23/06/2012

XIV PortoCartoon








 O Museu Nacional da Imprensa, no Porto, inaugura hoje, às 17h30, a exposição do XIV PortoCartoon, que foi subordinado ao tema "Ricos, pobres, indignados", apresentando cerca de 400 trabalhos seleccionados pelo júri do concurso. Na mesma altura serão entregues os prémios e troféus desenhados por Siza Vieira.
Alessandro Gatto
Alessandro Gatto, de Itália, foi o vencedor do Grande Prémio do XIV PortoCartoon - World Festival, tendo o segundo prémio sido atribuído a Felipe Galindo, mexicano a morar nos EUA, na categoria Tema Livre, e o terceiro, ex-aequo, a Turcios, da Colômbia, e a Valery Doroshenko, da Ucrânia.
A qualidade dos trabalhos, levou o júri internacional a atribuir ainda 12 Menções Honrosas a artistas de diferentes países: Bélgica, Brasil, China, Espanha, França, Irão, México, Portugal, Reino Unido, Sérvia, Síria e Ucrânia. A oportunidade do tema e a elevada qualidade de grande parte dos participantes foi sublinhada pelos membros do Júri. Em apreciação estiveram cerca de duas mil obras, de 630 artistas, oriundos de 80 países de todos os continentes. O Irão é o país com mais participantes (66) e trabalhos (255). Seguem-se o Brasil, a China, Portugal e a Roménia.
Com esta participação, o Portocartoon cimenta o seu lugar no pódio dos concursos internacionais de humor e reforça a pertinência da classificação do Porto como “capital do cartoon”, atribuída em 2008.
Felipe Galindo
O Júri internacional do XIV PortoCartoon foi presidido por Georges Wolinski (França) e integrou ainda: Peter Nieuwendijk, Presidente-geral da Feco (Holanda); Xaquín Marín, fundador do Museo de Humor de Fene (Espanha); Luís Mendonça, Representante da Faculdade de Belas Artes do Porto e Luís Humberto Marcos, director do PortoCartoon e do Museu Nacional da Imprensa.
Os vencedores do XIV PortoCartoon receberão os troféus e os prémios durante a cerimónia de abertura da exposição que decorrerá nas instalações do Museu Nacional da Imprensa, hoje, 23 de Junho, aquando das Festas do S. João. Várias centenas de milhares de visitantes já viram as treze edições do PortoCartoon realizadas nas instalações do Museu Nacional da Imprensa, e nas diferentes cidades por onde passaram as exposições: Argentina, Bolívia, Brasil, França, Espanha e México.
Na mesma altura será apresentado um novo espaço do Museu, a Galeria Daumier, que será inaugurada com a primeira exposição em Portugal de George Wolinski, Grande Prémio do Festival de BD de Angoulême, em 2005. Esta exposição assinalará os 50 anos de cartoonista do autor francês que, no final de Junho, inaugurará outra exposição em Paris, na Biblioteca Francois Miterrand.

Data
23 de Junho a 31 de Dezembro de 2012

Horário
Aberto todos os dias, incluindo domingos e feriados, entre as 15h00 e as 20h00.
Durante a semana, abre também entre as 10h30 e as 12h30, para grupos
com marcação prévia.

Preços
Visitas Individuais
- Público em geral - 2€
- Estudantes e Reformados - 1€
Visitas em Grupo (de segunda a sexta feira)
- Alunos  - 1€
- Professores Grátis

22/06/2012

Centenário de Franco Caprioli

Comemorado em Moura com Exposição e Fanzine









A Câmara Municipal de Moura, em parceria com o GICAV - Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu, produziu uma exposição (comissariada por Luiz Beira) intitulada “Franco Caprioli: no centenário do desenhador-poeta do mar”.
A inauguração ocorre hoje, dia 22 de Junho, pelas 18:00 horas, no Espaço Inovinter (Moura).
Na mesma ocasião, será apresentado um fanzine (profusamente ilustrado e com texto do investigador Jorge Magalhães) sobre a obra de Caprioli, dentro da linha de publicações BD de qualidade que Moura tem produzido nos últimos anos.
O fanzine inclui uma história completa, em oito pranchas, de Olac, o Gladiador (uma aventura nunca antes publicada a cores em Portugal e que Fulvia Caprioli - filha do artista - gentilmente nos autorizou a publicar).

