Grande ou pequeno? Dura ou mole?
Digam o que disserem, o tamanho importa.
O tamanho, a forma, a dimensão... Muitas vezes, (quase?) tanto
quanto o conteúdo.
Porque, afinal, o que fazemos é sempre o
mesmo: lemos. O prazer é que pode ser aumentado...
Dura ou mole?
A capa, claro.
Depende da edição. Para publicações
de bancas - revistas - a componente de compra de impulso é
importante e por isso, quanto menor for o preço, melhor ela poderá
resultar. Para além disso, a publicação de banca está, para
muitos, associada a uma leitura imediata, consumista - à espera da
compilação - menos que à sua conservação ao longo dos anos, por
isso, mais uma vez, o preço mínimo é o ideal.
Dito isto, em publicações de banca, a
capa mole, mais barata, é a mais indicada.
Para outro tipo de edições - livros -
que pressupõem ler e guardar, a capa dura é a ideal, tendo em conta
a melhor preservação da obra ao longo do tempo. Colecções da ASA,
com o jornal Público, como Jonathan ou Valérian, por
exemplo, tinham justificado essa protecção extra, a exemplo do que
está a acontecer com I.R.$. Obviamente, a capa dura tem um
custo acrescido. De Valérian para I.R,$ a diferença são 3€ - não
exclusivamente devido à capa, mas também ao tamanho maior desta
última...
Outras edições nacionais (mais ou
menos) recentes justificavam capa dura, como a compilação dos três
primeiros volumes de The Walking Dead ou Do Inferno (ambos
da Devir). Justificavam-na pelo elevado número de páginas, que faz
com que facilmente a capa mole comece a 'enrolar'. A diferença de
preço, em edições já de si caras, não seria significativa e as
edições ganhariam bastante.
Um caso oposto - numa editora, a Polvo,
onde a capa dura tem sido uma raridade - é Nem todos os cactos
têm picos, de Mosi, onde as 'curtas' 24 páginas não
justificavam aquela opção; mais a mais não havendo sequer uma
página de título. A colecção Tex Romance Gráfico ou obras
como Cachalote, Tungsténio ou Talco de Vidro,
com outra dimensão física, teriam sido mais indicadas para a capa
dura, sempre uma melhor protecção, embora a 'capa mole com badanas'
não seja de todo descartável pois permite outras opções, como a
inclusão de resumo, fichas, biografias...
Pormenor não displicente: uma capa dura,
implica pelo menos mais dois ou três milímetros de espessura nos
livros; em tempos de 'vacas gordas editoriais', elas rapidamente
fazem diferença em termos de... ocupação de prateleira!
Grande ou pequeno?
Agora é a vez do formato.
Acredito que, para todas as obras, há um
limite para o aumento ou redução de formato em relação aquele
para o qual a obra foi inicialmente pensada - e desenhada. Um dos
principais factores, é o tamanho dos originais, que - normalmente -
foram feitos a pensar no tamanho de publicação. Demasiada ampliação
ou redução, irá sempre prejudicar a fruição do desenho.
Outro factor fundamental, é o tipo de
grafismo da obra. Quanto mais complexo e carregado for, menos admite
reduções. A louca do Sacré-Coeur, por exemplo, publicada na
primeira colecção Novelas Gráficas, tem páginas de difícil
leitura pela redução a que foi submetida.
Em oposição, obras com o desenho mais
limpo e despojado, ganham menos - se não perderem... - quando este é
ampliado. Temo que isso vá acontecer com Martin Mystère e
Mister No, na actual colecção Bonelli.
Pelo contrário, obras como Thor
ou Punho de Ferro, que a G. Floy publicou no seu formato
deluxe, beneficiam com esse aumento - cerca de 15 % - que
permite uma melhor apreciação das artes.
Pelas mesmas razões, a redução operada
na colecção Torpedo 1936, em minha opinião não prejudicou
a sua fruição e, desse modo, permitiu um preço final mais
agradável.
Outro critério a ter em causa é a
dimensão física do objecto livro. A partir de determinados limites
(dimensão, peso), deixa(ria) de ser 'humanamente' possível proceder
à sua leitura. Imaginemos Prince Valiant ou Little Nemo in
Slumberland publicados no tamanho original das pranchas, para
compreender melhor esta questão...
Tradução/legendagem
A alteração do formato inicial da obra,
pressupõe a alteração dos balões de texto. Mas não a
redução/aumento proporcional do tamanho de letra.
Por exemplo, quando é feita uma
significativa redução de formato - pensemos nos formatinhos
brasileiros Marvel, DC ou Bonelli - o tradutor é obrigado a 'cortar
no texto', para que ele possa caber e ser legível em balões mais
pequenos. Se é possível manter o essencial da obra original, obriga
a um trabalho suplementar de adaptação, que existe sempre da parte
do tradutor.
Em sentido contrário, o aumento de
formato obriga o legendador a equilibrar o texto nos balões, agora
demasiado grandes. Este problema - por outras razões, sem alterações
de formatos! - é recorrente nas edições de manga, onde o texto
original em caracteres orientais de leitura de cima para baixo, é
substituído por texto em caracteres ocidentais, com leitura da
esquerda para a direita. Uma rápida vista de olhos às edições da
Devir de Tokyo Ghoul, One-Punch Man ou Assassination
Classroom, demonstrará facilmente isto.
