O fim da viagem, o fim do sonho
Há livros cujo interesse vai mais além da obra em si, pelo significado extrínseco que possuem.
A
primeira - e Manuel Caldas não me perdoaria se invertesse a ordem…
- é porque este volume assinala o final da fase desenhada por Harold
Foster, mais de 40 anos ter
criado uma das mais
monumentais e vibrantes
sagas dos quadradinhos. A excepção, seriam mais uma meia dúzia de
pranchas, também
aqui reproduzidas [E
alguns retoques noutras.
examinadas ao pormenor, tal como as da fase final deste período,
nalguns dos
textos de análise e evocação incluídos neste livro.]
Foster ainda iria escrever e planificar Prince Valiant para o traço de John Cullen Murphy, durante cerca de uma década - e Caldas irá publicar também essa fase, de seguida.
Este volume final, se é evidente que já revela a idade - e o cansaço…? - de Foster - 78 anos! - mostra também como ele ao longo dos anos colocou alta a fasquia da qualidade, não sendo necessário procurar muito para ainda encontrar vinhetas, tiras, momentos muito bons nestes últimos relatos.
Estes,
narrativamente, espelham também o que se passava com o autor. A
passagem de testemunho de Valente, enquanto protagonista, para Arn,
principalmente, mas também para as suas filhas gémeas e para
diversas personagens como passagem mais ou menos rápida pela saga
multiplica-se, funcionando o episódio quase final com Morgana Le
Fay, de certa forma como o fechar de um imenso e fabuloso ciclo, pelo
regresso - citado e referido - a um local e a um momento já muito
distantes no passado.
Mas, apesar do que fica escrito, são muitos os momentos de acção, de tensão, de astúcia, de surpresa e de refinado humor ao longo da centena de páginas deste tomo, que evocam sem dúvida a grandeza de Príncipe Valente.
A segunda razão, tem a ver directamente com Manuel Caldas e com o seu sonho - agora concretizado, cerca de 15 anos depois - de nos legar a obra de Foster tal qual ele a criou: pureza de traço, riqueza de contrastes, grandiosidade das vinhetas de grande dimensão - espelho da grandiosidade da corte do Rei Artur e dos (feitos) dos seus cavaleiros, dos tempos conturbados retratados - expressividade das feições, rigor anatómico…
Conheço - um pouco; imagino muito do resto - as dificuldades porque passou para aqui chegar, os momentos de desânimo, as alturas em que lhe apeteceu desistir, mas sei também que era este o tributo que queria fazer a Foster e àquela que Caldas considera a melhor banda desenhada de sempre.
Imagino que o momento seja simultaneamente de alívio e de sensação do dever (e da palavra) cumprido(s), mas também de desânimo - pela separação de uma obra e de uma tarefa que o deve ter acompanhado quase diariamente ao longo de tantos anos - e até de vazio - porque o sonho foi concretizado…
Espero que outros sonhos possam nascer - e ser consumados também! Nós leitores das obras restauradas ou (tão só) seleccionadas pelo saber e o conhecimento de Manuel Caldas, agradecemos.
Termino com uma nota pessoal, quase envergonhado, em comparação com o que ficou escrito atrás: no
número - #47, da chamada V série - em que comecei a ler - e a
coleccionar - o Mundo de
Aventuras, para além de uma
investigação de Rip Kirby, era publicada também uma história do
Príncipe Valente. Exactamente aquela em que ele liberta
(?) Arn do castelo da feiticeira
Morgana Le Fay que (quase) encerra este volume.
Relê-la, agora, tornou (também por isso) este livro especial e serviu para ver como o texto, tantas vezes relido na adolescência, surgia espontaneamente na minha memória, enquanto os meus olhos percorriam as vinhetas de Foster, mesmo que ele ecoasse em português e a leitura fosse em espanhol.
Príncipe Valiente: 1969-1970
XVII - El final del Viaje
Harold R. Foster
La Imprenta
Uruguai, Setembro de 2020
260 x 340 mm, 118 p., pb, capa mole
25,00 €
Para mais informações e encomendas, seguir esta ligação.
(imagens disponibilizadas por Manuel Caldas; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Sensação do dever e da palavra cumpridos só se for para com os leitores de língua espanhola, pois para com os leitores portugueses por certo que não.
ResponderEliminarEm português só foram publicados os primeiros álbuns, que estão há muito esgotados nas livrarias.
Estou de acordo com o F. Pinto, é pena que não fosse continuada a publicação, começada à anos atrás. Mas tenho esperança, que um dia destes o Manuel Caldas, publique em PORTUGUÊS, o que falta do Príncipe Valente, bem como, o Tarzan e o Cisco Kid.
ResponderEliminarA não edição do Príncipe Valente em Portugal não é culpa do Manuel Caldas; deve-se aos problemas que houve com o sócio dele, cujos pormenores só eles podem/devem explicar.
EliminarQuanto às outras séries, se é difícil viabilizá-las no mercado espanhol, bem maior do que o nosso, cá seria inviável publicá-las nos moldes que o Manuel caldas faz.
Boas leituras!
O trabalho de restauro pode ser reaproveitado e penso que o Manuel Caldas ainda não terminou a obra toda.
ResponderEliminarCom tempo poderá sair uma colecção de edição de capa dura, é questão da editora certa pegar nisto.