 Está, também, programada a venda de publicações italianas, com trabalhos de Caprioli, numa colaboração especial entre a ANAFI (Associazione Nazionale Amici del Fumetto e dell’Illustrazione) e a Câmara Municipal de Moura.
A lista de publicações italianas para venda é a seguinte: “La pattuglia bianca” (2003), “La leggenda di Beowulf” (2007), “Il segno insanguinato, I parte” (2009), “Il segno insanguinato, II parte” (2009), “Dawn delle isole e altre storie » (2011), “Il fumetto n.15/1988”, “Fumetto n.40/ 2001”, “Fumetto n.42/ 2002”, “Fumetto n.53/ 2005”, “Fumetto n.56/ 2005”, “Fumetto n.70/ 2009”, “Fumetto n.80/2011”.
Quem estiver interessado pode reservar exemplares através dos seguintes contactos: telefone: 285 250 400 (ext. 504) ou e-mail: carlos.rico@cm-moura.pt

 A exposição decorrerá até 8 de julho, todos os dias, das 9:00 às 12:00 e das 17:00 às 19:00. Seguirá, depois, para Viseu onde será exposta em datas a designar brevemente.

Breve biografia de Franco Caprioli
Franco Caprioli, um dos mais ilustres autores da banda desenhada italiana e mundial, nasceu em Mompeo, província de Rieti, no dia 5 de Abril de 1912.
Desde cedo, manifestou grande paixão pelas coisas do mar (talvez influenciado por um tio, Capitão de fragata), o que, aliado ao jeito para o desenho, originou um caso curioso: o pequeno Caprioli começou a desenhar o mar mesmo antes de o ter visto pela primeira vez! Esta paixão manteve-a ao longo da vida o que, naturalmente, se refletiu na sua obra, onde a temática marítima e os países exóticos tiveram um papel muito relevante. Por essa razão Caprioli ficou conhecido como “O Poeta do Mar”.
A sua “imagem de marca” foi a utilização do “pontilhismo” (técnica que consiste em desenhar pontos muito próximos uns dos outros, para dar a ilusão de sombras ou relevo), que aplicou com maestria nas histórias que desenhou.
A obra de Caprioli - imensa e magnífica – espraiou-se por revistas italianas mas também inglesas, francesas, belgas, espanholas e portuguesas.
Na sua obra contam-se algumas das melhores adaptações de clássicos da literatura popular, muitas delas publicadas no nosso país como, por exemplo, “A Ilha Misteriosa”, “Miguel Strogoff”, “Os filhos do Capitão Grant”, “Os violadores do bloqueio” ou “Aventuras no Mar” (romances de Julio Verne, editados nos anos 70 e 80, sob a forma de álbum BD, e que hoje se encontram praticamente esgotados).
“Os filhos do Capitão Grant” foi mesmo a última história em que o artista trabalhou, deixando-a inacabada devido ao seu súbito falecimento, em Roma, a 8 de Fevereiro de 1974.
Outro desenhador italiano, Gino D’Antonio, completaria, posteriormente, o seu trabalho, desenhando as últimas sete páginas.

(Texto da responsabilidade da organização)



21/06/2012

Entrevista com José Ruy


José Ruy (foto do Blog do Centro Artístico e Cultural Artur Bual)
"Não fico à espera de convites.
Faço."







