A abrir o apetite
A
notícia da nova colecção ASA/Público, Airborne #44, surgida há cerca de 15 dias,
foi uma surpresa pela aposta numa série conhecida de poucos e elevou as
expectativas, em especial junto dos leitores de franco-belga, nos últimos
tempos quase órfãos de edições do seu género preferido.
O primeiro volume, apesar de algumas indefinições, parece justificar
a escolha.
Datado de 2009, Onde
caem os homens abre Airborne 44, uma série que funciona à base de dípticos.
Tendo como cenário maior a II Guerra Mundial, a acção deste primeiro livro
decorre nas Ardenas, em Dezembro de 1944, durante uma das batalhas decisivas
para a resolução do conflito.
Embora alguns dos aspectos históricos sejam fundamentais para
justificar o enredo de Onde caem os
homens, a verdade é que mais que uma história de guerra – e elas marcaram
uma época na história da BD – esta é uma história de seres humanos apanhados
pela guerra. Melhor, Onde caem os homens
é um conjunto de histórias cruzadas de gente que teve o azar de estar no local
errado na hora errada. Sejam eles o desertor alemão – incorporado à força - com
importantes segredos que todos procuram; o soldado – voluntário – americano, único
sobrevivente da sua companhia; os dois pequenos franceses a quem a guerra
parece ter prazer em oprimir; a jovem que em tempos teve aspirações artísticas e
que contra todas as expectativas consegue manter a sua pequena quinta a
funcionar, como um pequeno oásis onde todos irão aportar para que o drama possa
atingir a sua máxima proporção. Porque, mais uma vez o destino – ou neste caso Jarbinet
por ele – gosta de brincar com os pobres seres humanos e com as suas emoções,
provocando reacções, despertando sentimentos que não se poderão expressar,
provocando partidas e chegadas, baralhando o que já era de si confuso e
imponderável.
Falta saber – no segundo volume, à venda na próxima
sexta-feira – se a forma como o autor vai desatar o nó que apertou nas últimas
páginas deste livro, irá satisfazer plenamente as expectativas até aqui
criadas.
A edição da ASA, que encerra com um dossier que explica o
contexto histórico de Airborne 44 - mesmo sem a lombada com desenho tão ao
gosto dos coleccionadores - merece uma referência especial, pela capa dura e,
principalmente, pelo generoso formato que valoriza o traço realista e
detalhado, trabalhado em cor directa por Jarbinet, que apresenta uma rigorosa
reconstituição de época e um bom trabalho ao nível da representação do ser
humano.
Airborne 44
#1 Onde Caem os homens
Jarbinet
ASA/Público
Portugal, 28 de Abril de 2017
240 x 320 mm, 56 p., cor, capa dura
8,90 €
(imagens da edição francesa, recolhidas no site da editora Casterman;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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