18/04/2011

Far Away

Jean-François e Maryse Charles (argumento)
Gabrielle Gamberini (desenho)
Colecção Roman BD
Glénat (França, 23 de Março de 2011)
185 x 260 mm, 144 p., cor, cartonado, 25 €


Resumo
Martin Bonsoir é um camionista a quem o demasiado tempo passado na estrada fez esquecer a capacidade de apreciar o que o rodeia.
O acaso – uma tempestade de neve – vai fazer com que se cruze com Esmé, uma mulher mais velha do que ele, que, em troca da sua ajuda, o convence a levá-la consigo no camião.


Desenvolvimento
Por vezes, não há como dourar ou desenvolver os textos sobre um livro. Não pela sua fraca qualidade ou interesse, mas porque há histórias simples que não precisam de ser mais do que isso.
Este Far Away é um desses casos. A história de uma relação (não tão improvável como um primeiro olhar pode inferir) entre dois seres aparentemente muito diferentes. Cujas motivações, desejos, necessidades vamos conhecendo conforme eles as vão descobrindo ou expondo. Até porque a sua relação, para crescer e se fundamentar, tem que passar por momentos tensos, por crises de confiança, mesmo por separações, retratadas com grande realismo e credibilidade.
Mais resumidamente, este é um relato agradável sobre relacionamento, confiança e partilha. Sobre apreciar o mundo, o que nos rodeia, a vida (enquanto dura).
Não que o seu tom seja lamechas, até porque o final, apesar de relativamente (in)feliz – sim, possui esta dualidade… - convida mais a pensar do que a chorar ou a abrir a boca num sorriso de irreal felicidade tonta. E a seguir em frente, de preferência com uma nova perspectiva da existência e da forma de a aproveitar.
O argumento, do casal Charles, embora consistente e bem sustentado – dentro da (falsa) simplicidade já referida - é bastante linear, apenas com duas (relativas) inflexões, a inicial, já desvendada no resumo, necessária para que o resto funcione, e a que conduz ao desfecho, que o leitor adivinha mais cedo que o protagonista.
Quanto ao desenho de Gabrielle Gamberini, é nele evidente o facto de esta italiana ser também pintora, pois faz de cada vinheta um quadro a guache. E se denota alguma falta de dinamismo, de alguma forma compensado pelo reduzido número de vinhetas por prancha, o que ajuda a BD a respirar, isso acaba por ser uma limitação menor pois o argumento também não o exige. Sobram, também, para compensar, algumas vinhetas belíssimas, como a que abre a história, de página inteira, que obrigam o olhar a demorar-se em contemplação.
Contribuindo, assim, também, para que se cumpra uma das premissas da história: a importância de prestar atenção às coisas pequenas, aos pormenores.


A reter
- Por vezes é bom parar com a correria diária, atentar nas coisas simples, repensar prioridades. Este (belo) livro contribui para isso.
- Algumas vinhetas que mostram que Gabrielle Gamberini, sem ser uma grande autora de banda desenhada, é, no entanto, uma boa pintora.


Menos conseguido
- A falta de dinamismo e de movimento das personagens.

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