16/06/2012

Sobrevida na Mundo Fantasma

Data: 16 a 28 de Junho de 2012
Local: Galeria Mundo Fantasma, loja 509/510, Centro Comercial Brasília, Avenida da Boavista, 267, Porto
Horário: de 2ª a sábado, das 10h às 20h: Domingos e feriados, das 15h às 19h









A Exposição
Abrirá ao público hoje, dia 16 de Junho de 2012, pelas 17H00, com a presença dos autores, a exposição, ao mesmo tempo que será lançado o livro, “Sobrevida” de Carlos Pinheiro e Nuno Sousa.
Dizem que a Sobrevida é a existência – ou coisa parecida – de quem já não vive neste mundo, mas ainda não encontrou o seu rumo. Da vida real apenas conserva a semelhança. Alimenta-se das suas imagens (venera-as, são o seu amuleto), ronda-as em círculos a cada volta mais distantes do centro.
A Sobrevida, diz-se, é uma espécie de revivescência – sensação de vida.
Espíritos, espectros, almas penadas perseguem aquilo que já foram, podiam ter sido ou virão a ser (para sempre, nunca mais).
Diz-se que da Sobrevida apenas podemos conhecer aquilo que se conta. Diz-se muita coisa e tudo é insuficiente (ainda).
De qualquer forma, já cá não está quem falou. 

Os autores
Nuno Sousa e Carlos Pinheiro
Licenciados em Escultura pela FBAUP. Membros fundadores do colectivo artístico «Senhorio» desde 2004, produziram e publicaram vários fanzines ligados à área do desenho, bd e ilustração: «Barba», «Pingue», «Busto», «Mister», «Não me contes o fim – Eles morrem todos!», «A fome faz sair o lobo do mato», «Golden Retriever» e «Formigueiro». 
Nuno Sousa integra como compositor, letrista e intérprete os projectos musicais Stowaways, Sr. Doutor e ainda João Peludo e a Orquestra Sonâmbula. Docente da disciplina de Desenho na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e de Projecto I na Licenciatura de BD/Ilustração na ESAP Guimarães. 
Carlos Pinheiro trabalha actualmente com a galeria MCO – Arte Contemporânea, Porto, e Galeria Magda Bellotti, Madrid. Realizou capas para os álbuns «Huntclub» dos Stowaways e «We're metal and fire in the players of time» dos Alla Polacca. Lecciona a disciplina de Desenho na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo. 

O livro
Publicação de natureza híbrida, concilia de forma admirável o desenho com a narrativa sequencial. Carlos Pinheiro trabalhou a sua parte a preto e branco, num desenho texturado e solto, e Nuno Sousa utiliza abundantemente a cor, para criar uma obra intensa em que poesia e metáfora se conciliam para abordar a realidade. 

Quem edita
A Imprensa Canalha é um projecto editorial independente criado em 2006 que se propõe publicar material de natureza essencialmente gráfica. Partindo de uma lógica independente de produção e distribuição, a Imprensa Canalha tem como propósito optimizar gradualmente as suas publicações sem perder de vista as suas premissas enquanto meio alternativo de expressão artística e comunicativa. Sobrevida é a sua 16ª publicação, que conta no seu catálogo com edições muito diversas, desde dvds a fanzines ou livros de serigrafia, com a colaboração de autores como André Lemos, Adolfo Luxúria Canibal, Filipe Abranches, Luís Henriques, Artur Varela e muitos outros. 

(Texto da responsabilidade da organização)

15/06/2012

Lorna - Heaven is here











Brüno
Glénat/[treizeétrange] (França, 30 de Maio de 2012)
170 x 248 mm, 160 p., preto,branco e laranja, cartonado com sobrecapa
17,25 €



Resumo
Depois do imenso sucesso obtido com Priaps, embora ensombrado por alguns efeitos secundários, o seu inventor é contratado pelo governo para desenvolver Monstrula, um projecto bélico sem precedentes.
Ao mesmo tempo, Henri Luxe-Butol, filho do dono da farmacêutica responsável pela comercialização de Priaps, tenta convencer Tamara da sua paixão por ela.
Só que tudo se complica quando surge uma ameaça extraterrestre consubstanciada por um robô gigante que…

