Descobri há muitos anos Paco Roca em Rugas,
emocionei-me com A
(sua) Casa,
percebi o seu amor pelos quadradinhos em O
Inverno do Desenhador e senti a sua
força narrativa no magnífico e poderoso Os
Trilhos do Acaso.
Agora, com este Memórias
de um homem em pijama
- em que mais uma vez tive o privilégio de o traduzir - descobri
outro faceta de um dos autores que me habituei a seguir: o olhar
crítico e mordaz sobre si próprio, sobre os seus amigos e sobre a
sociedade em geral.
Memórias de um homem em pijama nasceu há cerca de uma década de um desafio do jornal Las Provincias que entregou ao autor valenciano um espaço semanal. A opção - como ele próprio conta no prólogo desta edição, foi retratar-se e ao seu mundo. O título, explicado na primeira história, vem da concretização de um sonho: viver em casa de pijama (quase) permanentemente, o que a sua profissão lhe possibilitou.
Memórias de um homem em pijama nasceu há cerca de uma década de um desafio do jornal Las Provincias que entregou ao autor valenciano um espaço semanal. A opção - como ele próprio conta no prólogo desta edição, foi retratar-se e ao seu mundo. O título, explicado na primeira história, vem da concretização de um sonho: viver em casa de pijama (quase) permanentemente, o que a sua profissão lhe possibilitou.
Na
prática, é um confinado - mesmo que voluntário - antes do tempo -
como ele também refere no posfácio que escreveu especialmente para
esta edição da Levoir e de alguma forma foi (também) isso que
(oportunamente) originou esta edição.
A
estrutura da obra é simples e imutável: são histórias
auto-conclusivas, sem título, com 12 vinhetas verticais, todas de igual dimensão,
originalmente publicadas em duas tiras com 3 vinhetas em duas páginas. Na versão da Levoir, a estrutura passou a ter 3 tiras de 3 vinhetas por página, o que torna a leitura menos intuitiva, uma vez que desapareceu a quebra lógica entre as narrativas.
Se o
tom geral é divertido ou, mais do que isso, satírico e mordaz, se
(nos) vamos reconhecer em muitas situações - saídas nocturnas, vida
a dois, adolescência tardia, solteiros vs. casados, pais/filhos -
filhos/pais, guerrinhas parvas quotidianas (reais ou não, assumidas
ou não) - nesta desconstrução implacável da vida social dos
trintões solteiros, o principal mérito de Roca é a forma como se
despe e despoja perante o leitor. Sem pejo, com alguns excessos (?),
revela as suas idiossincrasias, as suas obsessões, os seus medos e
receios, a falta de qualificações para uma vida em sociedade,
destruindo aquela aura que certamente os seus leitores foram erigindo
face às temáticas sérias e complexas que foi abordando ao longo da
sua carreira.
Memórias
de um homem em pijama
Paco
Roca
Levoir
Portugal,
6 Junho de 2020
220 x 270 mm, 96 p., cor, capa dura
12,90
€
Não encontrei nos lugares habituais. Não foi distribuído?
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTambém não encontrei... e procurei em vários sítios.
ResponderEliminarFoi distribuido. No entanto, o Público distribui sempre por bancas que vendam regularmente. Se uma banca vende muita bd, normalmente tem mais hipoteses de receber. Ou então pede-se por encomenda.
ResponderEliminarA Levoir diz que o Paco Roca aprovou o novo formato, mas eu acho que é um assassinato ao livro, por razões comerciais. Imaginam o que é as "estórias" começaram a meio de uma página, acabarem a meio de outra, etc, sem título nem separador? Ainda bem que tenho a edição espanhola, e é essa que vou continuar a comprar para oferecer.
ResponderEliminarTeria sido preferível optar por uma montagem de 4x3 ou 3x4 vinhetas ou, preferencialmente, assinalar o final de cada 'história' com a palavra 'fim' ou um qualquer elemento gráfico que situasse os leitores.
EliminarBoas leituras!
@RC Precisamente,. Não se percebe a opção da Levoir em alterar o sentido original de leitura de 6 + 6 vinhetas quebrando as pranchas em 9. Parece tudo confuso e sem nexo. Só fico perplexo como o autor deu aprovação a isto...
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