Habituado à realidade nacional, onde as tiras diárias de
imprensa publicadas – e, bons tempos que já lá vão… - foram (quase
exclusivamente) sempre importadas (dos EUA), não deixo de me surpreender como esta
forma de publicação tem tantos cultores no Brasil.
Cabeça Oca, criação de Christie Queiroz que completou
recentemente 25 anos (!) de publicação, é o exemplo que destaco hoje.
[É verdade que talvez não devesse ser tão surpreendente se
atendermos a que a própria Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, nasceu nesse
formato e o exemplo do seu sucesso poderia levar outros criadores a, de alguma
forma, tentar emulá-lo…
Mas, é igualmente verdade que, noutra épocas, criações – também
de autor – como Níquel
Náusea, de Fernando Gonsales, ou Quase
Nada, dos gémeos Bá e Moon, conseguiram o seu espaço. E, recentemente,
conhecemos em edição portuguesa Armandinho,
de Alexandre Beck.]
Mas falemos então do Cabeça Oca, que começou a ser publicado
em três jornais regionais (penso que posso escrever assim) quando o seu autor
tinha apenas 16 anos e hoje, mais de 25 anos depois, continua a ser presença
assídua nalguns títulos da imprensa brasileira bem como online, onde Cabeça Oca
e Mariana partilham um blog e
uma página do Facebook.
E, numa altura em que esse método prevalece em Portugal,
refira-se que as edições do Cabeça Oca foram as primeiras – em 2006 - a serem
alvo de uma promoção com jornais brasileiros.
Tira de tom familiar, centra-se no quotidiano – em casa, na
escola, no jardim, no parque, com os amigos – do protagonista que lhe dá
título, um menino de 6, 7 anos, traquina, curioso e hiperactivo como tantos que
nós conhecemos. [E sim, seu sei, são muitos os exemplos aos quadradinhos que
podemos aqui citar, mas a verdade é que Cabeça Oca tem um estilo, uma
personalidade e uma existência próprias que, sem renegar eventuais influências,
o levam a trilhar um caminho próprio e original.]
Ao seu redor, para dar diversidade e consistência,
aproximando a BD (ficção) da vida real (dos leitores) estão a mãe e o pai
(Cabeção), o cão Empadinha, os amigos Pião, Baixinha e Chocolate e,
principalmente a irmã Mariana – criada em 2000, inspirada na filha do autor – cujo
sucesso já levou a que protagonize algumas edições a solo.
Tendo saltado entretanto das tiras diárias para outros
formatos – histórias (mais ou menos) curtas, histórias longas, encomendas
institucionais como Cabeça Oca
– Lixo: reeducar é possível – e tendo sido ‘partilhado’ com outros
criadores - o que mais surpreende é a diversidade de publicações em que Cabeça
Oca vive as suas divertidas aventuras e diabruras, sejam eles os livros com a
compilação das tiras de jornal, a revista (gibi) no tradicional formatinho ou o
álbum completo, como facilmente se pode verificar na sua loja online.
Após a leitura de quatro edições diversas, confesso a minha
preferência pelo formato original em tiras, mais capaz de condensar e expor num
espaço curto, todo o potencial humorístico da personagem, em especial quando
assume a identidade do Super-Cabeça Oca, onde a par das habituais confusões, se
multiplicam bem-humoradas alusões a bem conhecidos heróis de BD (HQ).
Isso não invalida o potencial dos outros formatos – que para
além dos fãs do Cabeça Oca podem chegar a leitores diferentes –, todos eles bem
explorados e com as narrativas adaptadas às suas características específicas,
sendo de realçar que a revista apresenta a singularidade de ter o herói como
intérprete de toda a publicidade nela inserida.
A multiplicação de projectos– e a consequente procura de
mais leitiores - passa, igualmente, pela ‘partilha’ do Cabeça Oca com outros
criadores – sempre sob a supervisão de Christe Queiroz – sem que a sua matriz
gráfica e temática se afaste demasiado dos padrões pré-estabelecidos.
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