Surpresa tripla
Este volume de Dylan Dog será uma
surpresa. Boa. Muito boa.
Para todos os leitores, sob uma de três
perspectivas.
Em primeiro lugar, para quem descobriu
e só conhece o investigador do pesadelo de Mater
Morbi, excelente obra publicada no ano passado na colecção
Novela Gráfica. Porque esse título - exemplificativo dos caminhos
díspares que Dylan pode trilhar - é em (praticamente) tudo
diferente - no grafismo, no tom, no tema, na abordagem - deste. Por
isso, para eles, este livro será uma surpresa.
Para quem já conhece Dylan Dog doutras
edições, A Saga de Johnny Freak também será uma surpresa,
porque o tom genérico da obra - ao contrário do habitual - é aqui
especialmente sério, realista e humano - ao que não será estranho
a base real que serviu de inspiração à primeira das duas histórias
deste volume. Por isso, para eles, este livro será uma surpresa.
Finalmente, para quem desconhece em
absoluto o herói de papel que assumiu as feições do actor
britânico Rupert Everett, a primeira história deste volume,
recorrentemente considerada uma das melhores da série, será uma
belíssima surpresa, pela sua qualidade. Graficamente - mais uma vez
nesta colecção - pelo trabalho superlativo de Andrea Venturi, bem
secundado depois, na diversidade obrigatória do segundo conto, por
Giampiero Casertano.
Mas falemos então um pouco ‘deste’
Dylan Dog - o ‘verdadeiro’ e original. Detective privado londrino,
ex-alcoólico, auxiliado por um empregado/auxiliar com vocação de
humorista e a cara de Groucho Marx, colaborador intermitente da
Scotland Yard, Dylan Dog, também conquistador inveterado, caminha
entre o terror e o fantástico, investigando casos que fogem ao
cânone normal.
O tom está balizado pelo nonsense, o
terror, o inesperado e o surpreendente e - no caso presente - por um
pendor muito humano que choca e faz o leitor questionar-se sobre o
género humano, numa história em que se cruzam amor paternal,
tráfico de órgãos e expressividade artística.
E se a primeira história, Johnny
Freak, é de uma qualidade cima da média - seja qual for o
contexto criativo em que seja encarada - a segunda, embora mais
previsível, revela-se uma digna sequela e este conjunto - escolhido
a dedo para esta colecção, por quem conhece bem Dylan Dog - é mais
um excelente exemplo do melhor da banda desenhada Bonelli.
Dylan Dog: A
Saga de Johnny Freak
Colecção Bonelli #3
Johnny Freak
Mauro Marcheselli e Tiziano
Sclavi (argument)
Andrea Venturi (desenho)
O Coração de Johnny Freak
Mauro Marcheselli e Tiziano
Sclavi (argument)
Giampiero Casertano (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 26 de Abril de 2017
190
x 260 mm, 200 p., pb, capa dura
10,90
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
Este já cá canta. Excelente.
ResponderEliminarPrimeiro, muito boa escolha da história. Mais uma vez, numa série longa em que muitas histórias são dispensáveis, é um serviço importante prestado pela Levoir filtrar/destacar estas histórias magistrais (juntamente com Mater Morbi) que poderiam ficar perdidas no meio da série longa por não apelar na sua totalidade á maioria das pessoas (como é o meu caso).
Segundo, uma edição muito boa, ao contrário de Mater Morbi (apesar de muito compensado pela qualidade da hitória) que com um formato (proporção) desadequado obrigou a reduzir demasiado a arte deixando/desperdiçando umas margens enormes no topo e em baixo. Aqui com apenas um pouco mais de tamanho horizontal, a página tem a mesma proporção horizontal/vertical do orginal e não foi necessário reduzir e desperdiçar espaço. Este bom critério agora da Levoir, só vem provar o quanto foi criminoso para a obra original o critério usado no Mater Morbi. Afinal era possível fazer bem melhor. Ao menos que sirva de lição para não voltarem a fazer a mesma asneira.
Muitos parabens por esta edição. Recomendo vivamente, mesmo quem não petenda comprar mais nenhum desta coleção.