Um outro Tex
A comemorar 70 nos de publicação ininterrupta este ano, Tex, ao longo deste tempo evoluiu de forma moderada e serena. Nos últimos anos, no entanto, surgiu ‘um
outro Tex’, aquele para que este volume abre a porta.
Duro, inflexível, justiceiro, implacável, são alguns dos adjectivos que o ranger assumiu como imagem de marca ao longo dos muitos anos que leva em páginas desenhadas. Escrito durante décadas apenas pelos Bonelli, pai e filho, aberto depois, progressivamente a outros argumentistas, foi - é - controlado de perto pelos editores, para garantir sempre aos leitores o ‘seu’ imutável herói.
Duro, inflexível, justiceiro, implacável, são alguns dos adjectivos que o ranger assumiu como imagem de marca ao longo dos muitos anos que leva em páginas desenhadas. Escrito durante décadas apenas pelos Bonelli, pai e filho, aberto depois, progressivamente a outros argumentistas, foi - é - controlado de perto pelos editores, para garantir sempre aos leitores o ‘seu’ imutável herói.
Depois dos Texone, os Tex Gigante com histórias escritas à medida dos desenhadores convidados, em tempos recentes, a exploração da cor, das histórias curtas, do formato
álbum franco-belga, sem o descaracterizar (completamente), possibilitou que as abordagens se tornassem (mais) livres e originais. Para o bem e para o mal (de Tex).
A Lenda de Tex, volume inaugural da colecção que a Levoir e o Público dedicam a partir de hoje e durante
dez semanas às personagens Bonelli, compila quatro dessas histórias recentes, curtas de ‘apenas’ 32 páginas - algo invulgar num percurso onde as narrativas contam geralmente uma a três
centenas de pranchas.
Em O último da lista, surge um invulgar Tex, quase no papel de detective, numa pequena localidade perdida, à
procura de um antigo assaltante, entretanto redimido, para o proteger de uma vingança, numa história em que o lado humano caminha lado a lado com a sua faceta justiceira e a aplicação do dito ‘atira
primeiro, pergunta depois’.
Quanto à segunda narrativa, O Mescalero sem Rosto, é quase um remake, condensado, de uma das mais apreciadas histórias de Tex, El Muerto, e centra-se num homem que deixa um rasto de sangue no seu caminho para atrair Tex em nome de uma vingança.
Duelo na Missão, apresenta-se como a mais original das quatro, embora dificilmente o futuro de Tex possa passar por
aqui. A diferença começa no desenho a um tempo realista e de base fotográfica e contraditoriamente impressionista, servido por uma paleta de cores nada habitual em Tex, em que predominam os ocres e os
tijolos. E acaba na verdadeira protagonista deste conto, Patricia Graves, mulher de um militar de alta patente e raptada por um comanche; vítima do síndroma de Estocolmo ou mulher nascida antes do seu tempo,
terá uma surpreendente palavra a dizer quando o destino lhe proporcionar a oportunidade de escolher.
Finalmente, em Chupa-cabras, o México é o cenário para uma história de tom fantástico mas
também trágico, em que Tex e Tigre ajudam um cientista que procura os seres lendários que sugam o sangue de animais e humanos. Uma componente fantástica, geralmente afastada das histórias
do ranger mas longe de ser caso único em 70 anos de tiros e cavalgadas.
Graficamente, este tipo de histórias recentes teve uma vantagem, dotar Tex de um colorido próprio e personalizado, cada vez mais distante do colorido mecanizado que a Bonelli
exibiu durante anos e que utilizou para recolorir a série normal de histórias do ranger. Ranger que, apesar de saltar de traço em traço consoante o desenhador que se ocupa dele na altura, e de tema
em tema de acordo com quem o escreve, tem uma padrão e características que o tornam imediatamente reconhecível, mesmo quando é dada maior liberdade aos criadores do momento.
Apesar de díspares, estas quatro histórias são (mais) quatro contributos para a lenda de um herói de papel e, pela sua diversidade gráfica, narrativa
e, apesar de tudo, temática, um bom cartão de apresentação para quem ainda não conhece Willer. Tex Willer.
Uma palavra ainda, para a belíssima aguarela de Stefano Biglia, criada especialmente para servir de capa a esta edição portuguesa, o que
a valoriza e a torna (mais) apetecível para os muitos apreciadores de Tex espalhados pelo mundo.
Tex: A Lenda de Tex
Inclui: O último da lista; O Mescalero sem Rosto; Duelo na Missão; Chupa-cabras
Manfredi, Burattini, Rauch e Ruju (argumento)
Biglia, Rubini, Bocci e Tisselli (desenho)
Stefano Biglia (capa)
Levoir/Público
Portugal, 12 de Abril de 2018
190 x 260 mm, 136 p., cor, capa dura
10,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
Estive a ler este volume ontem.... creio que, para volume introdutório, talvez devesse haver alguma(s) história de como Tex encontrou Carson, ou Tigre, ou se tornou "chefe dos navajos" como várias vezes foi refernciado nestas 4 histórias.
ResponderEliminarA minha introdução a Tex, foi através de Tex Gigante que começou a ser distribuido à pouco tempo pela Polvo, pelo que me falta esses encontros. Ou seja, não faço ideia de muito do "background" do Ranger...
Lido o livro isoladamente, é uma boa cowboiada com toda a carga positiva e negativa que a palavra arrasta :-)
Essas histórias, são clássicas, hoje algo datadas, menos apetecíveis para leitores ocasionais.
EliminarQuanto a Tex é, sem dúvida, uma 'cowboiada', de qualidade média muito interessante, com algumas histórias muito boas, como é o caso das que a Polvo tem editado.
Boas leituras!
Acabei de o ler ontem e gostei muito, quem seleccionou as 4 histórias, escolheu-as bem; Para dar a conhecer o Ranger, como bom cartão de apresentação para a restante colecção e como aperitivo para o volume do Tex a preto e branco e com história longa que ai vêm, mais representativo do verdadeiro estilo que o tem caracterizado ao longo destes 70 anos.
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