Chega esta semana com o jornal Público, um dos
mais interessantes volumes da excelente colecção
Novela Gráfica, da Levoir.
É O Diário do Meu Pai, do japonês Jiro Taniguchi,
cuja nota de imprensa e algumas pranchas, fornecidos pela editora, se podem ver
já a seguir.
Yoichi Yamashita regressa a Tottori - sua terra
natal - para o funeral do seu pai. Um regresso às raízes, que o leva a evocar a
infância e a perceber finalmente a personalidade austera do seu pai, com quem
não falava há anos. Um relato intimista e comovente, contado com grande beleza
e sensibilidade pelo mais europeu dos desenhadores japoneses.
"Com os anos, reconhecemos a felicidade de
ter raízes. Mas só depois de ter atingido a idade que os meus pais tinham na
altura é que fui tocado pela sua maneira de viver..."
Jiro Taniguchi, do posfácio de Diário do meu Pai
Justamente considerado como uma das principais
obras de banda desenhada japonesa, O Diário do meu Pai é também a mais
autobiográfica de um dos grandes autores de BD mundial, Jiro Taniguchi. Nascido
em 1947, no Japão, Jiro Taniguchi começou a sua vida profissional como
empregado de escritório, até descobrir que o que queria realmente fazer era
desenhar. Nos inícios dos anos 70, começou a publicar os seus trabalhos em
diversas revistas japonesas, dando início a uma carreira sólida e prestigiada,
e acabará por ser muito influenciado pela banda desenhada francesa, na altura
quase desconhecida no Japão, e cujo estilo, diversidade e clareza do desenho,
sobretudo da linha clara, o marcaram profundamente. Este fascínio pela BD
francesa, e a influência que ela teve sobre ele, tornam-no particularmente
acessível aos leitores Ocidentais, mesmo quando eles pouco conhecem do mangá
japonês. Admirador confesso de autores como Moebius, Schuiten e Tito, Taniguchi
colaborou com Boilet e Peeters em Tokio est mon Jardin, e ganhou dois prémios
em Angoulême, o maior Festival de BD europeu, que lhe dedicou uma grande
exposição em 2015.
Em 2001, viria a criar a série Icare (Ícaro) a
partir de textos de Moebius. No Japão, foi também vencedor de inúmeros prémios,
entre os quais podemos destacar o Prémio Cultural Osamu Tezuka, em 1997, pela
trilogia Boccha no Jidai e o Prémio Shogakukan com o seu livro Inu wo Kau, em
2003. Os prémios que venceu em Angoulême foram por Quartier Lointain, para
Melhor Argumento (2003), e por Sommet des Dieux, para Melhor Desenho (2005).
É a partir dos anos 90 que a sua obra se irá
começar a focar cada vez mais na vida quotidiana e nas relações entre os
homens, e também entre homens e animais, entre o homem e a natureza (com várias
obras sobre o alpinismo, por exemplo), e em temas universais como a beleza, a
família ou o regresso à infância, muitas vezes inspirando-se da sua vida
pessoal e da sua infância na cidade de Tottori.
Taniguchi irá declarar que "se muitas vezes
quero tratar das pequenas coisas da vida quotidiana, é porque dou muita
importância à expressão das mudanças e das incertezas que as pessoas ressentem
no dia-a-dia, e aos sentimentos profundos das suas relações com os outros.
[...] Na vida quotidiana, não costumamos ver as pessoas a uivar e gritar, ou a
rebolarem-se no chão a chorar. Se os meus mangás têm algo de asiático, é talvez
porque me dedique muito a tentar mostrar a realidade quotidiana dos sentimentos
das personagens. Se formos suficientemente fundo, podem aparecer histórias até
nos mais ínfimos e mais banais acontecimentos do dia-a-dia. É a partir desses
momentos ínfimos que crio os meus mangás."
Taniguchi conheceu um sucesso particularmente
importante em França, onde tem hoje muito do seu público. Ele próprio se diz
surpreso com o interesse que os leitores francófonos sentem pela sua obra: "No
Japão, acham sempre as minhas histórias demasiado sombrias, demasiado
literárias, mas em França sinto sempre que existe uma atenção profunda para com
o meu trabalho, e particularmente com o meu texto."
Em O Diário do meu Pai, Taniguchi conta-nos uma
história de regresso às raízes, que o leva a evocar a infância e a perceber
finalmente o verdadeiro motivo por que o pai abandonou a família. Taniguchi
queria contar uma história que tivesse a sua terra natal, Tottori, como
cenário, mas, como refere numa entrevista a Benoit Peeters: “quando me pus a
reflectir na história, apercebi-me que, de facto, não sabia quase nada sobre o
meu pai. Imaginei então uma personagem que regressa à sua terra natal para
descobrir quem era verdadeiramente o seu pai. (…) A história é inventada, mas
os sentimentos e o espírito da história resultam da minha experiência pessoal.
Tinha em relação ao meu pai o mesmo tipo de sentimentos que estão descritos no
livro. No fundo, durante a minha juventude, tinha a ideia que não queria ser
como ele. Achava que a vida do meu pai não era uma vida interessante. Mas
depois descobri que afinal não era bem assim, e é isso mesmo que tento
transmitir neste livro”.
Este é o segundo livro de Taniguchi publicado no
nosso país, depois da edição de O Homem que Caminha em 2005 (na Série Ouro da
colecção Clássicos da Banda Desenhada), desta vez numa edição que faz jus à
qualidade e importância da sua obra.
O Diário do meu Pai
Jiro Taniguchi
17 x 24cm, capa dura, 280 pgs a preto e branco
9,90 €
São álbuns como este que me fazem gostar de Banda Desenhada………….no topo dos melhores…………delicio-me com uma “história de vida”……..Bravo
ResponderEliminarUma belíssima "história de vida" sem dúvida, Pedro Ferreira, de uma grande sensibilidade.
EliminarBoas leituras!