O álbum “Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos”, de José Ruy, é hoje apresentado na Casa da Cultura Leonardo Coimbra, na Lixa, às 17 horas, com a presença do autor, num evento integrado nas comemorações do 17º aniversário da elevação a cidade daquela localidade.
A obra, teve o apoio da Câmara Municipal de Felgueiras, terra natal do filósofo, que adquiriu uma parte da edição de modo a garantir que todas as Escolas e Bibliotecas do Concelho tenham exemplares.

Este foi o pretexto para uma conversa à distância (por mail) com José Ruy, centrada especialmente na sua relação com as autarquias e o seu método de trabalho. Nesta conversa também foram abordados o álbum agora apresentado e o que se vai seguir - “Carolina Beatriz Ângelo, Pioneira na Cirurgia e no Voto” - do qual As Leituras do Pedro apresentam a capa e algumas pranchas, em estreia absoluta, o que constitui mais um motivo de agradecimento a José Ruy. 



As Leituras do Pedro - Há muito que o José Ruy trabalha com o apoio de autarquias portuguesas. Sem querer entrar no “segredo do negócio”, como funcionam normalmente essas parcerias? De quem costuma partir a iniciativa, de si ou da autarquia?
José Ruy – Praticamente comecei a fazer histórias relacionadas com Autarquias, com a “História de Macau”, depois de regressado desse território chinês sob administração portuguesa, e por sugestão da delegada em Lisboa, Dr.ª Amélia Dias. Mas não teve qualquer comparticipação da Autarquia; As Edições ASA colocaram os livros directamente à venda no território em livrarias previamente indicadas. As iniciativas para realizar estas obras têm partido de mim, de professores, de autarcas e de editores. Mas nunca realizei Histórias em Quadrinhos directamente para nenhuma Autarquia, como tem acontecido com colegas meus.
Só trabalho com editores, e são estes que por sua vez contactam e contratam com algum promotor, que pode ser realmente uma Autarquia, um instituto, um museu ou uma fundação.


ALP - É fácil chegar a acordo com essas instituições em termos de valores envolvidos, prazos, condições de impressão/distribuição, liberdade criativa, etc.?
JR - Esta sua pergunta está em parte já respondida, mas explicarei melhor: Quando o editor decide publicar a obra, (apresentada sempre por mim), devido ao meu processo de trabalho, não se levantam os problemas a que faz alusão. A importância dos apoios para o editor, é de ter à partida a garantia (de palavra) de uma quantidade de livros a serem adquiridos depois de impressos, e só depois dessa altura pagos. Naturalmente que faz diferença uma edição ser projectada para cinco mil exemplares, se puder atingir os dez mil. Quanto mais elevada é a tiragem mais embaratece o preço unitário. Assim o promotor adquirirá um produto mais em conta, e o editor também beneficiará disso.
Nunca tive intromissão de qualquer espécie no que faço, pois o método que uso e que todos sabem, é o seguinte:
Logo a seguir a criar o argumento, elaboro toda uma planificação desenhada da história, embora em rascunho, incluindo as legendas; depois apresento ao editor e ao promotor, para análise. Sobre esse esboço são trocadas impressões, acrescentes ou modificações, como um trabalho de equipa; mas uma vez aprovada essa fase, não haverá qualquer modificação de última hora. Foi assim que trabalhei na ASA, e apesar de fazer parte dos quadros efectivos, consegui disciplinar os dirigentes quanto a um velho hábito de “põe e tira” já quase com o livro em máquina. Quando me convidaram para a empresa, sabiam já que só aceitaria nessas condições. Portanto a liberdade criativa é total, pois o que se discute por vezes são pequenos pormenores pontuais.

Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos

ALP - Chega a ter diversas propostas pendentes, ou trabalha um tema de cada vez?
JR - Por norma trabalho sempre com vários projectos encadeados, uns sugeridos, outros de minha iniciativa; durante a arte final de uma obra, estou já a trabalhar no argumento e a reunir material para uma outra, enquanto faço a pesquisa para uma terceira ou quarta HQ.
A pesquisa ocupa muitas vezes muito mais tempo do que a realização do livro. Só “arranco” em definitivo quando tenho todos esses elementos na mão.


