18/04/2018

O tamanho importa


  
Grande ou pequeno? Dura ou mole?
Digam o que disserem, o tamanho importa. O tamanho, a forma, a dimensão... Muitas vezes, (quase?) tanto quanto o conteúdo.
Porque, afinal, o que fazemos é sempre o mesmo: lemos. O prazer é que pode ser aumentado...

Dura ou mole?
A capa, claro.
Depende da edição. Para publicações de bancas - revistas - a componente de compra de impulso é importante e por isso, quanto menor for o preço, melhor ela poderá resultar. Para além disso, a publicação de banca está, para muitos, associada a uma leitura imediata, consumista - à espera da compilação - menos que à sua conservação ao longo dos anos, por isso, mais uma vez, o preço mínimo é o ideal.
Dito isto, em publicações de banca, a capa mole, mais barata, é a mais indicada.
Para outro tipo de edições - livros - que pressupõem ler e guardar, a capa dura é a ideal, tendo em conta a melhor preservação da obra ao longo do tempo. Colecções da ASA, com o jornal Público, como Jonathan ou Valérian, por exemplo, tinham justificado essa protecção extra, a exemplo do que está a acontecer com I.R.$. Obviamente, a capa dura tem um custo acrescido. De Valérian para I.R,$ a diferença são 3€ - não exclusivamente devido à capa, mas também ao tamanho maior desta última...
Outras edições nacionais (mais ou menos) recentes justificavam capa dura, como a compilação dos três primeiros volumes de The Walking Dead ou Do Inferno (ambos da Devir). Justificavam-na pelo elevado número de páginas, que faz com que facilmente a capa mole comece a 'enrolar'. A diferença de preço, em edições já de si caras, não seria significativa e as edições ganhariam bastante. 
Um caso oposto - numa editora, a Polvo, onde a capa dura tem sido uma raridade - é Nem todos os cactos têm picos, de Mosi, onde as 'curtas' 24 páginas não justificavam aquela opção; mais a mais não havendo sequer uma página de título. A colecção Tex Romance Gráfico ou obras como Cachalote, Tungsténio ou Talco de Vidro, com outra dimensão física, teriam sido mais indicadas para a capa dura, sempre uma melhor protecção, embora a 'capa mole com badanas' não seja de todo descartável pois permite outras opções, como a inclusão de resumo, fichas, biografias...
Pormenor não displicente: uma capa dura, implica pelo menos mais dois ou três milímetros de espessura nos livros; em tempos de 'vacas gordas editoriais', elas rapidamente fazem diferença em termos de... ocupação de prateleira!

  

Grande ou pequeno?
Agora é a vez do formato.
Acredito que, para todas as obras, há um limite para o aumento ou redução de formato em relação aquele para o qual a obra foi inicialmente pensada - e desenhada. Um dos principais factores, é o tamanho dos originais, que - normalmente - foram feitos a pensar no tamanho de publicação. Demasiada ampliação ou redução, irá sempre prejudicar a fruição do desenho.
Outro factor fundamental, é o tipo de grafismo da obra. Quanto mais complexo e carregado for, menos admite reduções. A louca do Sacré-Coeur, por exemplo, publicada na primeira colecção Novelas Gráficas, tem páginas de difícil leitura pela redução a que foi submetida.
Em oposição, obras com o desenho mais limpo e despojado, ganham menos - se não perderem... - quando este é ampliado. Temo que isso vá acontecer com Martin Mystère e Mister No, na actual colecção Bonelli.
Pelo contrário, obras como Thor ou Punho de Ferro, que a G. Floy publicou no seu formato deluxe, beneficiam com esse aumento - cerca de 15 % - que permite uma melhor apreciação das artes.
Pelas mesmas razões, a redução operada na colecção Torpedo 1936, em minha opinião não prejudicou a sua fruição e, desse modo, permitiu um preço final mais agradável.
Outro critério a ter em causa é a dimensão física do objecto livro. A partir de determinados limites (dimensão, peso), deixa(ria) de ser 'humanamente' possível proceder à sua leitura. Imaginemos Prince Valiant ou Little Nemo in Slumberland publicados no tamanho original das pranchas, para compreender melhor esta questão...

   

Tradução/legendagem
A alteração do formato inicial da obra, pressupõe a alteração dos balões de texto. Mas não a redução/aumento proporcional do tamanho de letra.
Por exemplo, quando é feita uma significativa redução de formato - pensemos nos formatinhos brasileiros Marvel, DC ou Bonelli - o tradutor é obrigado a 'cortar no texto', para que ele possa caber e ser legível em balões mais pequenos. Se é possível manter o essencial da obra original, obriga a um trabalho suplementar de adaptação, que existe sempre da parte do tradutor.
Em sentido contrário, o aumento de formato obriga o legendador a equilibrar o texto nos balões, agora demasiado grandes. Este problema - por outras razões, sem alterações de formatos! - é recorrente nas edições de manga, onde o texto original em caracteres orientais de leitura de cima para baixo, é substituído por texto em caracteres ocidentais, com leitura da esquerda para a direita. Uma rápida vista de olhos às edições da Devir de Tokyo Ghoul, One-Punch Man ou Assassination Classroom, demonstrará facilmente isto.


