13/06/2023

Bartleby, o escriturário

Preferir não fazer nada





Todos fazemos opções no dia-a-dia, mesmo que a opção seja não optar. Obriga-nos a isso a nossa vida, a nossa sobrevivência, a nossa família, as nossas obrigações profissionais… em suma, a nossa responsabilidade social.

Bartleby, um simples escriturário de Wall Street, é o protagonista de um conto com a assinatura de Herman Melville, publicado pela primeira vez em 1853.

Contratado para copiar documentos, distingue-se pela forma metódica e diligente como trabalha. Demais, dirão alguns pois, consagrado à sua responsabilidade, passando os dias - e depois as noites - sentado à sua secretária, em frente a uma janela que dá para a parede de tijolos do edifício contíguo, quando lhe é proposto realizar outras actividades, sejam elas tarefas profissionais básicas como ir aos correios ou comparar cópias em conjunto ou até convites para ir beber um copo com o patrão, recusa liminarmente. Ou melhor, nega-se dizendo: “Preferiria não o fazer”. E responde de forma tão liminar quanto educada, desarmando qualquer reacção do seu patrão, dividido entre a vontade de o despedir e a inação devido à incompreensão pelo sucedido.

A versão em banda desenhada, que assume o título original, Bartleby, o escriturário - Uma história de Wall Street, chega por estes dias às livrarias nacionais numa edição da Arte de Autor e tem a assinatura do espanhol José-Luís Munuera, que alguns, muito bem, associarão a uma fase não muito antiga de Spirou.

Trata-se da sua segunda investida na adaptação de um clássico da literatura, depois da sua visão provocadora de Um conto de Natal, de Dickens, em que entrega, de forma bastante conseguida, o protagonismo a uma mulher.

Em Bartleby, Munuera utiliza o mesmo traço semi-caricatural, que acentua o ridículo e o inesperado da situação, recorrendo a uma traço mais realista, esbatido, para recriar os fundos e os cenários em que a acção decorre, realçando, assim, duplamente, os protagonistas e os respectivos diálogos.

História mordaz sobre o direito à individualidade em oposição à ditadura da(s) maioria(s), mesmo que esta seja a sociedade em que vivemos e para com a qual temos obrigações e responsabilidades, Bartleby apenas não se transforma num total absurdo devido ao seu desfecho trágico que leva o leitor a questionar quem realmente sai vencedor no final...


Bartleby, o escriturário - Uma história de Wall Street
Nadseado na novela de Herman Melville
José-Luís Munuera
Arte de Autor
Portugal, Maio de 2023
210 x 295 mm, 72 p., cor, capa dura
18,50 €

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias online a 2 de Junho de 2023 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Arte de Autor; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre o tema destacado)

3 comentários:

  1. Os links do texto remetem para uma página que me parece q

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  2. peço desculpa pela mensagem anterior. O que queria dizer: " Os links do texto remetem para uma página que, penso, não era a que queria fazer a ligação" . Os meus cumprimentos.

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    Respostas
    1. Tem razão, já corrigi. Obrigado pela atenção.
      Boas leituras!

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