13/09/2021

Comer Beber

Outra vez...


Comer Beber está de regresso às livrarias nacionais. Uma notícia duplamente boa, no facto em si - porque é sempre bom que obras esgotadas mereçam reedição, mais a mais quando têm autoria portuguesa - e na forma (do livro), que merece já a seguir uma série de considerações, através da comparação entre as duas edições, separadas no tempo por quase quatro anos.

Comer Beber nasceu de um desafio de Carlos Vaz Marques, editor da Granta, a Filipe Melo e Juan Cavia: criar duas bandas desenhadas subordinadas aquela temática, que seria também a de um mais um número da revista, salvo erro no Verão daquele ano.

Na altura, o tempo - mais precisamente, a falta dele - só permitiu à dupla criar uma das histórias - Sleepwalk, no caso - tendo a segunda, Majowski, surgido mais tarde, para ‘compor’ o livro.

Livro que, na época, por opção autoral - de Juan Cavia, apontam as más línguas! - saiu com tiragem limitada a 1500 exemplares, numerados, num ‘minúsculo’ formato de ‘bolso’, que não permitia uma conveniente apreciação da arte - nem sequer era reflectido no preço de venda.

Reconhecido o erro na altura, corrigido na edição francesa da Paquet, o novo formato surge agora reflectido também nesta nova edição nacional, fruto da mudança de Melo e Cavia da Tinta da China para a Companhia das Letras, regressando este título, num formato mais ‘normalizado’ e consentâneo com a obra.

Por isso, a primeira apreciação é claramente positiva. O livro passou dos reduzidos 140 x 195 mm originais, para uns ‘confortáveis’ 220 x 270 mm. Pode não parecer, mas é um aumento de mais de 200 %. E que se nota claramente na leitura.

Menos positivo, em termos do meu gosto pessoal, foi a opção pelo papel branco - em vez do papel bege com texturas da edição original, como se pode ver aqui - e a passagem do brilhante para o mate, apesar de o novo papel ter dado uma maior consistência ao livro.

Considero, também, que esta nova edição poderia ter servido para adicionar novos extras - não que os originais fossem poucos ou pouco interessantes, bem pelo contrário - como mais um ponto a favor dela. Não tendo acontecido, as diferenças são parcas e até deixam a perder a versão mais recente: o prefácio de Carlos Vaz Marques desapareceu, tendo sido adicionada uma mini-biografia de cada um dos criadores. Nestas, exigia-se mais do que um simples ‘...e a dupla já tem vários livros publicados em Portugal e no estrangeiro’. Teria sido de bom tom indicar quais os livros e, até, aproveitar para anunciar as próximas reedições que a própria Companhia das Letras vai fazer, depois de já ter publicado este Comer Beber e também Balada para Sophie.

Ultrapassada as questões formais, uma breve referência ao conteúdo que oportunamente analisei aqui. Se Majowski é uma narrativa (com base num acontecimento verídico) demasiado presa a um final que soa a (quase) ‘obrigatório’ depois de uma boa construção da relação de amor(obrigatório)/ódio (real) do protagonista à crescente ameaça nazi, já Sleepwalk é uma pequena pérola de narração, muito bem conseguida no ritmo exasperadamente lento e no remate final, inesperado, dramático e trágico.


Comer Beber
Filipe Melo (argumento)
Juan Cavia (cor)
Companhia das Letras
Portugal, Setembro de 2021
220 x 270 x 10 mm, 72 p., cor, capa dura
18,80 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Tenho o a primeira edição e penso que o aumento do tamanho pode ser um ponto muito positivo para que a arte do Juan Cavia seja melhor apreciada. Mas mesmo assim são duas histórias interessantes que merecem ser lidas

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