Desenvolvimento
Como o resumo atrás deixa intuir, este livro é um a imensa homenagem aos filmes série B de horror e ficção-científica que tiveram o seu auge nos EUA nos anos 50 e 60. Por isso, não surpreende que Brüno preencha as suas páginas com as mais variadas citações, homenagens e piscares de olho – uns mais facilmente identificáveis do que outros – enquanto nos leva através de uma certa América.
Faltou-me – propositadamente – incluir no resumo acima, que Priaps é um extensor de pénis bem mais eficaz que o Viagra – apesar de alguns preocupantes efeitos secundários que provocaram a completa exaurição dos seus utilizadores - que a bela Tamara Teets é a maior estrela porno do seu tempo, que até tem cotação em bolsa (!), e que o robô gigante, de 40 metros de altura, tem a forma de uma deslumbrante loura… nua.
Ou seja, a par do tom folhetinesco, Brüno dota o seu relato com uma (ligeira) componente (de) porno (chachada), assumindo “uma BD de mau gosto reivindicado” como escreveu alguém, mas a que falta no entanto o toque de génio – que, por exemplo, Tarantino manifestou em Pulp Fiction – para transformar Lorna em algo mais que (simplesmente) uma leitura divertida.
Até porque – em parte devido às muitas referências – o ritmo e a sequência narrativa nem sempre funcionam da melhor forma, embora geralmente Brüno acabe por conseguir retomar o fio à meada e conduzir-nos através dos meandros da sua história, onde ressaltam algumas bem conseguidas sequências mudas e uma planificação bastante variada se bem que de matriz tradicional.
História que, apesar de tudo, como qualquer série B que se preze, apresenta alguns bons momentos, um toque de humor negro, paixões não correspondidas, cenas bem quentes, transformações surpreendentes, a busca do transcendente, alguns tiroteios – e respectivas vítimas, teorias conspirativas, combates épicos de robôs e lesmas monstruosas e um final que deixa tudo em aberto – na cabeça do leitor ou na hipótese de um segundo tomo. 
A reter
- A homenagem aos filmes série B.
- O traço de Brüno, simples, plano, depurado de pormenores, dinâmico, legível e que ganha bastante com a aplicação da terceira cor (laranja).

Menos conseguido
- A forma menos eficaz como Brüno geriu o excesso de referências, ressentindo-se disso o ritmo narrativo.



14/06/2012

Tex - Edição Histórica #81

A Flor da Morte












Gianluigi Bonelli (argumento)
Guglielmo Letteri (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Novembro de 2011)
135 x 175 mm, pb, 162 p., brochado
R$ 13,90 / 7,00 €





1.       Esta é uma aventura de Tex atípica, para não escrever mesmo de todo invulgar.
2.      Desde logo porque ao longo dela, o ranger não dispara um único tiro, nunca empunha uma arma, não anda à pancada com ninguém, não persegue facínoras em longas cavalgadas, não defronta índios nem mexicanos…
3.      Mais ainda, porque Tex está ausente de 49 das suas 149 pranchas (cerca de 33% do relato) e não tem qualquer influência – bem pelo contrário - no desenlace final.
4.      (O que justifica a sua omissão nas imagens que escolhi para ilustrar este texto).
5.      Depois, pela forma bastante invulgar em Tex, como o argumentista introduz a história, numa página de vinheta única, em que afirma tratar-se de um acontecimento real que lhe teria sido contada por alguém.
6.      Em acréscimo ao que já não era pouco, grande parte do relato assume um tom “científico”, com enunciação de hipóteses e realização de experiências para as confirmar (ou não) – no contexto da época, bem entendido - com El Morisco a surgi como protagonista na avaliação da origem da ameaça, o que faz de Tex e dos seus habituais companheiros pouco mais do que meros figurantes em mais um significativo trecho do relato.
7.      Finalmente, porque esta estranha história – originalmente datada de 1974 – tem na sua origem uma forma de vida extraterrestre, que chega ao território do Arizona num meteorito, logo no seu início, e assume o papel de ameaça que Tex vai combater.
8.     Desta forma, quanto mais não seja pelo seu invulgar tema e pelo atípico desenvolvimento, já se justifica a leitura de “A flor da morte”.


13/06/2012

Rocher Rouge #2

Kwangala Connection











Eric Borg (argumento)
Renart (desenho)
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 227 mm, 128 p., cor, cartonado
16,00 €

Resumo
A aguardada continuação de Rocher Rouge, iniciado em 2009 com uma escapada de um grupo de jovens para uma ilha deserta paradisíaca, que se transformou em horror e massacre.
Agora, descobrimos que Eva e JP escaparam ao seu destino e estão apostados em vingar-se de forma cruel e atroz dos seus carrascos de então.

