário vender para conseguir editar novo volume!

19/06/2009

Surge… Ferd’nand – Tiras de 1937
















Surge… Ferd’nand – Tiras de 1937
Mik (argumento e desenhos)
Libri Impressi (Portugal, Dezembro de 2008)
226 x 203 mm, 108 p., cor e pb, bilingue (português/espanhol), capa brochada com badanas


Resumo
De Ferd’nand, poder-se-ia dizer que foi a primeira tira diária de imprensa muda, a primeira tira não norte-americana de sucesso mundial e uma das tiras publicadas durante mais tempo (67 anos, de 1937 a 2004), para além de ter sido presença constante no jornal “O Comércio do Porto” durante décadas.

Desenvolvimento
Mas, prosseguindo a ideia deixada atrás, nada disso, por si só, lhe faria justiça.
Publicado pela primeira vez a 3 de Maio, assinado por um jovem dinamarquês de apenas 21 anos, Ferd’nand assenta numa simplicidade desarmante. O traço é simples, arredondado e desprovido de mais pormenores do que os necessários para materializar o gag, No entanto, nessa sua aparente simplicidade, demonstra uma expressividade, um sentido de composição e de equilíbrio do conjunto de 3 a 5 vinhetas que habitualmente compõem a tira e um dinamismo assinaláveis, que conferem ao todo uma enorme legibilidade. Simples, quase sempre de uma grande ingenuidade, são também os argumentos, sempre auto-conclusivos, sem qualquer continuidade, assentes nos pequenos nadas do quotidiano, revistos à luz de um humor directo mas sempre inesperado, uma vez por outra com um toque de nonsense. E que mantêm hoje toda a frescura, mesmo quando a ideia base possa ser um pouco datada.
Para sustentar a tira, ao lado de Ferd’nand, existe uma curtíssima galeria de personagens: a sua esposa, filho (cópia em ponto pequeno do progenitor) e cão. O protagonista, sem profissão fixa, escolhida ao sabor das necessidades do gag, mas sempre pertencente à classe média, como forma de garantir identificação com maior número de leitores, permanece inalterável fisicamente e na sua maneira de ser e agir, ao longo dos anos, apresentando-se (quase) sempre com o seu chapéu característico, calças de fazenda, casaco preto e colete com dois grandes botões.

A reter
- A publicação, pela primeira vez em livro, de todas as tiras do ano de nascimento de Ferd’nand, para mais com uma cuidada e detalhada introdução de Manuel Caldas.
- A possibilidade de este ser o tomo inicial da edição integral do Ferd’nand de Mik, assim a edição encontre os compradores suficientes.
- O sentido de oportunidade do editor ao fazer uma edição bilingue (português/espanhol) que aumenta em muito o potencial mercado para a obra o que permitirá mais facilmente recuperar o investimento e avançar com novos volumes.

Menos conseguido
- As (apenas) 70 páginas com tiras sabem a pouco… Mas claro que juntar dois anos num só volume aumentaria demasiado o seu preço final…

Curiosidades
- Para descobrir algumas, há que ler a introdução de Manuel Caldas, como habitualmente minucioso e bem informada e profusamente ilustrada.

(Versão revista e aumentada do texto publicado a 21 de Fevereiro de 2009 no suplemento In’ da revista NS, publicada aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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