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29/11/2011

BD pela saúde

Que a banda desenhada é um género narrativo com imenso potencial didáctico e pedagógico – o que não implica que não seja frequentemente mal utilizado com aqueles objectivos – é inegável.Curiosamente, por coincidência, acredito eu, intervalados por um curto espaço de tempo, foram lançados entre nós dois projectos que, de forma conseguida, encaixam no propósito acima descrito, com a particularidade de ambos versarem sobre questões relacionadas com a saúde.

A liga dos 4
#1 – O estranho caso das 3 professoras
#2 - Festival de Verão em risco
Maria Inês de Almeida (argumento)
Pedro Afonso (desenho)
Liga Portuguesa Contra o Cancro (Portugal, Outubro de 2011)
170x240 mm, 32 p., cor, brochado
5,65 €

O primeiro, de origem nacional, o que é de destacar, assenta a sua estrutura no modelo de séries juvenis protagonizadas por heróis da faixa etária dos leitores a quem se dirige – como os Cinco, os Sete, uma Aventura, etc. – para abordar questões relacionadas com o cancro.
No caso, são quatro amigos, dois rapazes e duas raparigas – André e Pedro, Margarida e Rita - estudantes do mesmo liceu que, num registo com um ligeiro tom policial, de mistério e suspense, investigam “casos” ligados ao seu quotidiano: no primeiro tomo, um cancro do colo do útero que afecta ao mesmo tempo duas professoras gémeas e cuja origem urge descobrir para que o mal não se propague; no segundo, uma cantora afectada por um cancro da mama, o que põe em risco a realização de um festival de verão. Temas actuais e presentes, que ajudam os leitores a identificarem-se com as situações descritas e a prender a sua atenção.
Partindo destes pressupostos, os leitores são introduzidos às possíveis origens, tratamento e consequências de doenças que ainda são vistas em muitos casos como bichos-papões e mostram como conviver com as pessoas afectadas por elas. Tudo de uma forma leve e até agradável, pois o tom didáctico/pedagógico está bastante diluído nas tramas, servidas por um traço simples e acessível.
À venda na FNAC, estas edições assinalem os 70 anos da Liga e contam com o apoio da Sanofi Pasteur MSD.

O que se passa com a Leonor?
Medikiz explica a AIJ
Dr. Kim Chilman-Blair (argumento)
Shawn de Loache (desenho)
Roche Farmacêutica (Portugal, Outubro de 2011)
170x260 mm, 32 p., cor, brochado

O mesmo propósito preside a este livro, embora aqui o estilo – narrativo e gráfico – adoptado, directo e apelativo, esteja mais próximo – a meio-caminho talvez – entre o comic de super-heróis e o manga juvenil.
O que se passa com a Leonor?, na origem inserido numa colecção que conta já quase duas dezenas de títulos, parte do mundo do desporto, mais exactamente do quotidiano de uma equipa liceal de basquetebol feminino, para abordar a Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), que afecta cerca de 1 em cada 1000 jovens de idade inferior a 16 anos em Portugal.
Se neste caso a carga didáctica/pedagógica é mais evidente, pois são bastantes as explicações “técnicas” incluídas, ela é, mesmo assim, aligeirada pelos apartes humorísticos que recorrentemente vão sendo introduzidos na narrativa.
Nela, Leonor, a protagonista que sofre de AIJ, o que a impede de jogar basquetebol, parte numa viagem pelo interior do corpo humano, juntamente com a equipa de super-heróis da Mediland, constituída pelo Bomba (ligado às questões do coração), Chi (pulmões), Cindepele (pele), Gastro (barriga e rabo – sic!) e Axon (cérebro). Ao longo do trajecto é explicado o seu funcionamento bem como diferentes particularidades da doença como sintomas, diagnóstico e tratamento.
A obra, que foi apresentada em Portugal a 12 de Outubro, Dia Internacional das Doenças Reumáticas, destina-se a ser distribuída gratuitamente aos doentes e familiares através dos médicos especialistas e da Associação Nacional de Doentes com Artrites e outros Reumatismos da Infância (ANDAI).

10/10/2011

Sur la route de Banlung

Cambodge 1993
Jacques Rochel (argumento)
Vink (desenho)
Dargaud (França, 9 de Setembro de 2011)
240 x 320 mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
Cambodja, 1993. As primeiras eleições democráticas no país estão em marcha, sob a supervisão da ONU. À sua frente, está Jacques Rochel, francês de origem vietnamita que tem que velar pelo bom desenvolvimento das operações e por fazer chegar mensalmente cerca de 120 mil dólares aos diversos colaboradores da organização, o que desperta apetites e cobiças, agudizando as tensões numa zona em tempos dominada pelos Khmers vermelhos, cujas atrocidades ainda não foram esquecidas nem perdoadas mas que alguns gostariam de voltar a ver no poder.

Desenvolvimento
Este é um relato mais documental que ficcional. A primazia nele é dada ao retrato de um país conturbado, em busca de novos equilíbrios, pois se a maioria renega o passado, alguns têm saudades (pelo menos) de uma parte dele. A par disso há que considerar os diversos focos de tensão entre os habitantes locais e os brancos, considerados ocupantes e/ou lacaios dos vizinhos vietnamitas, responsáveis pelo fim da ditadura.
Para tornar a narrativa mais interessante – pelo menos mais apelativa para os leitores em geral - os autores deram-lhe um cunho ficcional, incluindo alguns elementos extra-realidade num relato que era principalmente biográfico pois o argumentista é exactamente Jacques Rochel, o responsável da ONU no local.
Por isso, a acção vai-se desenrolando a vários tempos: no terreno, na concretização da sua missão como funcionário da ONU; intimamente, na sua angústia perante a notícia de que o seu filho mais novo é autista, e, de forma confusa, nos vários sentimentos contraditórios que sente perante o reencontro com uma antiga colega de liceu de há 20 anos, que nunca saiu do Vietname e é casada com um alto responsável do Partido Comunista; na sombra, com o grupo de ex-khmers que aparentemente pretende roubar os 120 mil dólares que Rochel recebe mensalmente, mas cujos contornos acabarão por ditar uma situação, social e politicamente, muito mais grave e abrangente.
Reforçando o aspecto documental, o traço de Vink, demasiado preso às suas referências fotográficas, serve apenas de veículo ao desenvolvimento do relato, que consegue apesar de tudo apresentar algumas surpresas e que aparentemente se vai desenvolvendo de forma tranquila, mas em que se vai sentindo o acumular de uma tensão que pode explodir a cada momento.
Fica por questionar – e é pena – a validade dos modelos ocidentais em sociedades cujos usos e costumes são completamente diferentes, o que muitas vezes justifica os choques que a nossa imprensa raramente compreende ou explica, mas a verdade é que não era esse o objectivo pretendido.

A reter
- O tom documental desta semi-ficção que mostra uma realidade bem diferente daquela que conhecemos (e daquela que tantas vezes nos é apresentada).
- O dossier final, que inclui uma conversa entre Vink e Rochel que aclara alguns aspectos, profusamente ilustrado com fotografias.

Menos conseguido
- A relação demasiado próxima do traço de Vink com a sua base fotográfica.

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