Desenvolvimento
Este livro – melhor, o primeiro tomo desta série – tem para mim um significado especial. Foi devido à sua leitura – à necessidade premente que senti de partilhar essa experiência com outros - que este blog nasceu.
Não terá sido propriamente a primeira pedra de As Leituras do Pedro – porque a ideia então já há germinava há algum tempo - mas antes uma espécie de gota que fez transbordar o copo e deu o impulso de que eu necessitava.

A acção deste segundo tomo – possível mas não obrigatório face ao desfecho do primeiro – começa poucos dias depois do seu trágico final. A ligação estabelecida por Borg – que nasce logo na capa, que retoma uma das imagens fortes do primeiro livro - é credível e consistente. Pistas que aparentemente não o eram revelam o seu significado, sinais espalhados pelas últimas cenas ganham uma nova leitura.
Ao mesmo tempo, o âmbito da acção alarga-se. São reveladas ligações entre o tráfico de órgãos humanos com origem na tal ilha e o governo estabelecido de Kwangala, introduzem-se novas personagens e descobrimos que a terrível experiência vivida pelos seis jovens amigos afinal deixou dois sobreviventes, JP e Eva.
Que, de regresso à ilha, vão encontrar os seus algozes e devolver, com redobrada violência e atrocidade, mais do que aquilo que sofreram, em páginas com sangue a rodos que justificam o epíteto de terror que esta BD pode facilmente ostentar, reforçado pelo clima de tensão e a ansiedade que perpassam por muitas das suas páginas.
Só que, quando pensávamos que tudo tinha já terminado – mais uma vez – Borg tem o condão de nos voltar a surpreender, com um inesperado desenvolvimento que – e esse é o ponto mais fraco deste díptico – culminará de forma elíptica à boa maneira dos filmes de terror série B.
Neste regresso a Rocher Roug,e Borg abandona a parceria com Sanlaville (ou terá sido o contrário?), surgindo Renart como responsável gráfico da obra.
Da inevitável comparação com o primeiro tomo, se em termos de cores pouco ou nada há a dizer – pois continuam vivas, intensas e fortes, embora menos planas, perfeitamente justificadas pelo clima tropical e exótico em que a acção decorre – em termos de desenho senti algumas saudades.
O traço de Sanlaville era sensual, expressivo, preciso, quase uma linha clara um pouco distorcida.
Agora, Renart, se mantém uma planificação dinâmica e ágil – embora lhe faltem as mudanças bruscas de pontos de vista que Salanville impunha com a utilização de ousados picados e contrapicados - e apresenta um grafismo mais solto, também revela um traço menos pormenorizado, menos expressivo (, menos seguro…?), mais próximo do esboço, o que nalgumas cenas acaba por ter o efeito contrário ao desejado, diluindo num todo mais impreciso os pontos fulcrais das cenas que deveriam ter mais impacto.

A reter
- As boas recordações que este livro despertou em mim, pelo significado de Rocher Rouge na génese deste blog.
- A perfeita ligação que Borg estabelece entre a acção dos dois tomos.
- O ritmo elevado e o alto nível de suspense que se mantêm…

Menos conseguido
- … apesar do final algo simplista, daqueles que se utilizam quando não se sabe bem o que fazer …
- … e da menor espectacularidade gráfica deste volume, em perda na inevitável comparação com o tomo original.


12/06/2012

Spirou – QRN sobre Bretzelburgo












Franquin (argumento e desenho)
Greg (argumento)
ASA (Portugal, Maio de 2012)
215 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado
13,90 €


Resumo
Em busca de Fantásio, raptado por engano, Spirou parte para Bretzelburgo, um pequeno país que vive sob uma ditadura militar.

Desenvolvimento
Como muitos da minha geração, dei os primeiros passos aos quadradinhos com as revistas Disney e da Turma da Mônica e também com os álbuns de Astérix e Lucky Luke. Com estes, de certa forma, a BD franco-belga – minha principal futura referência - marcava terreno. Tintin, viria mais tarde. Spirou, também, mas em álbuns de Fournier – longe, portanto, dos seus melhores períodos – pelo que nunca constituiu para mim uma série de eleição.
Claro que, anos depois, descobri os álbuns escritos e desenhados pelo genial Franquin - muitos dos quais verdadeiras obras-primas que continuo a reler com deleite – assentes num humor delicioso, um imaginário fantástico e um magnífico sentido de aventura – sempre combinados em doses diferentes - mas já era tarde para que o groom e o seu colérico amigo Fantásio me pudessem marcar emocionalmente, limitando-se – e não é pouco – a uma forte impressão mais racional.

