15/01/2022

Vingadores Selvagens #1 e #2

De boas ideias…

De boas intenções está o inferno cheio, diz a sabedoria popular- mesmo que isto soe a conceitos antagónicos… - e adaptando à situação presente, bem posso dizer que ‘de boas ideias está o Universo Marvel cheio’ mas, pena é que poucas vezes se transformem em boas histórias.

Já abordei aqui a questão da chegada de Conan ao universo Marvel - e do ridículo que isso é - embora na história em questão, dada a sua especificidade temática, a coisa ainda fosse funcionando.

O problema é que na sequência desses acontecimentos, Conan foi ter à Terra Selvagem - o que, mais uma vez, poderia fazer (algum) sentido - mas a exploração do conceito que serve de base a estes Vingadores Selvagens, acabou por desvirtuar o que já era questionável e transformar uma interessante ideia base numa sucessão de equívocos.

Na origem deste arco, está a reunião d(e algum)as (das) personagens mais violentas do universo Marvel. Ou quase, porque a par de Wolverine, Venon, Elektra e Justiceiro surge - vá-se lá saber porquê, ou melhor, porque precisavam de alguém que assumisse o lado místico do relato - um obscuro - para mim desconhecido! - Doutor Vudu. Ah, e Conan, também.

Depois, se numa primeira fase, no encontro de Conan e Wolverine, a química entre os dois até vai funcionando, com a chegada dos restantes, atraídos pelo mago Kulan Gath, com o auxílio do Tentáculo, para servirem de vítimas num sacrifício evocativo de uma personagem bestial - no sentido original do termo… - os tais equívocos sucedem-se.

Para além do óbvio anacronismo da presença de um bárbaro de eras ancestrais nos dias de hoje - com a improvável fácil adaptação a muitos aspectos da nossa realidade e uma admirável indiferença face a muitos outros - entre os questionáveis constituintes desta equipa de vingadores (?) é difícil reconhecer proximidades ou o estabelecimento de laços. Mais ainda, se o Justiceiro e Elektra não tivessem comparecido, não se teria dado pela sua ausência, de tal forma é discreta - e desnecessária… - a sua participação.

Obviamente, uma reunião deste género possibilita alguns excessos de sangue e violência, acima do habitual em relatos de super-heróis, mas nada que choque leitores regulares de outros géneros que facilmente vão mais além.

Cumprida, sem grande fulgor, essa tarefa conjunta, com a certeza - leiam ‘ameaça’ - de um futuro regresso desta equipa para a concluir, põem-se todos a andar (para o conforto das suas vidinhas?), ficando a equipa reduzida à improvável dupla Conan/Justiceiro, com a agravante de este último arrastar através dos territórios gelados da Antártida os caixões com os restos mortais da sua família, levados para lá como isco, pelo mago…

E pouco depois, com Castle também de partida, vemos o tal bárbaro, anacrónico neste contexto, em interacçáo com o Doutor Destino e o Dr. Estranho - disseram estarnho…? -, a levar uma vida normal na actualidade, dando até um salto ao Brasil para acabar com um tráfico de escravas sexuais…

Graficamente, se o traço de Mike Deodato Jr. (no primeiro volume) é prejudicado pela (reprodução?) demasiado escura das páginas, já no segundo, nem Kim Jacinto, Patch Zircher ou Ron Garney (no segundo) se mostram demasiados empenhados - ou inspirados - o que não contribui em nada para a legibilidade.

Para terminar, se chegaram até aqui e o que leram pode parecer não fazer muito sentido, fiquem a saber que foi assim que me senti após a leitura deste díptico.


Vingadores Selvagens #1 e #2
Compilam Free ComicBook Day 2019: Avengers, Savage Avengers #1 a #10 e Savage Avengers Annual #1
Gerry Duggan (argumento)
Mike Deodato Jr., Kim Jacinto, Patch Zircher e Ron Garney (desenho)
Panini Comics
Brasil, Julho/Dezembro 2020
170 x 260 mm, 144 p., cor, capa cartão
R$ 23,90/10,60 €

(capas disponibilizadas pela Panini Comics; pranchas disponibilizadas pela Marvel; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

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