  

Extras
Hoje em dia, qualquer edição que se preze traz extras. Outras capas, capas variantes, capas 'encomendadas' a outros artistas, entrevistas, notas do argumentista, esboços do desenhador... Se, consoante as edições, se aceitam bem (até) uma dúzia (mais coisa menos coisa) de páginas de extras, há outras que ultrapassam largamente o exagero, como aconteceu com Crónicas da Comic Con, que conta 116 páginas de extras para apenas 76 de BD! Mas outros casos há em que 15, 20 ou mais páginas de extras representam um acréscimo significativo de preço final.
Se há um núcleo de leitores que aprecia e pede estes extras, convém que os editores não esqueçam que o leitor médio dispensa bem os acrescentos, em especial quando eles significam um preço mais elevado. Completar um caderno com extras, é uma coisa, inserir cadernos a mais, para os publicar, é outra.


  

Notas finais
No limite, em muitos casos - a maioria? - é a carteira que determina o que o leitor prefere. Poupar 2 €, 3€, 4€ por edição- o que significa poupar o suficiente para comprar mais uma ao fim de três ou quatro livros - para muitos, é o ideal. Capa mole? Papel de menor qualidade? Menor formato? Paciência. Fica mais barato.
Outros, preferem a qualidade editorial que permite - para eles - maior prazer na leitura. E, não o ignoro - eu próprio o aprecio - o objecto livro em si, com peso, textura, cheiro... - é um factor igualmente importante. Por isso, tantos - ainda? - resistem à leitura digital, ou reservam-na para obras que consideram 'menores'. Nestes casos, capa dura, grande formato, extras... fazem as delícias desses leitores.
(E se alguns mercados permitem a mesma obra em diferentes edições, de características e preços díspares, esse não é o caso de Portugal.)
Cabe aos editores - até para continuarem a sê-lo! - encontrar o equilíbrio entre todos os componentes citados, tentando agradar ao maior número possível -de gregos e troianos, atenienses e espartanos - mesmo sabendo que haverá sempre quem reclame, da escassez ou da abundância, das edições de luxo ou das mais populares, da capa mole ou dura, da distribuição em banca ou em livraria, das colecções extensas ou curtas, dos integrais ou das séries incompletas...
Bem, boas leituras!

(clicar nas imagens, meramente ilustrativas,  para as aproveitar em toda a sua extensão)

6 comentários:

  1. As duas realidades estão ligadas: se existirem livros mais acessíveis, no futuro teremos mais leitores dispostos a pagar mais por livros melhores.

    Num mercado saudável tem de ser assim. Estranho era quando era tudo capa dura.

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  2. Capa mole é mais barato e cabem mais nas prateleiras.
    Capa dura é mais durável mas mais caro e ocupam bem mais espaço.

    O melhor de dois mundos seria volumes grandes (duplos/triplos/omnibus) com capa dura :-)

    Mas, só para contrariar o que digo, tenho alguns Omnibus (The Planetary Omnibus por exemplo) que são realtivamente baratos e ocupam relativamente pouco espaço, mas que são dificeis de manusear sobretudo devido ao seu peso :-)

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  3. Concordo com tudo com excepção da opinião relativa ao formato deluxe da G-Floy. Quer no caso da Marvel como nos livros do Millarworld aquele formato estraga a imagem final, vê-se claramente que houve ali um "esticamento" da arte original feito um bocado contra natura.

    Nos dois casos eram séries que aguardava com grande expectativa e que estava disposto a "engolir" a minha "alergia" aos hardcovers por elas mas assim que vi aquele formato "deluxe-só-porque-tem-mais-uns-milimetros decidi esperar que os compradores deste formato comecem a vender os seus originais americanos no OLX por tuta e meia :)

    Felizmente que resistiram à tentação de mudar de formatos a meio das colecções as séries que iniciaram em 2014 (saga / chew).

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  4. Peço desculpa pelo anonimato, mas não costumo comentar.

    Só para deixar uma nota relativa aos livros de capa mole com badanas.
    Como a badana é parcial em relação à capa, esta não encosta com a primeira página do livro, deixando um espaço vazio de cerca de 1mm por onde entra pó e outras partículas e que estragam a capa e a primeira página do livro. (no final do livro acontece o mesmo)

    Alerto para este tipo de formato; coloquem este tipo de livros em estantes com portas de vidro ou em qualquer lugar (fechado) onde o pó não chegue.

    Obrigado, cumprimentos,
    António

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  5. Para mim mais importante que o tamanho é o papel em comics (nada de jornal ou similares isso era no século passado é só no formatinho) o FA está mais que bom,quer seja hc ou sc,se querem formatos maiores usem isso numa 2a tiragem ou omenibuses.
    Em manga/FB já acho as edições nacionais das diversas editoras muito semelhantes as Usa ou França.

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  6. E nao haver "corte" de comics/paginas como aconteceu Batman:Silencio e X-Men.Woverine,Hulk na Devir.

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