Este “QRN sobre Bretzelburgo” é uma daquelas jóias. Criado por Franquin – com uma mãozinha de Greg – logo após o magnífico interlúdio “Bravoles Brothers”, de certa forma arranca no mesmo tom humorístico, com um longo e irresistível gag em torno de um mini-rádio.
Este fará a ligação para a trama central, em que (aparentemente) predomina a aventura, narrada em ritmo acelerado, de cortar a respiração, com o foco da acção a saltar alternadamente entre os acontecimentos protagonizados em locais e condições diferentes por Spirou e por Fantásio, com uma assinalável mestria narrativa.
Mas, a este mote aventuroso - e por isso incluí atrás aquele “aparentemente” – sobrepõe-se e predomina neste álbum um tom profundamente irónico pois, a reboque daquele pretexto, Franquin e Greg aproveitam para ridicularizar não só os regimes totalitários – e na época eles eram muitos… - e as suas bases – militarismo, tortura, espionagem, delações, opressão… - bem como tudo aquilo que a eles possa ser de alguma forma associado, nem que isso seja a resistência, a luta pela liberdade ou as aspirações (legítimas) dos oprimidos, numa surpreendente subversão de uma banda desenhada grande público que era publicada numa revista infanto-juvenil…!

A reter
- A ironia, a mordacidade, o sarcasmo e o humor com que a dupla de autores retrata uma ditadura e os seus efeitos colaterais (como se diria hoje).
- O dinamismo e a agilidade do traço nervoso e expressivo de Franquin.
- A oportunidade da edição da ASA, repondo um título que entre nós tinha tido uma única edição – da Arcádia - há 35 anos.



11/06/2012

John Carter - Una Princesa de Marte











Roger Langridge (argumento)
Filipe Andrade (desenho)
Panini Comics (Espanha, Maio de 2012)
170 x 260 mm, 110 p., cor, brochado com badanas
13,95 €


Resumo
Este tomo compila os 5 números da mini-série “John Carter – A Princess of Mars”, baseada na obra original de Edgar Rice Burroughs.
Nela, John Carter, um soldado do tempo da guerra civil norte-americana, vê-se transportado para o planeta Marte, onde descobrirá estranhos habitantes que terá que defrontar e vencer para poder ficar com a bela princesa Dejah Thoris.

Desenvolvimento
Se não quero repetir o que já escrevi em textos anteriores a propósito do arranque da mini-série, da estreia do filme e da tripla edição desta obra, a assinatura de Filipe Andrade no desenho justifica, para mim, voltar uma vez mais a este John Carter. Até porque – já o disse – foi uma história que me marcou na adolescência.
E a primeira constatação que a leitura deste tomo despertou em mim, foi quão diferente é acompanhar a edição em mini-série (mesmo que se faça a leitura dos números de seguida) ou num único volume. Porque este – felizmente - está desprovido da (muita) publicidade que existe nos comics norte-americanos, que quebra e retira ritmo à leitura. Não que eu não entenda o seu propósito – até a sua necessidade, como forma de rentabilizar (de tornar possível?) essas edições, mas ela é uma das razões fortes para o divórcio quase total existente entre mim e os comics.
Assim, a actual leitura, permitiu (re)descobrir pontos fracos e fortes desta adaptação – díspar de outras existentes - com liberdades necessárias para a tornar credível aos olhos dos leitores de hoje, sem desvirtuar o essencial do maravilhoso e do fantástico do original de Burroughs.
Entre os primeiros, contam-se algumas omissões no argumento – que poderão ser preenchidos para quem já estiver familiarizado com a trama desenvolvida por Burroughs, mas levantar algumas dúvidas aos restantes leitores – relativas à organização das sociedades marcianas com que John Carter interage e as escassas informações sobre o seu passado.
Quanto aos pontos fortes – que superam os fracos – em termos gráficos, se o mais saliente é o dinamismo e a agilidade do traço esguio e singular de Filipe Andrade - realçado pelo preto e branco das pranchas aqui reproduzidas, embora estejam coloridas no livro - há que lhes acrescentar também a diversidade da planificação e a qualidade das cenas de acção.
Em termos de argumento, veja-se como Langridge conseguiu tornar actual uma história já com um século e a forma como gere os diversos momentos, alternando a intensidade e o tipo das cenas e algumas surpresas, para dotar o relato com o ritmo que pretende e conquistar o leitor.
Para o que também contribui entrada directa na acção que, se pode surpreender o leitor incauto, ajuda a aumentar o seu interesse, usando depois o argumentista diversos flashbacks para explicar ao leitor como Carter chegou a Marte, enquanto desvenda (apenas) um pouco do seu passado.

