03/12/2010

Sin City – Valores familiares

Frank Miller (argumento e desenho)
Devir (Portugal, Junho de 2010)
168 x 258 mm, 128 p., pb, cartonada com badanas

Resumo
Dwight McCarthy e Miho mergulham no lado mais sórdido de Sin City para descobrir quem esteve por trás do assassínio da noite anterior, que vitimou uma figura política proeminente. Mas não só…
E uma vez descoberto o mandante, uma violenta vingança tem lugar…

Desenvolvimento
Sin City é a Cidade do Pecado. Uma cidade de contrastes – a começar pelo sublime preto e branco com que Miller a traça, embora neste volume o desenho surja mais esboçado, menos definido; mas em cujas pranchas, maiori-tariamente negras, o branco continua a rasgar, a cortar, a ferir os olhos, seja pela brancura imaculada da neve ou pelo sangue que jorra de feridas abertas à bala, mãos cortadas, cabeças decepadas. Pranchas que impressionam, que marcam, que surgem aos nossos olhos contidas ou espectaculares, ímpares, antológicas.
Sin City é uma cidade de contrastes, escrevia eu, onde convivem ricos e pobres, moralistas e prostitutas, políticos e cidadãos honestos, polícias e gente que respeita a lei, assassinos e quem os manda matar, oprimidos e opressores, amor e vingança, ternura e violência, sangue e carne rasgada, realismo e ficção, o crível e o incrível, artes marciais e força bruta, longas perseguições automóvel e diálogos tensos, poucas palavras e muita acção.
Sin City é – todos o sabem com certeza – um policial negro – mesmo muito negro… - com histórias breves, não originais mas narradas de forma originalíssima, estereótipos sim, mas fortes e bem construídos, onde não sendo sempre tudo aquilo que parece, no final, apesar de tudo, um certo sentido de justiça impera.
Histórias breves e fugazes que deixam impressão dura e duradoura, pela forma como são prolongadas ao longo de dezenas de páginas que decompõem em muitos momentos a acção que impera e galopa desenfreada, juntamente com a adrenalina que corre a rodos – nos protagonistas e em nós, leitores…
Por isso, finalmente, Sin City é o local onde todos um dia quisemos morar – mesmo não concordando com os princípios que a regem, mesmo temendo, abjurando a violência que a protagoniza – pela possibi-lidade de, por uma vez, tratar com os métodos de McCarthy ou Marv, os incom-petentes que nos rodeiam, os bancários e banqueiros fraudulentos, os políticos corruptos que nos governam, os animais (de duas pernas) à solta nas nossas ruas…
Por isso – ainda – Sin City é uma banda desenhada de eleição, para ler e reler, para reter, demorar o olhar, mas com moderação.

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