Realizada a propósito do artigo Pandemia
com Humor publicado
na versão em papel do Jornal de Notícias de 19 de Janeiro de 2022 e
disponível online, esta entrevista a Leonardo
Cruz,
argumentista
de Quarentoons
- Uma agenda de um ano que já passou,
desenhado por Natacha Costa Pereira,
disponível
em formato livro e também no Facebook, justificava
a publicação na íntegra, que agora se faz.
Depois
da entrevista com Zépestana, este 'mini-ciclo' encerrar-se-á com
as declarações da dupla André Oliveira/Pedro Carvalho.
As Leituras do Pedro - A pandemia é um bom tema para fazer humor? Porquê?
Leonardo
Cruz
- O humor surgiu-nos de
forma natural; o ancestral reflexo de reacção
ao medo, talvez mais desenvolvido em pessoas que tendem a contar
piadas em funerais, como é o meu caso. Mais por auto-protecção
do que por desrespeito à dor.
O que vivemos no início de 2020
era tão avassalador que eu e a Natacha só conseguimos lidar através
de piadas e desenhos. Pareceu-nos melhor do que ir gritar com
megafones para a porta de restaurantes, enquanto políticos almoçam.
As Leituras do Pedro - Há limites que não se podem atravessar?
Leonardo Cruz - É uma excelente questão para a qual não tenho resposta, sinceramente.
"Os limites do humor"... No nosso caso (fazer humor com uma pandemia inédita para nós), tentámos ter algum cuidado em não ser cínicos, por um lado, e em não achar que tínhamos todas as certezas (já havia demasiada gente com estas características, para onde quer que olhássemos). Esta preocupação foi talvez mais densa no início. Quem éramos nós para saber se realmente deveria ser decretado o Estado de Emergência, naquele Março de 2020? O que sabíamos nós do tema, de vírus e sua propagação? Mais ainda, o que viria com a limitação das liberdades individuais que advinham do tal estado excepcional? Agora sabemos que não foi o fim do mundo, mas naqueles primeiros dias tivemos algum cuidado. Por isso pusemos as personagens a explicar que havia sido decretado o "Estado de Emerdência" - curiosamente uma expressão parecida com aquela que Macron utilizou há dias, para dizer que ia "complicar" a vida aos não vacinados. (Macron, caríssimo, escusas de agradecer).
Tentámos também não ser moralistas. É óbvio que, com o passar dos dias (as tiras diárias dos Quarentoons duraram 15 meses, entre Março de 2020 e Maio 2021), nem sempre conseguimos. Mas o objectivo número 1 foi sempre (tentar) ter piada. E tivemos sorte porque fomos muito ajudados nesse desígnio com algumas personagens reais que habitaram esta era das nossas vidas, sobretudo ao mais alto nível de decisão de (alguns) Estados. Umas porque são completamente loucas, outras porque estavam completamente perdidas; algumas porque são loucas e estavam perdidas.
As Leituras do Pedro - Como reagiram os leitores aos teus trabalhos?
Leonardo
Cruz
- A
reacção
às tiras (inicialmente publicadas na nossa página no Facebook e,
mais tarde, no Instagram), principalmente naqueles primeiros dias de
confinamento, foi muito boa. Havia quase um país confinado, o
próprio Facebook teve uma reanimação generalizada, e as pessoas
identificavam-se com as tiras das principais personagens: um casal em
quarentena, uma menina com um gato que viu o seu espaço ocupado por
humanos, ou um comentador baralhado na televisão que, de um dia para
o outro, tornou-se especialista em "epidemiologia, virologia e
sementes de chia".
Um ano e meio depois, essa reacção
traduziu-se numa interessante procura ao livro, com uma adesão à
campanha de crowdfunding que viabilizou a edição em livro (via
plataforma PPL) que em muito superou as nossas expectativas.
Quarentoons
- Uma agenda de um ano que já passou
Leonardo
Cruz (argumento)
Natacha
Costa Pereira (desenho)
Edições
Escafandro
Portugal,
12
de Dezembro
de 2021
152
p., cor
25,00
€
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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