A reter
- Encontrar Filipe Andrade – à custa da sua perseverança, do seu trabalho e do seu talento – neste patamar, a este nível, com uma obra com este mediatismo disponível em Espanha, França, Estados Unidos…
- A qualidade da edição espanhola, superior - em tamanho e qualidade de papel – à original americana, que sem ser luxuosa propõe aos leitores um belo livro.

Menos conseguido
- A inexistência de uma Panini (ou de alguém que realmente a represente) em Portugal o que, aliado à falta de sentido de oportunidade, de rasgo (, de capacidade financeira?) das editoras nacionais, impediu uma edição similar em português – nacionalidade do desenhador, recorde-se – que, a reboque do filme da Disney, seria uma boa aposta editorial e mais uma oportunidade para mediatizar a banda desenhada entre nós.


10/06/2012

As Estantes do Pedro (IV)










Após algumas semanas de interregno, devido a temas mais urgentes, retomo as minhas estantes…
Desta vez, apenas dois conjuntos de prateleiras, com livros de “pequeno formato” (até 24 cm!) e, por arrastamento, as edições de obras de alguns autores – Étienne Davodeau, Miguelanxo Prado, Frank Miller e Lewis Trondheim.

09/06/2012

Cirandara











O Espaço Estúdio e Cirandara têm o prazer de vos convidar para a inauguração da exposição de banda desenhada de Sónia Oliveira, no próximo Sábado, dia 9 de Junho, às 17 horas na Praça da República, 122, em Nisa, Portalegre.
Contamos com a vossa presença. 

(Texto da responsabilidade da organização)

08/06/2012

Les Tours de Bois-Maury #15 – Oeil de Ciel








  



Yves H. (argumento)
Hermann (desenho)
Glénat (França, 9 de Maio de 2012)
215 x 293 mm, 48 p., cor, cartonado
11,50 €


 
Resumo
1660, província do Yucatan, México.
Um grupo de homens, exaustos, feridos, famintos, avança pela floresta densa e luxuriante. São os poucos sobreviventes de uma expedição espanhola, dizimada pelos sucessivos ataques dos índios. Para lá de uma dúzia de solados, encontramos um padre e um francês, este último um descendente do senhor de Bois-Maury.
Enquanto os primeiros querem a todo o custo encontrar o caminho de regresso e o padre só pensa em impor a sua fé aos índios, Bois-Maury anseia por encontrar uma suposta cidade perdida, feita de ouro e jóias.

Desenvolvimento
Quase a atingir a centena de álbuns – número ainda mais impressionante se considerarmos a escola clássica de que é oriundo e a superior qualidade do seu traço – Hermann consegue mesmo assim surpreender-nos e deslumbrar-nos obra após obra.
Porque o seu traço – aos 74 anos! – se não está cada vez melhor – fasquia que é difícil de estabelecer – pelo menos continua ao mais alto nível, sendo notável a destreza com que alterna os ambientes em que se movem as suas personagens, de cenários urbanos para mundos pós-apocalípticos, do tempo medieval para a selva virgem em que se desenrola este Oeil de ciel.
Que Hermann retrata como (muito) poucos, num sublime jogo de luz e sombras, com estas últimas omnipresentes, cobrindo tudo e todos, brilhe o Sol no céu ou esteja a Lua no seu lugar, num mundo que a folhagem cerrada priva de luz directa. Mas, mesmo nessa penumbra constante, Hermann, regressado à cor directa, baseado numa gama limitada de tons verdes e cinzentos, consegue dar uma imensa legibilidade em qualquer momento do dia.
(Para próximo do final, num momento de pura magia, quando Bois-Maury chega às portas da cidade sonhada, quase nos cegar com o mesmo brilho intenso com que o protagonista se depara, em duas pranchas em que predominam os tons laranja).
Pela extensão do texto, pelos muitos elogios que já fiz, facilmente se percebe que – mais uma vez – a estrela desta obra é Hermann. O que não invalida que o seu filho, Yves H., tenha tido, pelo menos, a capacidade de criar uma história à medida do talento do pai.
Uma história simples e linear, é verdade, sem grandes surpresas, construída de forma competente, embora com personagens tipificadas e de comportamento espectável, mas que se lê com agrado. Uma história em que a avidez dos conquistadores brancos choca com a simplicidade dos indígenas, em que o absolutismo da fé católica, tantas vezes caindo no absurdo, encontra dificuldade em se impor e em que a avidez se sobrepõe ao bom senso e aos princípios. 

