19/01/2022

2021: As escolhas dos editores - A Seita

 

Para complemento do balanço do ano de 2021, no que à BD diz respeito, que o blog As Leituras do Pedro está a efectuar ao longo deste mês, os principais editores nacionais foram desafiados a indicar as suas escolhas e também a anteciparem o ano de 2022.

Hoje, as opiniões de José de Freitas, em nome de A Seita.


As Leituras do Pedro - Quais as três edições próprias mais relevantes que lançaram em 2021?

A Seita - De maneira geral, penso que podemos dizer que os livros importantes que editámos em 2021 foram Os Olhos do Gato, um clássico de Moebius e Jodorowsky que continuava misteriosamente inédito no nosso país, e de que devo dizer que a nossa edição, com os seus extras, é uma das melhores do mundo. E também o Drácula de Bram Stoker, de Georges Bess, que inaugura uma colecção de adaptações que achamos que vai ser uma colecção relevante no panorama nacional de BD; e em terceiro... hesito. Parte de mim queria responder com A Fera ou com o Procura-se Lucky Luke, porque representam um tipo de BD franco-belga muito relevante hoje em dia, que continua personagens e histórias clássicas de uma maneira simultaneamente respeitosa e original, e porque são títulos importantes do nosso catálogo em termos de vendas e da nossa importância como editores... mas por outro lado, creio que a edição de Tu És a Mulher da Minha Vida..., um grande clássico da BD portuguesa que estava indisponível há bastante tempo, e numa edição verdadeiramente renovada para uma geração de leitores de BD, é provavelmente uma edição mais importante.



As Leituras do Pedro - Que edições que outras editoras publicaram em Portugal gostavam de ter editado?

A Seita - Isso é fácil, porque na prática estes últimos anos têm sido pródigos em óptimas edições de BD, e há sempre livros óptimos que gostaríamos de ter editado. Apesar de Tudo de Jordi Lafebre, da Arte de Autor; O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet, uma edição da Ala dos Livros. Em terceiro lugar... bom, nós na Seita somos muitos, e há muitos candidatos, desde Criminal ou Gideon Falls na G. Floy, ou O Burlão nas Índias, da Ala dos Livros, todos temos as nossas ideias e preferidos!



As Leituras do Pedro - Que títulos que vão lançar em 2022?

A Seita - Talvez seja um pouco prematuro adiantar o nosso programa editorial todo, até porque estamos ainda numa fase de preparação do plano, e mais que isso, temos de nos organizar melhor se queremos levar a bom porto os mais de 30 livros que temos à partida agendados para este ano! Desde já com uma dúzia de livros de autores portugueses, nos vários selos que n'A Seita servem de lar para os autores nacionais: a Comic Heart, que arranca já em breve com um mangá de Kachisou, uma jovem autora portuguesa que assinou há uns anos o magnífico Weak e que está a preparar um romance gráfico completo para nós. Temos também o segundo volume de Dragomante, um novo álbum de Joana Afonso,e claro, as continuações dos álbuns de autores portugueses lançados no ano passado. E temos também projectos na nossa parceira com a Turbina, entre os quais destacamos um novo livro de Marco Mendes, bem como a estreia da Bicho Carpinteiro com o novo álbum de André Morgado, desta feita com a arte do brasileiro Rodolfo Oliveira, E muito mais autores portugueses!


Quanto ao resto, desvendamos algum do plano editorial da primeira metade do ano, com novas séries de BD franco-belga: Nevada, um western ambientado no pós-Primeira Guerra Mundial (de Fred Duval e Jean-Pierre Pécau, com arte de Colin Wilson), a nova fase de Thorgal (argumento de Yann e desenho de Fred Vignaux), cujo primeiro álbum, O Eremita de Skellingar, deve sair já em Janeiro; e Nautilus (argumento de Mathieu Mariolle, e arte de Guénaël Grabowski), que nos transporta para o grande jogo do final do século 19, num cenário de aventura e antecipação.

Para além disso, podemos dizer que editaremos o quinto Lucky Luke visto por..., o já muito falado Os Choco-Boys, do alemão Ralf König, que certamente dará que falar (e uma vez este editado, estarão TODOS publicados em Portugal)! E continuaremos na senda dos álbuns de homenagem a personagens clássicos com Blueberry: Amargura Apache, de Sfar e Blain, e posso adiantar que lançaremos duas versões do livro, a versão normal a cores, e uma versão a preto e branco, uma experiência que pretendemos fazer no sentido de ver se o mercado português tem interesse neste género de edições. E ainda no franco-belga, a colecção Nona Literatura terá dois novos volumes: Frankenstein, a nova e tremenda adaptação de um clássico da literatura por Georges Bess, depois do sucesso do seu Drácula; e um magnífico Macbeth: Rei da Escócia, com adaptação de Thomas Day e arte (incrível!) de Guillaume Sorel.




E claro, continuaremos as outras colecções que já iniciámos, desde já com mais dois volumes de Tex, o primeiro dos quais já para Fevereiro, bem como um interessante álbum de uma dupla de autores espanhóis (bascos, na realidade), Santa Família, de Eider Rodríguez e Julen Ribas, que marca o início da nossa colaboração com a editora de Valência, Grafito Editorial. E finalmente, lá para Junho, um dos grandes sucessos de sempre da BD francesa, Pele de Homem, de Hubert e Zanzi.

E tudo isto só no primeiro semestre, sendo que é possível que ainda tenhamos algumas surpresas importantes antes do Verão!


As Leituras do Pedro - Com as incertezas da pandemia, os problemas ao nível do abastecimento de papel e o aumento de custos, como perspectiva o novo ano editorial?

A Seita - É difícil fazer previsões neste momento. Temos alguns projectos semi-pendurados, à espera de saber se vai ser possível arranjar papel para eles, e para quando. As coisas têm mudado muito rápido. Há três, quatro meses, era difícil arranjar papel tipo offset, agora passou a ser complicado arranjar papel revestido (estilo couché), que é o que usamos nos álbuns mais típicos franco-belgas. Os preços aumentaram muito, p.ex. em termos do cartão da capa dura, mas também de alguns componentes necessários da impressão (os álcoois de limpeza, p.ex.) e tenho as minhas dúvidas de que voltem a baixar tão cedo. Penso que nos temos de preparar para algum aumento do PVP dos livros.


Relativamente à pandemia, e sendo possível que tenhamos ainda algumas más surpresas, diria que me parece que o pior já passou. de maneira geral, o cancelamento dos eventos de BD foi o mais gravoso para A Seita, principalmente porque afecta os nossos livros de autores portugueses, cujas vendas vivem muito de eventos, sessões de autógrafos, e de uma boa vontade do público que se gera durante esses eventos no contacto entre autores e leitores. Espero que 2022 não veja mais cancelamentos de eventos, dado o enorme volume de livros de autores portugueses que pretendemos lançar (uma dúzia, pelo menos).

(imagens fornecidas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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