24/10/2024

Clássicos da Literatura Portuguesa em BD - Entrevista com Carina Correia e Joana Afonso




Segunda entrevista do mês, no âmbito da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, editada pela Levoir e a RTP, apresenta as opiniões de Carina Correia e Joana Afonso, responsáveis pela adaptação de Maria Moisés, de Camilo Castelo Branco.

As respostas, obtidas por correio electrónico, estão já a seguir.


As Leituras do Pedro - A escolha da obra foi pessoal ou da editora?

Carina Correia - Foi da editora. E foi uma excelente escolha.

Joana Afonso - Foi minha, depois de consultar a lista de obras que poderia escolher, optei por aquela que se enquadrava mais no meu calendário/trabalhos que tinha em mãos, de forma a poder ter tempo para o poder fazer, em conjugação com outros projetos em curso.


As Leituras do Pedro - E a escolha do desenhador para a ilustrar?

Carina Correia - Também. E também uma excelente escolha.

Joana Afonso - Aqui penso que concordaram com a minha escolha, pois aceitaram que eu desenhasse este clássico.


As Leituras do Pedro - Já conheciam a obra? O que trouxe adaptá-la?

Carina Correia - Sabia da existência da obra, nunca a tinha lido. A adaptação talvez tenha trazido alguma leveza, estamos perante uma história com alguns momentos trágicos. Esperemos, portanto, que traga leitores que de outro modo não a leriam.

Joana Afonso - Desconhecia, mas no meio das que se encaixavam mais na minha ordem de trabalhos, foi aquela que me agradou mais, gosto de cenários mais bucólicos e campestres.


As Leituras do Pedro - Se a escolha fosse livre, sem limitações, que obra gostavam de adaptar?

Carina Correia - Faço frequentemente essa pergunta a mim mesma. Ainda não sei dizer. Mas há várias que se prestariam a boas adaptações.

Joana Afonso - Dentro da lista que existia? Se sim, talvez A Dama Pé de Cabra. Se não existisse lista e eu pudesse escolher, seria complicado, pois, numa primeira impressão, acho que já adaptei o clássico que me diz mais, o Auto da Barca do Inferno.


As Leituras do Pedro - Como se adapta uma obras destas a BD? Quais as principais dificuldades?

Carina Correia - A constante necessidade de escolher, de tomar decisões, de saber se serão as mais correctas. Mas convém não esquecer que foi a minha estreia, portanto acredito que tenha sido mais difícil. Contudo, paradoxalmente, também mais prazeroso.

Joana Afonso - Neste caso, foi a quantidade de informação que tinha de estar presente em cada página (seja em forma de texto, como a nível de sequências visuais). Em certas alturas era um autêntico puzzle e tetris e tudo junto. Havia alturas que gostaria de ter divagado mais no desenho e na composição das páginas, mas não existiu muito espaço para isso. A abordagem teve de ser mais prática, tentando ser o mais funcional possível.


As Leituras do Pedro - Como foi o vosso processo de trabalho?

Carina Correia - Foi uma comunicação sempre limpa de mal-entendidos. Ou seja, um vaivém eficaz e claro no que pretendíamos.

Joana Afonso - Daquilo que me lembro, inicialmente, a Carina foi partilhando o texto e ajudando nas descrições das personagens, de forma a eu poder fazer alguns desenhos de personagens inspirados nessas informações. Fomos trocando impressões relativamente ao aspecto dos intervenientes, lugares e alguns pormenores, e mais tarde, quando o comecei a legendar, existiram acertos para reduzir a mancha de texto. Assim, existiu sempre diálogo para fazer o melhor trabalho possível.


As Leituras do Pedro - Que expectativas têm?

Carina Correia - Eu, que sou aquela pessoa que acha que é a expectativa que move o mundo, para o bem e para o mal, mentiria se dissesse que não tenho expectativas. Uma muito pessoal e interior já está cumprida, que era a de experimentar e começar a aprender a fazer uma adaptação para banda desenhada. Depois, há uma expectativa mais direccionada para o exterior, que é o simples desejo de que os leitores gostem do livro, percepcionem a sua essência, e não dêem o seu dinheiro por mal gasto. Quantas vezes não dizemos após uma leitura: «mal-empregado dinheiro». Pois, seria bom que não.

Joana Afonso - Neste momento, ainda não sei muito bem. Ainda nem consegui folhear o livro. Mas espero que vá às expectativas do público.



As Leituras do Pedro - Qual a importância de uma colecção como esta?

Carina Correia - Mesmo que se argumente que uma adaptação nunca é como ler o livro original, a verdade é que pode não ser assim, pois há adaptações incríveis. Esta colecção, recheada de bons argumentistas e desenhadores, tem tudo para permitir que estes clássicos sejam lidos e honrem o que os nossos escritores um dia sentiram e registaram.

Joana Afonso - Julgo que esta colecção, bem como o trabalho de muitas outras adaptações para banda desenhada, pode ser um bom veículo para chegar a outros públicos, e quem sabe, fomentar o gosto pela leitura desta arte. Pelo menos tenho essa esperança.


(imagens disponibilizadas pela Levoir e Joana Afonso; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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