Sempre a abrir num futuro distante
Há livros sobre os quais as expectativas são grandes, pela forma como se vai ouvindo falar deles ao longo dos tempos ou porque de algum modo se vai acompanhando o seu progresso. Sol, foi um deles e Diogo Carvalho não desiludiu.
Longe vai o tempo em que a banda desenhada portuguesa era maioritariamente didáctica ou de autor. Hoje em dia, é possível encontrar nas livrarias uma grande variedade de propostas, incluindo aquelas que devem estar sempre na base da pirâmide de produção: as obras para o grande público, aquilo que noutros países, de maior produção, se designa como 'banda desenhada popular', sem qualquer intenção pejorativa. Sol, primeiro livro de grande fôlego de Diogo Carvalho, é um exemplo recente.
Combinação equilibrada entre western, distopia e relato de tom humano, tem lugar num futuro distante, num planeta desconhecido, mais um daqueles que os terrestres exploraram até à exaustão. O aparecimento da jovem Sol, perseguida pelas forças que governam aquele sistema solar, vai abalar o sistema existente e colocar a descoberto um segredo que pode mudar a sorte dos seres humanos, afectados por uma bactéria multirresistente.
Narrada com grande dinamismo, com adrenalina sempre no máximo compensada pelas interrupções em flashback que ajudam a compreender o presente e também a dar consistência e espessura ao universo que Carvalho desenvolveu, Sol é uma aventura de ficção-científica, balizada pela premissa de que o amor por alguém pode levar um ser humano até ao infinito, e a superar-se a si mesmo.
E se é verdade que ao longo da quase centena e meia de pranchas, Diogo Carvalho revela algumas limitações ao nível do desenho, em especial no que respeita à definição dos rostos, isso é contrabalançado pela forma dinâmica como ele planificou o livro, com uma construção heterogénea das pranchas e o recurso a algumas páginas de vinheta única e outras duplas que obrigam o leitor a uma maior abrangência visual o que recria quase a sua 'entrada' no local da acção. E, por paradoxal que pareça, Sol até merecia uma edição de maior dimensão porque nalgumas páginas houve vinhetas que ficaram demasiado pequenas.
A simplicidade com que se entra no universo descrito, o ritmo inebriante da maioria das cenas e a solidez do mundo criado, tornam a leitura fácil e aliciante e proporcionam uma diversão agradável ao longo de um par de horas.
Sol
Diogo
Carvalho
A
Seita
Portugal,
Maio de 2024
175
x 245 mm, 136
p., cor,
capa dura
24,00
€
(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias a 2 de Agosto de 2024 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas por A Seita; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Pedro,
ResponderEliminarestava a ler e discordo que o livro ficasse melhor sendo maior.
Para isso ser possível, o autor teria de redesenhar algumas pranchas para ter mais consistência na arte. Se aumentar a arte como está, penso que as suas fraquezas serão mais expostas. Nesse sentido, penso que o tamanho actual está adequado.
Talvez tenha sido um pouco radical no que escrevi e concordo contigo, mas no actual formato, há vinhetas/balões de difícil leitura. Possivelmente eram as pranchas em estão que deveriam ter sido redimensionadas...
EliminarBoas leituras