A Levoir
distribui hoje, como jornal Público, um dos mais surpreendentes volumes da colecção Novela Gráfica, uma adaptação (muito) livre da história de Sherazade, com a
assinatura de Sergio Toppi, um dos grandes mestres da BD a preto e branco.
Nota de
imprensa da editora e algumas pranchas, já a seguir.
Nascido em Milão, em 1932, Sergio Toppi iniciou a sua carreira
como ilustrador em 1966. Desenvolve um estilo a preto e branco que o torna num
dos mais inovadores e talentosos desenhadores europeus, premiado no Festival de
Lucca de 1975 com o Yellow Kid para Melhor Desenhador.
“Toppi faz o impossível parecer
fácil”
Frank
Miller
Um momento importante da sua carreira na BD, foi o encontro com Sergio
Bonelli, personagem incontornável da BD italiana, editor de Tex e
Dylan Dog, que contratou Toppi em 1974, para este acabar de desenhar um
Western que a morte de Rino Albertarelli deixara incompleta. O ano de 1975
também foi importante para Toppi, por ter ganho o Yellow Kid para o melhor
desenhador no Festival de Lucca. Começou a colaborar nas revistas Sgt. Kirk
e na mítica coleção Un Uomo, un’Avventura,
onde Bonelli conseguiu a proeza de juntar os mais prestigiados nomes dos fumetti italianos, de Hugo Pratt a Milo
Manara, passando por Crepax, Buzzelli, Battaglia, e claro, Toppi, que entre
1976 e 1978 ilustrou os volumes, L’Uomo
del Nilo, L’Uomo del Messico e L’Uomo del Paludi.
A sua obra, muito variada e que inclui, além
de largas dezenas de histórias curtas, coisas tão inesperadas como uma
biografia em banda desenhada do Papa João Paulo II, nunca conseguiu cativar
devidamente o grande público, talvez pela ausência de um herói icónico que o
fidelizasse. A obra de Toppi é constituída maioritariamente por histórias
curtas, tendo como único personagem recorrente Il Coleccionista, um peculiar coleccionador e aventureiro, misto de
dandy e de cowboy, que se estreou em 1982 na revista Orient Express. Um personagem de moral dúbia e passado misterioso, muito longe dos heróis
tradicionais com que o leitor facilmente se identifica.
Apesar do seu trabalho só agora começar a ser publicado nos EUA, a sua
influência em desenhadores como Walt Simonson, Frank Miller, Bill Sienkiewicz,
Ashley Wood, ou Dave McKean (sobretudo numa primeira fase que vai até ao Arkham Asylum) é evidente e assumida
pelos próprios, que nunca esconderam a sua admiração pelo trabalho de Toppi.
Frank Miller foi o responsável pela estreia do desenhador italiano no mercado
american, publicando uma ilustração que o Mestre fez de homenagem à série Sin
City, na mini-série Sin City: The Big
Fat Kill. Mais tarde, será a Marvel a encomendar-lhe as capas da mini-série
1602, que retoma o conceito, criado por Neil Gaiman, do universo Marvel transposto para o século XVII.
Uma interessante aparição de Toppi em português (a última antes deste
volume), deu-se em 1999, no # 8 da revista Selecções
BD, com a história Algarve 1460,
protagonizada pelo Infante Dom Henrique, enquadrada por um texto de João Paiva
Boléo, que abordava a relação de Toppi com Portugal, que tinha visitado um ano
antes de desenhar essa história. Poderão encontrar neste volume também uma
reprodução de uma prancha dessa mesma história a ilustrar o prefácio, também
ele assinado por João Paiva Boléo.
Em 1979, Sergio Toppi realiza para a revista italiana Alter
Alter uma adaptação das Mil e Uma Noites, considerada por muitos como a sua
obra-prima. Face ao sucesso do primeiro volume da edição francesa de Sharaz
De, publicada em 2000 e que reunia todas as histórias publicadas em Itália,
a sua editora - a Mosquito - propôs ao desenhador que criasse uma continuação
destinada ao público francófono. É a edição integral deste clássico
incontornável da banda desenhada que este livro dá a descobrir ao público
português.
Toppi comparou o seu objectivo com Sharaz De ao que
Pasolini tinha tido ao realizar Édipo Rei: "Ele não realizou uma
tragédia grega clássica, realizou uma tragédia fora do tempo ou em tempos
muitos antigos. Gostei muito daquela maneira dele fazer passar a ideia, a
sensação de um tempo muito distante, muito arcaico. E foi algo desse género que
tentei fazer com Sharaz De, não foi só uma questão de criar uns contos
Orientalizantes."
Sharaz-De, a Sherazade dos contos das Mil
e Uma Noites, surge aqui reinterpretada pelo traço inconfundível de Toppi, num
estilo espectacular de grande audácia gráfica e de profunda revolução da
estrutura clássica da página de banda desenhada. Os contos ilustrados são muito
livremente adaptados de entre os menos conhecidos, as suas conclusões morais
são algo dúbias e pouco optimistas sobre a condição e a natureza humana, e são
poucas as personagens que no final aparecem sob uma luz muito positiva. A
narração é directa, sem embelezamentos, criando uma atmosfera ao mesmo tempo
mítica e pragmática: um príncipe é curado da lepra, mas deixa que o seu orgulho
leve a melhor e paga o preço; um irmão confronta os seus dois outros irmãos, e
esquece a promessa que fez a um génio, sendo escravizado; um ambicioso e
cobiçoso homem rouba o único tesouro de um pobre, mas é traído por esse mesmo
tesouro; um rico mercador procura sabedoria mas acaba por enlouquecer... e
assim por diante, num conjunto de fábulas que de alguma maneiras serão morais,
mas que as soberbas ilustrações de Toppi servem de uma maneira absolutamente
excepcional, transformando este livro em algum mais do que um livro de banda
desenhada: um de livro de arte quase sensual.
“Toppi é capaz de desenhar qualquer coisa e
dar-lhe uma solidez e um sentido de movimento que a tornam ideal para contar
histórias no formato da Banda Desenhada”.
Dave McKean
Este texto
teve a colaboração de João Miguel Lameiras. O leitor poderá ler algumas
interessantes textos sobre, e entrevistas de Toppi online aqui:
Sharaz De
Sergio Toppi
Formato: 22cm x 30cm, 224 pgs, capa dura, 9,90 €
boas pedro esta coleção tem sido um mimo para todos os fãs de Comics :)
ResponderEliminargostava de saber se há alguma informação sobre coleção Marvel ou DC preparada para quando esta acabar :)
muito obrigado e continua o bom trabalho que tens vindo a fazer ao longo dos anos
Caro Anónimo,
EliminarEsta colecção tem sido um mimo MESMO para quem não é fã de comics.
A próxima colecção que vai sair com o jornal Público, que vou divulgar muito brevemente, não é de super-heróis; possivelmente vai ser preciso mais alguma paciência até eles regressarem...
Boas leituras!
se fosse algo vertigo era muito bem vindo também :)
Eliminarse bem que esses nao são "Super herois" :)
Creio que o Pedro deve estar a referir a alguma nova coleção Asa/Público, ou seja franco-belga.
EliminarPor norma as coleções de super-heróis Levoir/Público começam em julho.
Sempre perspicaz, Reignfire! ;)
EliminarBoas leituras!