ALP - Depois de estabelecido o acordo, qual o seu método de trabalho?
JR - Acontece que não dependo de qualquer “acordo económico” para iniciar o trabalho. Ninguém irá apostar em adquirir livros para colocar em escolas ou bibliotecas, se não ler e ver primeiro a história. Naturalmente que o acabamento final, já pode ser antevisto pelo exemplo das obras por mim realizadas. O autor tem de investir para ver resultados, não pode estar à espera de saber quanto vai receber, para depois meter mãos à obra. É esta a minha filosofia.

Carolina Beatriz Ângelo

ALP - Uma vez o trabalho finalizado, costuma receber críticas das entidades envolvidas ou mesmo pedidos de alterações? Como reage?
JR - Devido ao processo de trabalho que descrevi, esta situação nunca se põe.


ALP - Sem estas parcerias com as câmaras, o José Ruy ainda era autor de BD?
JR - Claro que não dependo de apoios externos para editar as minhas HQs. Pode o editor apostar numa tiragem mais reduzida, mas edita sempre. Dou-lhe um exemplo: o livro “Aristides de Sousa Mendes, Herói do Holocausto”, não teve apoios, e no entanto está em segunda edição. A editora do Museu Yad Vashem de Jerusalém fez um contrato comigo para a edição em hebraico que está à venda em Israel.
Não fico à espera de convites. Faço.


ALP - Estes acordos com as autarquias ou outras instituições significam a compra de que parte da edição?
JR - Essa proporção das tiragens depende. No caso de “A Jóia no Vale!” foi de quatro para a Autarquia e dois para a editora, pois nestes casos o livro é distribuído pelas escolas e bibliotecas e o tema é trabalhado nas aulas, onde vou algumas vezes colaborar. Mas em Os Lusíadas em HQ, já no adiantado da publicação em muitas edições, a Câmara de Almada adquiriu uma proporção de 1 para 8, portanto uma pequena parte da edição da altura.
Carolina Beatriz Ângelo
Em Sintra, a Autarquia adquiriu um terço da tiragem em português, e quase a totalidade das edições em espanhol, francês e inglês, pois estava mais direccionada para a colocação destas versões nos postos de turismo da Vila. Em “O Juiz do Soajo” uma parceria da Junta de Freguesia do Soajo, a Câmara de Arcos de Valdevez e o Parque Nacional da Peneda Geres adquiriram dois terços, e também quase a totalidade das versões em francês e inglês.
O “Pêro da Covilhã”, de que na primeira edição a Região de Turismo da Serra da Estrela adquirira metade, na segunda edição já só a Câmara da Covilhã adquiriu uma pequena parte. “Amarante e a Heroica Defesa da Ponte” foi meio por meio.
Neste caso recente do “Leonardo Coimbra”, a Autarquia adquiriu 4000 exemplares de seis mil da tiragem.
A Âncora (que tenho acompanhado mais de perto nos últimos anos) nas suas edições de HQ não se limita a editar livros para fornecer a promotores; tem editado, obras minhas e de colegas como o José Pires, o João Amaral e o Baptista Mendes (que tem um livro a sair muito brevemente nessa editora), os que nos temos mantido mais activos na editora, com mais ou menos tiragem, mas nunca deixando de o fazer quando não há apoios. Há sempre o apoio do público. Mas se aparecer alguma aquisição extra, tanto melhor, engrossa a tiragem.


Carolina Beatriz Ângelo
ALP - No caso da biografia do Leonardo de Coimbra, de quem partiu a iniciativa?
JR - A sugestão para o livro “Leonardo Coimbra e os Livros Infinitos”, nasceu numa reunião com a presença do meu actual editor, em Felgueiras, aquando de uma das minhas intervenções na Biblioteca Municipal, pela então Presidente da Câmara Dr.ª Fátima Felgueiras. Foi um desafio a que apliquei todo o meu empenho, pois cada novo livro representa para mim uma importância especial pelo respeito e consideração que tenho pelo público a que se destina.