A reter
- Hermann. Hermann e a sua arte. Bela, magnífica, sublime, mesmo que, possivelmente, o papel e a impressão – a que nada há a apontar - não lhe façam justiça completa…


Menos conseguido
- A tipificação e alguma previsibilidade do argumento, que Hermann resgata com a sua arte.
- O país em que vivemos – com as editoras, leitores, distribuidores, livrarias, divulgadores que temos… - que foi capaz de desperdiçar a oportunidade – que gozou durante anos – de publicar em português, em simultâneo com a edição original, cada nova obra do mestre Hermann.



07/06/2012

Sin City - Inferno, Ida e Volta












Frank Miller
Devir (Portugal, Maio de 2012)
160 x 260, 320 p., pb e cor, brochado com badanas
29,90 €


Resumo
Wallace, ex-combatente que tenta ganhar a vida como desenhador, salva Esther após esta se ter tentado suicidar, apaixonando-se de imediato por ela.
O seu rapto vai levá-lo a mover céu e terra para a encontrar e a descobrir muitos dos podres da “cidade do pecado”.

Desenvolvimento
O rapto de Esther é o pretexto que Miller utiliza para nos arrastar em mais uma longa investigação, com os excessos gráficos e narrativos que são também a imagem de marca de Sin City e sem os quais a série não seria a mesma e não teria chegado onde chegou, com o protagonista a ter que enfrentar polícias corruptos e organizações criminosas poderosas, recorrendo aos seus antigos companheiros de armas, o que transformará as ruas escuras de Sin City num autêntico campo de batalha, onde o sangue jorra a rodos e não há quartel nem piedade pelos feridos. Apesar de, no fundo, o relato (ser anunciado e) não passar de uma forte história de amor…!
Que Miller nos vai desvendando aos poucos, apesar do ritmo elevado que lhe imprime, e na qual vamos encontrar ou entrever muitas das personagens – e mesmo alguns momentos – que marcaram as páginas de volumes anteriores, pelo que este tomo final (até ver, há notícias do regresso de Miller a Sin City) serve também, de alguma forma, de (auto)celebração e de consolidação de um (imenso) universo que, apesar das suas bases tradicionais – o policial negro, puro e duro – revolucionou este registo nas páginas aos quadradinhos e é uma série de referência incontornável.

A reter
- Nove anos depois do primeiro, a Devir completa a edição de Sin City. A prova de que em Portugal também se completam colecções de BD.
- E fá-lo com um belo livro-objecto, pesado e volumoso, com a BD complementada com as capas originais e homenagens de outros autores, mas que merecia uma capa mais chamativa.
- Apesar de alguns desequilíbrios no conjunto da narratuva, a forma como Miller encaixou neste tomo algumas personagens e situações exploradas noutros contos da cidade do pecado.
- Algumas pranchas – belíssimas – contidas neste grosso volume, com sublimes contrastes de branco e negro, que justificam à saciedade o génio gráfico de Miller e um dos aspectos em que assenta o sucesso de Sin City…

Menos conseguido
- … a par de algumas das piores pranchas que Miller se atreveu a rabiscar, às quais nem o apertar dos prazos ou a saturação do trabalho pode valer de desculpa…
- … e as pranchas 184 a 209, a sequência da alucinação provocada pela droga, integralmente a cores (com algumas curiosas homenagens a outras séries de BD), que mostra, a quem de tal precisasse, porque tem Sin City que ser a preto e branco – ou quando muito com a utilização pontual e cirúrgica de uma cor.


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