26/04/2018

Dylan Dog: A Saga de Johnny Freak


Surpresa tripla








Este volume de Dylan Dog será uma surpresa. Boa. Muito boa.
Para todos os leitores, sob uma de três perspectivas.

Em primeiro lugar, para quem descobriu e só conhece o investigador do pesadelo de Mater Morbi, excelente obra publicada no ano passado na colecção Novela Gráfica. Porque esse título - exemplificativo dos caminhos díspares que Dylan pode trilhar - é em (praticamente) tudo diferente - no grafismo, no tom, no tema, na abordagem - deste. Por isso, para eles, este livro será uma surpresa.
Para quem já conhece Dylan Dog doutras edições, A Saga de Johnny Freak também será uma surpresa, porque o tom genérico da obra - ao contrário do habitual - é aqui especialmente sério, realista e humano - ao que não será estranho a base real que serviu de inspiração à primeira das duas histórias deste volume. Por isso, para eles, este livro será uma surpresa.
Finalmente, para quem desconhece em absoluto o herói de papel que assumiu as feições do actor britânico Rupert Everett, a primeira história deste volume, recorrentemente considerada uma das melhores da série, será uma belíssima surpresa, pela sua qualidade. Graficamente - mais uma vez nesta colecção - pelo trabalho superlativo de Andrea Venturi, bem secundado depois, na diversidade obrigatória do segundo conto, por Giampiero Casertano.

Mas falemos então um pouco ‘deste’ Dylan Dog - o ‘verdadeiro’ e original. Detective privado londrino, ex-alcoólico, auxiliado por um empregado/auxiliar com vocação de humorista e a cara de Groucho Marx, colaborador intermitente da Scotland Yard, Dylan Dog, também conquistador inveterado, caminha entre o terror e o fantástico, investigando casos que fogem ao cânone normal.
O tom está balizado pelo nonsense, o terror, o inesperado e o surpreendente e - no caso presente - por um pendor muito humano que choca e faz o leitor questionar-se sobre o género humano, numa história em que se cruzam amor paternal, tráfico de órgãos e expressividade artística.
E se a primeira história, Johnny Freak, é de uma qualidade cima da média - seja qual for o contexto criativo em que seja encarada - a segunda, embora mais previsível, revela-se uma digna sequela e este conjunto - escolhido a dedo para esta colecção, por quem conhece bem Dylan Dog - é mais um excelente exemplo do melhor da banda desenhada Bonelli.

Dylan Dog: A Saga de Johnny Freak
Colecção Bonelli #3

Johnny Freak
Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi (argument)
Andrea Venturi (desenho)

O Coração de Johnny Freak
Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi (argument)
Giampiero Casertano (desenho)

Levoir/Público
Portugal, 26 de Abril de 2017
190 x 260 mm, 200 p., pb, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Este já cá canta. Excelente.

    Primeiro, muito boa escolha da história. Mais uma vez, numa série longa em que muitas histórias são dispensáveis, é um serviço importante prestado pela Levoir filtrar/destacar estas histórias magistrais (juntamente com Mater Morbi) que poderiam ficar perdidas no meio da série longa por não apelar na sua totalidade á maioria das pessoas (como é o meu caso).

    Segundo, uma edição muito boa, ao contrário de Mater Morbi (apesar de muito compensado pela qualidade da hitória) que com um formato (proporção) desadequado obrigou a reduzir demasiado a arte deixando/desperdiçando umas margens enormes no topo e em baixo. Aqui com apenas um pouco mais de tamanho horizontal, a página tem a mesma proporção horizontal/vertical do orginal e não foi necessário reduzir e desperdiçar espaço. Este bom critério agora da Levoir, só vem provar o quanto foi criminoso para a obra original o critério usado no Mater Morbi. Afinal era possível fazer bem melhor. Ao menos que sirva de lição para não voltarem a fazer a mesma asneira.

    Muitos parabens por esta edição. Recomendo vivamente, mesmo quem não petenda comprar mais nenhum desta coleção.

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