ALP - Quais foram as maiores dificuldades com que se deparou para criar esta obra?
JR - A grande dificuldade inicial que enfrentei nesta obra, foi tornar apelativo aos escalões etários alvos, o argumento. Como sabe, em todas as minhas HQ não me limito a alinhar os documentos históricos ilustrando-os a seco. Concebo um pequeno enredo romanceado, através do qual o leitor se vai apercebendo, às vezes sem dar por isso, da parte histórica que precisamos de contar. Neste caso, como tratar este assunto tão fechado para uma grande parte do nosso público das HQs, tornando-o acessível, e conseguindo que as páginas fossem viradas uma a uma até à final, sem saltarem por cima? E no entanto tinha de ser compreensível tanto para as crianças e jovens, como para o leitor adulto e já conhecedor da personagem. E segundo parece, pela própria opinião do Pedro Cleto, consegui. Haverá sempre um anão desconhecido que discorde e deite abaixo. Quem não se quer expor a franco atiradores, não pode sair da linha defensiva da trincheira. Eu arrisco.


ALP - Está satisfeito com o resultado?
JR - Para lhe ser franco, nunca estou satisfeito, pois no final penso que poderia ter feito melhor, ou diferente; mas terei de tentar no trabalho seguinte, porque o terminado já pertence ao editor e terá de seguir os seus trâmites. No fundo, quem importa que fique realmente satisfeito é o público. É ele que permite que possamos fazer um próximo livro.


ALP - Sei que já tem um novo álbum pronto para sair em Setembro. Qual o seu título e tema?
JR - O livro que tenho pronto desde finais de 2011, chama-se: “Carolina Beatriz Ângelo, Pioneira na Cirurgia e no Voto”. É quanto a mim, um contraponto ao Leonardo Coimbra. Trata-se de uma notável figura da mesma época, que se cruzou com Leonardo numa outra luta, bem mais difícil, pela sua condição feminina. Uma vencedora. Tenho a obra pronta em DVD e no entanto não temos nenhum apoio definido.
A sua publicação depende neste momento de se conseguir uma tiragem mais confortável, de resto como a figura merece, e que o editor está a ponderar atentamente.


José Ruy (foto do Blog do Centro Artístico e Cultural Artur Bual)

20/06/2012

en Silence













Audrey Spiry
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 277 mm, 140 p., cor, cartonado
16,00 €




Resumo
Verão, sul de França. Um grupo de amigos – dois casais, um deles com duas filhas – e um guia vão passar o dia a fazer canyoning (um desporto que consiste em explorar e descer um rio, a pé ou a nado, transpondo os diversos obstáculos físicos – rochas, quedas, rápidos – que vão surgindo).
Aquilo que parece vir a ser um dia diferente e bem passado, servirá a Juliette para repensar a sua vida e a sua relação com Luis, muito próxima do ponto de ruptura.

