Maria José Pereira: “Astérix está associado ao nascimento do meu filho”
“Tenho muitas histórias "curiosas" em relação ao Astérix, mas a edição de que guardo maior memória, é a do título “A Rosa e o Gládio”.
Era a primeira novidade que Portugal lançava em simultâneo com todos os outros países da Europa, incluindo a França, e era um privilégio poder trabalhar nela a partir da tradução. Estávamos no Verão de 1991 e tanto eu como a Paula Caetano - há vários anos que traduzimos juntas os livros do Astérix -, estávamos grávidas.
O nervosismo era grande: tínhamos muito pouco tempo para fazer a tradução - o livro tinha lançamento mundial em Outubro - e estávamos no final de Julho quando trabalhámos os textos. Faltava cerca de um mês para ter o livro pronto para ir para a gráfica (e ainda faltava aprovar a tradução e passar o texto ao legendador, para que o legendasse manualmente).
Hoje, quando olho para nós em retrospectiva, vejo-nos amarelas, olheirentas, enjoadas, com as cabeças a tentarem sobressair no meio de imensas nuvens de fumo. Trabalhávamos a três num gabinete, e a nossa colega de espaço acendia o cigarro no cigarro que ia apagar. Circundavam-nos imensos dicionários e livros para consulta.
Enviado o livro para a gráfica, começámos, na editora, a preparar a campanha de comunicação e os contactos com os jornalistas pois tínhamos acordado com a editora francesa que o Sr. Uderzo faria o lançamento da obra em Portugal, um dia ou dois depois do lançamento em França.
Sei que preparámos tudo e que, a poucas horas de sair do escritório para o aeroporto, a minha chefe da altura, a Natália Severino, me chama e me diz: "Senta-te. A notícia que tenho para te dar não é das mais agradáveis. Acabei de receber um telefonema de França e o Sr. Uderzo não pode vir a Portugal fazer o lançamento do álbum. Adiou a viagem".
Estava no sexto mês de uma gravidez de risco e tinha passado os últimos três meses em noitadas de trabalho e em stress contínuo. Olhei para a Natália e disse-lhe: "Telefona por favor ao meu marido, estou a sentir-me mal e tenho de ir ao hospital".
Fui para a maternidade e "ganhei" direito a ficar em repouso absoluto até a criança estar em condições de nascer, o que aconteceu no final de Novembro. E lembro-me de estar em casa a ouvir, na rádio (em Dezembro?) a notícia da presença entre nós do Sr. Uderzo, com quem não pude estar nessa altura.
E assim, o trabalho na minha primeira "novidade mundial" Astérix estará, para sempre, associado ao nascimento de um filho”.
A propósito dos 50 anos de Astérix em Portugal leia também:
- Astérix, 50 anos em Portugal (I)
- Tónius, o Astérix português
Olá Pedro!
ResponderEliminarBom post este!
Estiveste bem!
:)
Abraço
Olá Bongop,
ResponderEliminarObrigado, faço por isso...! Mas nem sempre acerto...
Abraço
Boff... claro que acertas!
ResponderEliminarO que pode não interessar a um, interessa a outro! Apenas temos de variar, para isto ser uma salada de gostos!
:D
Abraço