Extras
Hoje em dia, qualquer edição que se
preze traz extras. Outras capas, capas variantes, capas
'encomendadas' a outros artistas, entrevistas, notas do argumentista,
esboços do desenhador... Se, consoante as edições, se aceitam bem
(até) uma dúzia (mais coisa menos coisa) de páginas de extras, há
outras que ultrapassam largamente o exagero, como aconteceu com
Crónicas da Comic Con, que conta 116 páginas de extras para
apenas 76 de BD! Mas outros casos há em que 15, 20 ou mais páginas
de extras representam um acréscimo significativo de preço final.
Se há um núcleo de leitores que aprecia
e pede estes extras, convém que os editores não esqueçam que o
leitor médio dispensa bem os acrescentos, em especial quando eles
significam um preço mais elevado. Completar um caderno com extras, é
uma coisa, inserir cadernos a mais, para os publicar, é outra.
Notas finais
No limite, em muitos casos - a maioria? -
é a carteira que determina o que o leitor prefere. Poupar 2 €, 3€,
4€ por edição- o que significa poupar o suficiente para comprar
mais uma ao fim de três ou quatro livros - para muitos, é o ideal.
Capa mole? Papel de menor qualidade? Menor formato? Paciência. Fica
mais barato.
Outros, preferem a qualidade editorial
que permite - para eles - maior prazer na leitura. E, não o ignoro -
eu próprio o aprecio - o objecto livro em si, com peso, textura,
cheiro... - é um factor igualmente importante. Por isso, tantos -
ainda? - resistem à leitura digital, ou reservam-na para obras que
consideram 'menores'. Nestes casos, capa dura, grande formato,
extras... fazem as delícias desses leitores.
(E se alguns mercados permitem a mesma
obra em diferentes edições, de características e preços díspares,
esse não é o caso de Portugal.)
Cabe aos editores - até para continuarem
a sê-lo! - encontrar o equilíbrio entre todos os componentes
citados, tentando agradar ao maior número possível -de gregos e
troianos, atenienses e espartanos - mesmo sabendo que haverá sempre
quem reclame, da escassez ou da abundância, das edições de luxo ou
das mais populares, da capa mole ou dura, da distribuição em banca
ou em livraria, das colecções extensas ou curtas, dos integrais ou
das séries incompletas...
Bem, boas leituras!
(clicar nas imagens, meramente ilustrativas, para as aproveitar em toda a sua extensão)
As duas realidades estão ligadas: se existirem livros mais acessíveis, no futuro teremos mais leitores dispostos a pagar mais por livros melhores.
ResponderEliminarNum mercado saudável tem de ser assim. Estranho era quando era tudo capa dura.
Capa mole é mais barato e cabem mais nas prateleiras.
ResponderEliminarCapa dura é mais durável mas mais caro e ocupam bem mais espaço.
O melhor de dois mundos seria volumes grandes (duplos/triplos/omnibus) com capa dura :-)
Mas, só para contrariar o que digo, tenho alguns Omnibus (The Planetary Omnibus por exemplo) que são realtivamente baratos e ocupam relativamente pouco espaço, mas que são dificeis de manusear sobretudo devido ao seu peso :-)
Concordo com tudo com excepção da opinião relativa ao formato deluxe da G-Floy. Quer no caso da Marvel como nos livros do Millarworld aquele formato estraga a imagem final, vê-se claramente que houve ali um "esticamento" da arte original feito um bocado contra natura.
ResponderEliminarNos dois casos eram séries que aguardava com grande expectativa e que estava disposto a "engolir" a minha "alergia" aos hardcovers por elas mas assim que vi aquele formato "deluxe-só-porque-tem-mais-uns-milimetros decidi esperar que os compradores deste formato comecem a vender os seus originais americanos no OLX por tuta e meia :)
Felizmente que resistiram à tentação de mudar de formatos a meio das colecções as séries que iniciaram em 2014 (saga / chew).
Peço desculpa pelo anonimato, mas não costumo comentar.
ResponderEliminarSó para deixar uma nota relativa aos livros de capa mole com badanas.
Como a badana é parcial em relação à capa, esta não encosta com a primeira página do livro, deixando um espaço vazio de cerca de 1mm por onde entra pó e outras partículas e que estragam a capa e a primeira página do livro. (no final do livro acontece o mesmo)
Alerto para este tipo de formato; coloquem este tipo de livros em estantes com portas de vidro ou em qualquer lugar (fechado) onde o pó não chegue.
Obrigado, cumprimentos,
António
Para mim mais importante que o tamanho é o papel em comics (nada de jornal ou similares isso era no século passado é só no formatinho) o FA está mais que bom,quer seja hc ou sc,se querem formatos maiores usem isso numa 2a tiragem ou omenibuses.
ResponderEliminarEm manga/FB já acho as edições nacionais das diversas editoras muito semelhantes as Usa ou França.
E nao haver "corte" de comics/paginas como aconteceu Batman:Silencio e X-Men.Woverine,Hulk na Devir.
ResponderEliminar