Desenvolvimento
O tema não é novo – é cada vez mais recorrente em muitas obras de BD (dita de autor) recentes – mas vale sobretudo pela abordagem extremamente original utilizada por Audrey Spiry, que aqui  se estreia de forma surpreendente em banda desenhada (e onde se adivinha a sua origem no mundo da animação, onde desenvolve a sua actividade profissional).
Antes de desenvolver aquela ideia, quero dizer apenas que entre Luis e Juliette, mais do que qualquer outra coisa, foi a vida que se interpôs entre eles. A diferença de idades e a vida profissional – ela é recém-formada, em busca de emprego; ele trabalha há alguns anos no cinema e cada novo projecto ocupa-o de forma total durante meses – as ambições e os desejos – a ternura, os filhos, o conceito de família…
Isto é o que vamos apreendendo ao longo do relato – longo e bem mais denso do que a significativa ausência de texto deixa prever e que reforça o silêncio (o isolamento, a solidão) que Juliette experimenta – durante o qual vai havendo um contraponto entre o relacionamento dos dois casais e nos vamos embrenhando nos pensamentos de Juliette, da mesma forma que ela se embrenha nos labirintos do rio.
Porque, toda a narrativa é uma imensa metáfora da vida, com os seus momentos calmos e os de maior pressão e ansiedade, os diferentes caminhos que podemos escolher – ou que nos escolhem – os obstáculos e desafios que surgem, os êxitos (sempre passageiros?), as quedas (bruscas) que damos, os buracos sem fundo, o solo instável no qual nos sentimos a afundar, tudo o que nos puxa para baixo, nos oprime e nos parece tirar o ar.
Uma metáfora acentuada – assente mesmo - no desenho fluído e dinâmico da autora (feito em cor directa), que parece ter vida própria e (se) molda às situações e aos momentos, mas também às emoções e aos sentimentos, ultrapassando os limites físicos do espaço e das personagens, que distorce, molda e dilui, tornando-as esguias ou pequenas, omnipresentes ou poderosas, um ponto no espaço ou uma mancha que tudo cobre, consoante o que pensam, sentem, recordam, experimentam no rio (a vida) em que estão à superfície ou submersas.

A reter
- Confesso já ter lido muitos romances desenhados – muitos deles notáveis e marcantes - mas poucas vezes o termo “romance gráfico” fez tanto sentido para mim como no caso deste “en Silence”, no qual o grafismo tem um papel narrativo fundamental e transcendente.
- Pois, neste álbum, cada imagem ou sequência tem pelo menos duas leituras: a imediata, relacionada com a descida física do rio, e uma outra, mais profunda, que nos mostra retratados de forma visível conceitos abstractos como impressões, sensações, emoções, momentos, amor, solidão, ternura, medo, desejo, ansiedade...
- A cor (que é ao mesmo tempo traço) de Spiry, feita de tons fortes e aguados, com uma imensa paleta de tons e matizes, que dilata o autêntico convite aos sentidos que cada prancha já é.


19/06/2012

Leituras de banca

Junho 2012
Revistas periódicas de banda desenhada este mês disponíveis nas bancas portuguesas.



Marvel (Panini Comics)

Homem-Aranha #118
Os Novos Vingadores #93
Wolverine #82
Universo Marvel #16
X-Men #118



Manga (Panini Comics)

Vampire Knight #9



Turma da Mónica (Panini Comics)

Almanaque da Magali #30
Almanaque do Chico Bento #30
Almanaque temático Mônica #20 – Amigos especiais
Cascão #60
Cebolinha #60
Chico Bento #60
Magali #60
Mônica #60
Mónica Joven en español #2
Monica Teen in english #2
Mónica y su Pandilla - Turma da Mónica em Espanhol #9
Monica’s Gang - Turma da Mónica em Inglês #9
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #60
Turma da Mônica – Clássicos do Cinema #29 – Tô na História
Turma da Mónica – Saiba mais #51 – Meios de Transporte
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #60
Turma da Mônica Jovem #42



DC Comics (Panini Comics)

Batman #108
Liga da Justiça #107
Superman #108
Universo DC #17



Bonelli (Mythos Editora)

Almanaque Tex #40
Mágico Vento 114
J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga 85

Tex 480
Tex Colecção #272
Tex Edição de Ouro #50
Zagor #128
Zagor Extra 93


18/06/2012

El Arte de Volar










António Altarriba (argumento)
Kim (desenho)
Ediciones del Ponent (Espanha, 14 de Maio de 2009)
170 x 240 mm, 208 p., pb, brochado com badanas
22,00 €




