Sem interesse
A
vida da Raquel sem Interesse tem algum interesse?
Esta
pergunta - aqui
personalizada - surge sempre que me deparo com uma obra
(auto-)biográfica. A resposta é sim, mas...
numa de três situações (que podem ser acumulativas):
-
quando a vida do (auto-)biografado é/foi especialmente relevante;
-
quando a forma como está narrada a torna relevante;
-
quando espelha a vida de pessoas que experimentaram o mesmo tipo de
situações.
Posto
isto, volto a perguntar: A vida da Raquel sem Interesse tem algum
interesse?
A primeira resposta que ocorre, possivelmente, é que a vida de Raquel sem Interesse é realmente sem interesse.
É uma vida igual à de tantas outras. Jovem, com as dificuldades inerentes à idade, entre os estudos, a entrada na vida adulta, as primeiras experiências laborais, os problemas crescentes de relacionamento dos pais e as primeiras experiências a dois, a sua vida não nos traz nada de novo - muitos de nós até passámos/passamos por isso, num ou noutro papel.
Mas a verdade, é que essa mesma vida (começa a) ganha(r algum) interesse pela forma sincera e desprendida - ou pelo menos assim soa - com que se nos apresenta e nos cativa, despojada e sem defesas, quando nos narra as suas memórias desde pequenina até quase à publicação deste livro, com as consequências incontornáveis de uma pandemia pelo meio.
E por outro lado - principalmente, atrevo-me a escrever - pela forma com essa vida espelha, retrata, mostra a vida de tantos outros jovens da mesma geração de Raquel, que passaram por alegrias e dificuldades, sonhos e desilusões, similares às dela, fazendo assim da sua vida mais do que uma experiência particular.
Mas na verdade, para além disso, E agora? apresenta outro motivo de interesse: poder comprovar o enorme salto qualitativo que a autora deu relativamente à sua estreia em livro, há cerca de dois anos e meio, com Vida de Adulta.
Se graficamente, apesar da simplicidade do traço, esta obra se apresenta muito mais homogénea e consistente - contribuindo a passagem de um registo de gag/história curta para o relato longo - é ao nível da narrativa que Raquel sem Interesse se revela muito mais interessante, com uma história bem construída, consistente, com boa fluidez e legibilidade e com a credibilidade que lhe advém do realismo da sua auto-exposição.
E
agora?
Raquel
sem Interesse
Iguana
Portugal,
Maio de 2023
171 x 241 mm, 136
p., cor, capa cartão
com badanas
17,45 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nesta ligação para ver mais ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Sem comentários:
Enviar um comentário