Rubine Integrale #1

Tiro no escuro

Escolhido sem grandes referências - para além da mais evidente, o nome de François Walthéry na capa, que foi suficiente para me convencer - este primeiro integral de Rubine revelou-se uma interessante proposta, embora não pelos motivos que à partida seriam mais expectáveis.

Rubine é uma série dos anos 1980. O seu parto foi atribulado, tendo avançado e recuado por várias vezes, em diversos suportes, antes de chegar finalmente ao papel, aos quadradinhos, na revista hello Bédé (sucessora breve da Tintin) conforme se pode ler no dossier inicial deste volume.

Dossier que, como é hábito nas edições da Lombard, é curto - apenas oito páginas… - facto compensado (parcialmente…) pela assertividade que ostenta, conseguindo concentrar naquele curto espaço uma série de informações e curiosidades válidas sobre os autores e a obra. Sabe a pouco, apesar de tudo, quando comparado com as substanciais introduções dos integrais da Dupuis...

A protagonista, que empresta o nome à série, é uma jovem ruiva, com belas curvas, que é detective da polícia de Chicago. Impulsiva, teimosa, explosiva e com dedo fácil no gatilho, tem tendência para destruir recorrentemente a propriedade policial… e também a civil!

No contexto aflorado na breve introdução no início, evidentemente seria no traço que primeiramente apostaria, mas a verdade é que seria uma aposta perdida. Na verdade, desagradou-me a opção por apenas três tiras por pranchas, ao contrário das quatro que é habitual encontrar em muita banda desenhada franco-belga da época.

Se este tipo de planificação, para além de simplificar a vida aos desenhadores, contribui para acelerar o ritmo narrativo, em especial nas muitas cenas de acção patentes nos relatos, ela também reproduz em tamanho excessivo um traço pouco pormenorizado ao nível da figura humana, que sem dúvida ganharia com uma maior redução, que o tornasse mais fino e delicado. Como se comprova nas páginas em que Walthéry optou pelas quatro tiras. De uma forma ou de outra, isso não ofusca as principais qualidades do traço: expressividade e dinamismo, a par de uma boa gestão da figura humana e do movimento dos corpos.

Características que se devem a Whaltéry, responsável pelo desenho das personagens, enquanto que o grafismo de cenários está entregue a Dragan de Lazare que, no tratamento dos fundos urbanos revela um estilo mais realista, que se coaduna com o tom dos relatos, contrastando - aqui e ali de forma menos satisfatória - com o traço mais caricatural dos intervenientes.

Posto isto, importa agora escrever que foi ao nível das histórias que Rubine se revelou uma boa escolha. Os argumentos revelaram-se mais consistentes e intrincados do que eu estava à espera, dado o contexto de publicação da série, com este volume a incluir três casos bastante interessantes, na forma como estão apresentados, desenvolvidos – e resolvidos. As ameaças de morte ao irmão de Rubine, devido à sua actividade - algo involuntária - como pirata informático, em Les mémoires troubles, a perseguição a um assassino contratado, em Fenêtre de Rue, e a protecção de uma testemunha de um assassinato em Le second témoin, se é verdade que não trazem nada de novo ao género policial, estão contados de forma coerente e com uma grande intensidade, com uma ou outra variação interessante, e, pelas sucessivas mudanças de rumo, acabam por prender o leitor e levá-lo a querer conhecer o final.

Para quem espera encontrar aqui uma nova Natacha, é verdade que se vai deparar igualmente com uma protagonista feminina, sensual e bastante extrovertida, mas o tom global da série é mais adulto e violento, com a componente humorística bastante suavizada, não sendo com certeza alheios a esta realidade os mais de doze anos de diferença que mediaram entre a criação das duas bandas desenhadas.

Rubine Intégrale #1
Inclui os álbuns #1-#3: Les mémoires troubles, Fenêtre de Rue e Le second témoin
Mythic (argumento)
François Walthéry e Dragan de Lazare (desenho)
Le Lombard
França, Outubro de 2014
222 x 295 mm, 156 p., cor, capa dura
ISBN: 9782803634729
17,95€

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