“El Arte de Volar” é um livro sobre voar. Voar nas asas do sonho, voar pelas ambições que temos. Ou, vendo melhor, é um livro sobre sonhos por realizar, falhanços e frustrações.
“El Arte de Volar” é um livro que traça um retrato – duro, realista, factual - da sociedade espanhola do século XX. Um período de 100 anos que abarcou duas guerras mundiais e uma civil e uma ditadura, com as inevitáveis consequências sociais: a pobreza, a falta de bens essenciais, o choque inevitável entre amigos, vizinhos e conhecidos, a repressão, a perseguição política, a delação, a emigração…
 “El Arte de Volar” é uma história de ilusões: a ilusão da cidade para quem vive (na miséria) no campo. A ilusão da técnica e da tecnologia para quem trabalha com as mãos. A ilusão dos ideais para quem vive em ditadura. A ilusão do estrangeiro onde se busca o que o país não dá. A ilusão do regresso ao país natal, quando o estrangeiro nos trata igualmente mal. A ilusão do conhecimento A ilusão da religião. A ilusão da amizade. A ilusão do casamento. A ilusão…
“El Arte de Volar” é uma obra adulta, que mostra a maioridade de um género narrativo: as histórias em quadradinhos.
“El Arte de Volar” é uma história universal, pois retrata uma realidade que foi de muitos (espanhóis) ao longo de décadas.
“El Arte de Volar” é uma história particular, a de António Altarriba Lope, pai do argumentista, que se suicidou a 4 de Maio de 2001. Voando – literalmente – pela primeira e última vez, num voo picado de uma janela de um 4º andar até ao pavimento da rua que o recebeu de braços abertos. Voando – metaforicamente – pela primeira e última vez, rumo à felicidade que nunca gozou – ou pelo menos liberto desse anseio que nunca concretizou, liberto de todas as (muitas) correntes com que (um)a vida (de frustrações e desencantos) o agrilhoou.

A reter
- O tom profundamente humano - e adulto - deste relato desenhado, um fresco magnífico de um século de vida(s) do país aqui ao lado que poucas vezes conhecemos como poderíamos (deveríamos?) conhecer.
- A forma como Altarriba - o argumentista - se identifica com Altarriba - o protagonista e seu pai - fazendo suas as suas dores, as suas mágoas, as suas chagas, as suas frustrações, o seu desencanto, mas sem nunca cair na lamechice, na autocomiseração ou no lamento fácil, optando, apesar de toda a carga emocional – que viveu e partilha com o leitor - por um relato factual e com algum distanciamento, que torna mais pungente e doloroso o que através dele transmite.

Menos conseguido
- De férias em Madrid, no Verão passado, tinha este livro referenciado e estive com ele na mão. Mas, devido ao desenho, acabei por não o trazer. Perdi – não tudo graças ao empréstimo que entretanto me fizeram (obrigado Petracchi!) – a oportunidade de o ler mais cedo. E de reconhecer que o traço de Kim, se não é especialmente vistoso, é de uma extrema legibilidade e soube despir-se das suas características mais caricaturais para transmitir o tom realista adoptado pela narrativa, dando a primazia a esta, sendo apenas o veículo que sustenta uma grande banda desenhada. Uma grande história tout-court, independentemente do género narrativo utilizado para a narrar.

Curiosidade
- Entre muitas outras distinções, “El arte de Volar” recebeu o Prémio Nacional de Comic 20120, atribuído pelo Ministério da Cultura espanhol. Justamente, em meu entender, independentemente das outras obras a concurso.




17/06/2012

As Estantes do Pedro (V)












Esta é a última série de fotos com as estantes em que tenho álbuns de BD – o que não significa que não tenha mais estantes para mostrar!
Para o fim ficaram as edições - nacionais e estrangeiras de autores portugueses - como habitualmente ordenadas por desenhador. Como noutras estantes, existe também uma divisãoentre pequenos formatos (até 24 cm)/outros formatos, para aproveitamento do espaço de prateleira. As obras colectivas estão ordenadas por título.
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